Racionamento de água muda paisagem da Califórnia
28 de maio de 2015A seca persistente no estado da Califórnia vem originando medidas drásticas de economia de água. Na penúltima semana de maio, as instituições estaduais reguladoras aceitaram um corte de consumo voluntário proposto pelos agricultores no delta dos rios Sacramento e San Joaquin de 25%, um nível considerado histórico.
A Secretaria Estadual de Água (SWRCB) está também considerando adotar uma política restritiva para a irrigação paisagística. Ela só permite que usuários residenciais e comerciais reguem seus gramados e jardins duas vezes por semana – o que também constituiu a maior restrição no uso do recurso na história do estado.
Em abril, a continuada seca já havia levado o governador Jerry Brown a editar uma portaria de emergência sem precedentes, obrigando os californianos a cortarem seu consumo de água em 25%.
O político admitiu que os 38 milhões de habitantes poderão enfrentar uma certa "dor no coração". No entanto, como esforços voluntários anteriores não tiveram resultado, ele vê na regulamentação compulsória o único meio para alcançar as metas de conservação.
Brown fez esse anúncio em meio a uma faixa de grama seca em Sierra Nevada, a qual estivera coberta de neve desde que foram realizadas as primeiras medições hídricas, na década de 1940.
Desperdício: privilégio de ricos
Os cortes serão proporcionais e ditados pelo gasto prévio. Assim, as cidades notórias como esbanjadoras de água – por exemplo, Beverly Hills – sofrerão restrições maiores.
Segundo o governo californiano, o consumo de água na localidade de luxo, que já chegou a 893 litros diários per capita, terá que ser cortado em 36%. Em comparação, os moradores de Compton – igualmente no condado de Los Angeles, porém bem mais modesta – se limitam a 242 litros por dia no mesmo período.
Na opinião de Madelyn Glickfeld, diretora do Grupo de Recursos Hídricos da Universidade da Califórnia em Los Angeles, a questão é muito simples: "Gente pobre não tem como pagar por um monte de água, portanto tende a ser mais cuidadosa do que os ricos."
Segundo o Departamento de Recursos Hídricos da Califórnia, em média, cerca da metade do consumo urbano de água no estado visa a irrigação paisagística. Essa percentagem pode chegar a 70% na verde Beverly Hills, com suas grandiosas mansões e gramados mais monumentais ainda.
"A grama é o maior desafio para nós", resume Trish Rhay, diretora assistente do Departamento de Obras Públicas de Beverly Hills.
A cidade já restringiu a irrigação residencial a dois dias por semana, antes das 9h00 ou depois das 17h00 e durando no máximo oito minutos.
Na prática, contudo, não é raro encontrarem-se, durante uma caminhada matinal, irrigadores automáticos regando o cimento da calçada, ou riachos de água escorrendo rua abaixo, para os bueiros de Beverly Hills.
A hora do artificial
Por outro lado, cresce o interesse em grama artificial ou plástica – embora algumas associações de proprietários continuem só admitindo vegetação autêntica. Outra opção apresentada é substituir os gramados por plantas resistentes à seca.
O estado começa também a aplicar outras restrições ao consumo hídrico, sobretudo para os residentes de Beverly Hills, incluindo a proibição de reabastecer piscinas, spas e laguinhos de jardim.
Rhay comenta que o primeiro passo é educar os cidadãos sobre a seca. Eles terão que compreender que a reforma no lidar com a água significa que a cidade precisa encontrar soluções próprias e redefinir sua imagem.
No entanto o uso urbano só responde por 10% de toda a água consumida na Califórnia. Mais da metade cabe à agricultura, num estado que é o maior produtor agrícola dos EUA, gerando uma receita em torno de 44 bilhões de dólares.
Embora a diretiva de abril do governador Brown não especificasse cortes para o setor, os fazendeiros do delta dos rios Sacramento e San Joaquin propuseram voluntariamente reduzir em 25% suas quotas hídricas. Em troca, querem garantias de que não haverá cortes adicionais na época do crescimento das plantações, que vai de junho a setembro.
Madelyn Glickfeld chama a atenção para a necessidade de manter o equilíbrio entre poupar recursos e conservar empregos. Ela se diz preocupada com o impacto econômico e com todos aqueles ameaçados de perder o trabalho, de agricultores a jardineiros.