Redação da "Spiegel" se revolta contra futuro chefe
29 de agosto de 2013A revolta dos funcionários da revista Der Spiegel contra seu futuro diretor de redação é um dos últimos capítulos da crise que atinge uma das mais influentes publicações europeias.
Após o afastamento, em abril, da dupla que chefiava a Spiegel, o jornalista Wolfgang Büchner, atualmente à frente da agência de notícias DPA, foi designado para assumir no dia 1° de setembro a chefia de redação da revista. Sua missão seria acelerar as mudanças para enfrentar a era do jornalismo digital e, finalmente, reunir sob a mesma tutela as versões impressa e online do periódico.
Entretanto, Büchner já provocou a ira de editores e funcionários da Spiegel mesmo antes de ocupar o novo posto. O jornalista causou uma acalorada controvérsia ao nomear o atual vice-diretor de redação do tabloide Bild, Nikolaus Blome, como seu assessor imediato e também para dirigir a sucursal da revista em Berlim.
"O senhor Blome representa tudo aquilo contra o que a Spiegel vem lutando desde sua fundação", protestou Franziska Augstein, filha do fundador da revista, Rudolf Augstein, morto em 2002. Ela e os funcionários do veículo acusam Blome de ser dono de um estilo jornalístico conservador demais e de forte cunho populista.
Após protesto, concessão
Essas características, talvez condizentes com o escandaloso e influente Bild, não combinariam com a tradição contestadora do semanário, na opinião dos jornalistas da Spiegel.
"O senhor Blome minimizou o escândalo da NSA no jornal Bild. Com Blome, será feito um jornalismo chapa-branca", acusou a jornalista. Já o meio-irmão dela, Jakob Augstein, porta-voz dos herdeiros de Augstein (donos de 24% das ações da Spiegel), havia se pronunciado a favor de Blome.
A associação de funcionários da Spiegel, detentora do controle acionário da empresa sediada em Hamburgo, entrou em acordo com Büchner. Para tentar contornar a situação, o chefe designado da redação voltou atrás, anunciando que Blome não será mais seu vice, mas apenas integrará a chefia da redação, além de chefiar a sucursal berlinense. Entretanto, há relatos de que a reunião de acionistas da Spiegel ocorreu sob clima tenso, apesar do acordo obtido.
Com mais de 870 mil exemplares, a tiragem da Spiegel é a maior entre as revistas semanais, não só na Alemanha como na Europa. Nos últimos anos, entretanto, o periódico tem enfrentado uma significativa queda de vendas. Desde 1998, o número de exemplares vendidos caiu quase 17%.