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Quão corrupta é a Alemanha?

(as)20 de julho de 2005

Os escândalos de corrupção retratados pela imprensa levam especialistas, ONGs e jornalistas a tentar encontrar uma resposta para a pergunta que muitos alemães se fazem.

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Matérias esportivas pagas no canal de televisão ARD, empresas de fachada e "viagens de lazer" na Volkswagen, propina na fabricante de chips Infineon – não faltam motivos para os alemães se perguntarem qual o grau de corrupção da sociedade em que vivem. Ainda assim, o mais recente levantamento da ONG Transparência Internacional afirma que há apenas 14 países no mundo menos corruptos do que a Alemanha.

O professor alemão Johann Graf Lambsdorff, responsável pelo ranking da Transparência Internacional, lembra que a corrupção não provoca apenas manchas na imagem das empresas, mas também perdas financeiras para a sociedade. Segundo ele, se a Alemanha estivesse no patamar da Finlândia, a primeira colocada no índice da ONG, os rendimentos dos cidadãos alemães seriam 6% maiores.

Menos delitos registrados

Assim como no Brasil, é difícil dizer se a corrupção é hoje maior ou menor na Alemanha. A considerar os mais recentes números do Departamento Federal de Investigação (BKA, espécie de FBI germânico), em 2003 os alemães foram até mais limpos, corretos e honestos do que em 2002.

Das Bundeskriminalamt in Wiesbaden
Sede do BKA em WiesbadenFoto: dpa

O número de processos judiciais por corrupção registrados pelo BKA caiu de 1683 para 1100 de um ano para o outro. Foi a primeira queda em vários anos. Ainda assim, é um número alto se comparado com décadas passadas: em 1994, apenas 258 processos foram registrados.

No mesmo relatório está o número de delitos de corrupção registrados. Em 2003, foram 7232 casos, queda de 12,7% em relação a 2002. Nessa estatística, a tendência ao longo dos anos tem sido de queda. Em 1994, por exemplo, foram registrados 11.241 delitos de corrupção.

Pergunta sem resposta

Mas é o próprio BKA que adverte: as estatísticas anuais favoráveis não devem ser consideradas como um sinal de que a corrupção está diminuindo. A prática mostra que muitos casos são investigados durante mais de um ano, e um fator determinante nos números finais é a quantidade de pessoal que a Polícia coloca para combater a corrupção – menos casos registrados pode significar apenas que a Polícia se ocupou mais da investigação de outros crimes.

O vice-presidente da Transparência Internacional, Peter von Blomberg, assegura que não é possível saber se a Alemanha é hoje mais ou menos atingida pela fraude do que ontem. "Como apenas uma parte dos casos vêm à luz, todas as perguntas sobre intensidade da corrupção e prejuízos causados por ela caem no vazio", afirmou em entrevista ao jornal Süddeutsche Zeitung. Mas, para ele, é certo que a corrupção é hoje percebida com maior atenção e combatida com mais competência.

De cada dia

Leyendecker
Hans Leyendecker, repórter do Süddeutsche ZeitungFoto: dpa

Também no Süddeutsche Zeitung foi publicada uma interessante análise sobre o fenômeno. O artigo escrito por um dos mais respeitados repórteres investigativos da Alemanha, Hans Leyendecker, analisa o tema sob a ótica do cidadão comum, da pequena corrupção do dia-a-dia.

"Muitos de nós (incluindo o autor) são hipócritas que vêm um cisco no olho dos outros e não vêm uma trave no seu. E a maioria de nós pensa apenas em si mesmo. Fraudar o seguro, fazer maracutaias no pagamento de impostos e apresentar recibos de gastos particulares como se fossem de trabalho se transformaram há tempos em esportes nacionais", escreve Leyendecker. Segundo ele, cálculos da associação de seguradoras mostram que mais de quatro milhões de euros anuais são pagos em seguros forjados.

Leyendecker cita ainda o teólogo, filósofo e político do partido social-democrata (SPD) Richard Schröder, que se colocou na pele de um cidadão comum para afirmar as seguintes palavras: "Os políticos devem ser exemplares, mas não ter logo a mim como exemplo. Eu, afinal, não sou um político. Eles são obrigados a buscar o bem comum, enquanto eu me ocupo principalmente dos meus próprios interesses".

Como diz Leyendecker, "nas mesas-redondas da televisão se discute sobre a 'moral dos poderosos', mas na verdade nós sabemos que os nossos políticos e líderes econômicos são muito semelhantes a nós, eleitores e trabalhadores".