Radicalização de jovens imigrantes preocupa Alemanha
20 de julho de 2016Poucos detalhes são conhecidos sobre o jovem que feriu gravemente quatro pessoas em um trem perto de Würzburg na noite de segunda-feira. De acordo com o secretário do Interior do estado da Baviera, Joachim Herrmann, ele era um requerente de asilo de 17 anos de idade, vindo do Afeganistão, e que vivia na área de Würzburg desde março de 2015 – primeiramente em um abrigo e mais recentemente com uma família.
Herrmann também disse em entrevista coletiva nesta terça-feira ainda não haver indicação de uma ligação direta entre o jovem e o "Estado Islâmico" (EI). Ele pode ser jurado fidelidade ao grupo de forma independente: a polícia encontrou em seu quarto uma bandeira do EI "pintada à mão", juntamente com um texto escrito em pachto sugerindo, como afirmou Herrmann, "que este pode ter sido o caso de alguém que se radicalizou recentemente".
Mas o fato de não haver ligação direta com o autor do ataque não impediu que o EI reivindicasse a responsabilidade pelo ataque, como a milícia islâmica já fez em relação aos atentados recentes em Orlando e Nice.
Recrutamento de refugiados
Radicalização entre refugiados não é um problema novo. A agência de segurança interna da Alemanha (BfV, na sigla em alemão) advertiu no ano passado que refugiados poderiam ser alvo de "salafistas" – termo da agência para os muçulmanos que pregam uma versão ultraconservadora do islã – embora, na prática, muitos se distanciem do EI.
Julia Reinelt, chefe do departamento de assuntos internacionais da Violence Prevention Network (VPN), ONG alemã especializada em prevenção a extremismo e desradicalização de extremistas, concorda que isso aconteça. "Há certamente tentativas de recrutamento [por salafistas], além daquelas registradas pelo BfV", avalia, em entrevista à DW.
Meyer Husamuddin, imã que trabalha em projetos de desradicalização na cidade de Wiesbaden, também acredita que jovens refugiados não acompanhados podem ser vulneráveis à radicalização. "Alguns deles estão em uma situação psicológica difícil, porque seus pais muitas vezes ainda estão em perigo, e talvez as coisas não estejam indo tão bem por aqui", comenta. "Então, pode acontecer que um ou dois deles se tornem uma vítima perfeita para aqueles que querem manipulá-los."
E Husamuddin também observa que os muçulmanos radicais "descobriram que há certas pessoas que são mais fáceis de provocar para que façam determinadas coisas". "Minha impressão no momento é que as redes que tentam recrutar para o Estado Islâmico estão enfraquecidas", acrescentou. "Mas acredito que eles queiram recrutar."
Posição vulnerável
Julia Reinelt acredita ser possível que jovens refugiados não acompanhados sejam mais suscetíveis à radicalização. "Eu diria que eles provavelmente estão mais em perigo do que um jovem que tem uma rede social que funcione bem, que tem pais e pessoas para conversar e que conhece a língua e a cultura", frisa. "Mas se isso realmente leva a um aumento da radicalização entre eles, não podemos dizer neste momento."
Não há dúvida de que o novo afluxo de migrantes traz novos problemas sociais, com que as organizações especializadas em desradicalização apenas começam a lidar. Desde o início de abril, a VPN realiza em Berlim o projeto Al-Manara ("o farol"), oferecendo aconselhamento para menores refugiados não acompanhados – foram cerca de 4.200 dos 80 mil migrantes que chegaram à capital alemã no ano passado.
Lobos solitários
Reinelt acredita que os refugiados não representam um perigo especial. "Um perigo mais imediato é que ataques como o de Würzburg sejam explorados por extremistas de direita, que por sua vez podem incitar ainda mais os extremistas islâmicos", diz.
Ela afirma que os jovens podem se radicalizar muito rapidamente, sem qualquer influência exterior, exceto a da mídia social – o que torna isso algo difícil de se detectar. Mesmo assim, insiste que isso é uma exceção. "Em geral, a radicalização não acontece exclusivamente online. Geralmente há contato com as pessoas na vida real", sublinha. "Mas sabemos que existem exceções, quando pessoas podem se radicalizar muito rapidamente e apenas através da mídia social."
"Eu definitivamente percebi ao longo dos últimos cinco ou seis anos que as pessoas que estão com raiva querem copiar coisas como esta – é muito difícil de lidar com isso", lamenta Husamuddin. "Não é como muitas vezes a coisa é apresentada: alguém se torna mais e mais religioso e, então, se torna um radical. Na verdade, eles convertem de criminosos a terroristas. O que podemos fazer quanto a isso? Só consigo pensar em um método: temos de evitar dar a impressão às pessoas que chegam de que elas não são desejadas ou empurrá-las para as margens da sociedade. Temos de tentar integrá-los a nossas comunidades."