Recuperação do PT no Sudeste foi crucial para Lula vencer
31 de outubro de 2022O presidente Jair Bolsonaro (PL) terminou a corrida presidencial em primeiro lugar no Sudeste, que concentra 66,7 milhões de eleitores, ou 42,6% do total nacional. Em pontos percentuais, o político de extrema direita garantiu 54,3% dos votos na região, contra 45,7% de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que acabou vencendo a eleição.
À primeira vista, o resultado no Sudeste pode ser encarado como uma pequena derrota para Lula no contexto de uma eleição vitoriosa em termos nacionais. Entre todas as regiões do país, Lula só ficou à frente de Bolsonaro no Nordeste.
No entanto, apesar de o Nordeste ter sido decisivo para a vitória de Lula, a recuperação do PT no Sudeste também acabou se revelando crucial para o petista, que venceu o pleito presidencial de 2022 com a margem mais apertada da história das eleições presidenciais brasileiras, ficando à frente de Bolsonaro por 2,1 milhões de votos.
Em comparação com o segundo turno de 2018, quando a chapa liderada pelo PT foi encabeçada por Fernando Haddad, Lula recebeu 13,3 milhões de votos a mais que o seu ex-ministro neste domingo em todo o país.
Desses 13,3 milhões de votos a mais que Lula recebeu, 7,78 milhões foram depositados no Sudeste. Isto é, 58,5% dos votos que Lula garantiu a mais que Haddad foram registrados na região que conta com os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Em números absolutos, foi no Sudeste que Lula obteve sua melhor votação: 22,7 milhões de votos. Levemente à frente do Nordeste, onde registrou 22,5 milhões.
A recuperação do PT no Sudeste também fica explícita em pontos percentuais. Em 2018, Haddad obteve no Sudeste 34,6% dos votos válidos no segundo turno. Bolsonaro ficou à frente com 65,4%, com uma vantagem superior a 30 pontos percentuais. No duelo com Lula, a vantagem de Bolsonaro foi reduzida para 8,6 pontos.
O peso do Sudeste na vitória de Lula também pode ser observado na passagem do primeiro para o segundo turno em 2022.
Dos 3,08 milhões de votos adicionais que o petista conseguiu entre os dois turnos, 1,75 milhão vieram do Sudeste. Outros 782 mil foram depositados no Nordeste, e 301 mil no Sul. Nas regiões Centro-Oeste e Norte, Lula também ampliou levemente a votação. Ou seja, de todos os votos extras que Lula recebeu na segunda rodada, 57% vieram do Sudeste.
Bolsonaro, por sua vez, aumentou sua margem em relação aos dois turnos em 7,1 milhões de votos. Destes, 3,57 milhões vieram do Sudeste, 1,37 milhão do Sul, e 1,17 milhão do Nordeste.
Em 2022, no entanto, Bolsonaro acabou perdendo 11,1 pontos percentuais no Sudeste em relação ao pleito anterior. No estado de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, a perda de terreno do bolsonarismo na eleição presidencial foi levemente pior: 12,7 pontos a menos em comparação com 2018.
O Sudeste e em menor grau o Sul, foram as únicas regiões em que Bolsonaro perdeu votos em relação ao pleito de quatro anos atrás.
Ao conquistar 45,7% dos votos no Sudeste, Lula voltou ao patamar semelhante ao que o PT havia registrado na eleição de 2014, quando Dilma Rousseff disputou a reeleição e o partido ainda não havia experimentado uma erosão de votos por causa da Lava Jato.
Além de São Paulo, o Rio de Janeiro também forneceu um impulso para Lula, com o ex-presidente ficando 11,4 pontos percentuais à frente do desempenho de Haddad em 2018. Em Minas Gerais, a recuperação foi de seis pontos.
Bolsonaro cresceu no Nordeste
O Nordeste foi a única região do país em que Lula ficou à frente de Bolsonaro em 2022. Desde 2006 os estados nordestinos são o principal reduto eleitoral do PT, concedendo a maioria dos votos até em momentos difíceis para o partido, como na eleição de 2018.
Em 2022, Lula obteve 22,5 milhões de votos no Nordeste, ou 69,3%. No entanto, em termos percentuais, a votação dele foi ligeiramente pior na região em relação à de Haddad em 2018. No pleito de quatro anos atrás, o ex-ministro petista recebeu 69,7%.
Em uma comparação mais ampla, o percentual recebido por Lula no Nordeste em 2022 foi o pior registrado pelo PT na região desde 2002, ficando atrás de Lula em 2006 (77,1%), Dilma Rousseff em 2010 (70,6%) e 2014 (71,7%), além de Haddad em 2018.
Enquanto isso, Bolsonaro avançou de 30,3% em 2018 para 30,7% no pleito deste ano. Em números absolutos, Bolsonaro recebeu 1,1 milhão de votos a mais no Nordeste do que em 2018.