Rússia tenta "salvar o que pode ser salvo" na Síria
30 de dezembro de 2012A semana foi movimentada no Kremlin. Neste sábado (29/12), as lideranças russas receberam o enviado especial da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi. Na última quinta-feira, representantes do governo sírio foram recebidos em Moscou.
O governo russo, que desde o início da revolta apoiou claramente o regime do presidente Bashar al-Assad, enviou um convite de negociações até mesmo para a oposicionista Coalizão Nacional da Síria.
"A Rússia compreendeu que não é possível derrotar militarmente os rebeldes sírios", acredita Gerhard Mangott, cientista político da Universidade de Innsbruck. Por esse motivo, Moscou agora está, na opinião do especialista, tentando com todos os meios diplomáticos evitar um "grande desastre", ou seja, a vitória da oposição síria sobre o último aliado da Rússia na região. "Nesse caso a Rússia não passaria a desempenhar mais papel algum no Oriente Médio", acrescenta Mangott.
Regime Assad sem Assad?
A Rússia aposta numa mudança de liderança dentro do regime Assad. Segundo o cientista político, Moscou quer se livrar de seu antigo aliado Assad "antes ontem do que hoje". "Afinal de contas", completou o jornalista libanês Eyad Abushakra, "a oposição deixou claro que, enquanto Assad continuar no poder, não haverá negociações".
Resumindo: Moscou prefere um regime favorável aos russos sem Assad na liderança do que um governo nomeado pela oposição.
"Moscou teme que um governo dominado pela oposição possa se unir ao Catar e à Arábia Saudita contra a Rússia, desestabilizando assim a região russa do Cáucaso do Norte", observa Mangott.
Pouca esperança na solução pacífica
"Com sua insistência em Assad, a Rússia colocou a oposição síria contra si", diz o jornalista Abushakra. Mangott é de opinião semelhante. Por esse motivo, o cientista político avalia a repentina disposição russa de conversar com a oposição como um recado para as lideranças sírias.
Dessa forma, Moscou envia um sinal ao pequeno círculo composto por oficiais de primeiro escalão e membros da inteligência para que, finalmente, troquem Assad por outro membro da equipe de liderança. "Mesmo o governo iraniano, que apoia o regime Assad com armas, não é avesso a essa solução", ressalta Abushakra. "Afinal de contas, o Irã também teme perder influência na região com um fim do regime Assad".
No entanto, Mangott não está convencido de que Moscou irá realmente conseguir "salvar o que pode ser salvo". Ele avalia as chances de uma solução negociada como "muito reduzidas". O ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, advertiu recentemente que a janela de oportunidades para uma solução pacífica está se fechando cada vez mais. Abushakra disse temer que tal janela já tenha se fechado e que o futuro político da Síria seja decidido militarmente, apesar dos esforços da Rússia.
Autora: Naomi Conrad (ca)
Revisão: Marcio Damasceno