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Recrutamento é "missão impossível" das Forças Armadas alemãs

3 de agosto de 2023

Ministro da Defesa diz que Bundeswehr precisa atrair mais mulheres, pessoas de origem migratória e com ensino superior. Envelhecimento populacional e alto grau de exigência dos candidatos ameaçam estratégia do governo.

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Ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, conversa com jornalistas
"Todos falam de falta de pessoal na Bundeswehr, e ninguém sabe disse melhor do que eu" disse o ministro alemão da Defesa, Boris PistoriusFoto: Marijan Murat/dpa/picture alliance

O ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, reconheceu a dificuldade das Forças Armadas do país (Bundeswehr) para recrutar novos soldados, ao mesmo tempo em que advertiu que elas não devem promover campanhas publicitárias no estilo dos filmes da série Missão impossível para tentar convencer os jovens a buscarem uma carreira militar.

"Todos falam de uma escassez de pessoal na Bundeswehr, e ninguém sabe disse melhor do que eu", afirmou o ministro a jornalistas durante uma visita nesta quarta-feira (02/08) ao centro de recrutamento da Bundeswehr em Stuttgart. "Estamos vendo 7% menos candidatos a vagas neste ano, comparado ao mesmo período do ano passado."

Pistorius, no entanto, disse contar com uma reversão da tendência atual. Ele afirma que os pedidos de aconselhamento profissional visando uma carreira na Bundeswehr aumentaram 16%.

Reforçar o alistamento

A Bundeswehr é uma corporação de adesão exclusivamente voluntária e possui em torno de 183 mil militares, mas ainda luta para preencher suas fileiras, como parte da reorientação política anunciada pelo chanceler federal Olaf Scholz em reação à invasão russa da Ucrânia, chamada por ele de Zeitenwende (virada de época).

A meta é aumentar o número de membros para 203 mil até 2031. O ministro, porém, disse que esse objetivo ainda está sendo analisado, o que pode ser uma indicação de que não seria algo realista.

Na semana passada, o governo adotou uma série de medidas para atrair mais mulheres para a Bundeswehr. O contingente feminino é de menos de 10% do total. 

Pistorius defendeu também o alistamento de pessoas de origem migratória que, segundo afirmou, estão subrepresentadas da Bundeswehr "por diversas razões."

Perda de pessoal

A Bundeswehr também enfrenta desafios para conseguir manter seu contingente, com uma taxa de desistência de 30% durante a fase de treinamentos. "Isso se deve às expectativas e ao gerenciamento dessas expectativas, talvez com erros de percepção, e casos individuais com exigências demasiadamente altas", disse Pistorius.

Ele sugeriu que a publicidade da Bundeswehr para atrair novos membros deve ser mais realista, e não algo parecido com um filme da série Missão impossível.

No ano passado, a Bundeswehr lançou uma nova campanha publicitária que chegou a ser criticada. Vários dos pôsteres e vídeos exibiam caças, paraquedistas, submarinos e outras áreas especializadas, assim como equipamentos que somente uma fração dos recrutas chega a utilizar.

Pistorius observou que as novas gerações priorizam o equilíbrio entre trabalho e qualidade de vida, o que pode gerar alguns questionamentos entre os potenciais interessados em uma carreira militar.

O envelhecimento da população também gera alguns desafios ao recrutamento militar, uma vez que a procura costuma ser por pessoas mais jovens no início de suas vidas profissionais. Essa questão também gera escassez de funcionários em diversas setores da indústria alemã.

Lentidão e burocracia

"Até 2050, teremos 12% menos cidadãos na faixa etária de 15 a 24 anos", disse Pistorius. Ele recomendou novos esforços voltados para o recrutamento de pessoas com formação acadêmica, o que é um tema espinhoso para muitos na Alemanha.

Os problemas enfrentados pela Bundeswehr ficaram ainda mais evidentes quando uma integrante de uma Comissão Parlamentar que avaliou as Forças Armadas afirmou que elas possuem "muito pouco de tudo" e que suas instalações estavam em "estado lamentável".

A parlamentar Eva Högl relatou ter visitado alojamentos onde não havia conexão de internet, além de banheiros sem condições de uso. Apesar de Berlim ter dedicado um orçamento especial de 100 bilhões de euros (R$ 525 bilhões) para a reforma e modernização das Forças Armadas, Högl diz que nada disso foi gasto em 2022 em razão e um processo de tomada de decisão lento e burocrático.

rc/bl (dpa, AFP)