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"Redes sociais precisam fazer mais contra discurso de ódio"

Martina Bertam
30 de julho de 2021

Jornalista Patrícia Campos Mello, alvo de ataques de bolsonaristas desde que revelou esquema de envio de mensagens falsas na eleição de 2018, pede que Facebook e outras redes invistam mais no combate à violência digital.

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Patricia Campos Mello
Campos Mello participou do Global Media Forum 2021, a maior conferência de mídia da AlemanhaFoto: Xinhua/imago images

Jornalistas brasileiros se tornaram alvo frequente de campanhas de ódio na internet, muitas vezes incentivadas por autoridades governamentais, e as redes sociais não estão investindo o suficiente para combater a prática, seja com inteligência artificial ou com funcionários para fazer a moderação do conteúdo compartilhado nas plataformas.

A análise é da jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, que sofre ataques de bolsonaristas desde que publicou uma série de reportagens sobre o disparo de notícias falsas nas eleições de 2018. As apurações apontaram que empresários bancaram o envio de mensagens em massa com conteúdo anti-PT no Whatsapp, com recursos não declarados e à margem da legislação eleitoral.

Campos Mello falou à DW como participante do Global Media Forum 2021, a maior conferência de mídia da Alemanha, que neste ano ocorreu totalmente online.

Em função de seu trabalho, a jornalista passou a receber mensagens de ódio e ameaças, viu sua imagem ser usada em memes que a difamavam e teve sua conta de Whatsapp hackeada. Em 2020, ela foi alvo de um insulto com insinuação sexual proferido pelo presidente Jair Bolsonaro, repudiado por entidades de imprensa, jornalistas e políticos.

No mesmo ano, Campos Mello lançou um livro, A máquina de ódio – Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital (Companhia das Letras), no qual relata suas apurações e os ataques que sofreu, e contribui para o debate sobre o problema das notícias falsas e como enfrentá-lo.

O envio em massa de mensagens falsas pelo Whatsapp para beneficiar Bolsonaro é o tema de ações propostas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pedem a cassação do mandato do presidente. Duas delas foram rejeitadas em fevereiro, e outras duas ainda não foram julgadas. Em julho, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou que provas obtidas nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos sejam usadas nas ações que tramitam na Corte eleitoral.

Campos Mello recebeu em 2019 o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa, concedido pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), e em 2020 o prêmio Maria Moors Cabot, concedido pela universidade americana Columbia.

DW: Você foi alvo de ataques e discurso de ódio diversas vezes desde 2018, quando investigou uma campanha de Whatsapp em apoio a Jair Bolsonaro. É necessário ter mais coragem para fazer o seu trabalho no Brasil de hoje do que quando você costumava cobrir áreas de conflito e em guerra?

Quando eu estava fazendo reportagens na Síria, na Serra Leoa e no Afeganistão, estava em uma posição privilegiada. Tinha saído do meu país voluntariamente para cobrir uma perspectiva de um conflito ou de uma pandemia, e depois voltaria para casa. Os verdadeiros alvos eram os civis morando nesses países, que não tinham a opção de ir para outro lugar.

Hoje em dia, os jornalistas são os alvos no Brasil. Claro que não podemos comparar isso a uma situação de guerra, na qual pessoas estão morrendo. Mas jornalistas estão sendo constantemente atacados na internet e nas ruas, fisicamente e verbalmente, e estão sujeitos a campanhas de difamação conduzidas por autoridades governamentais e a assédio judicial.

Em 2020, o escritório do Twitter no Brasil a apoiou, condenando a campanha de assédio contra você. O Twitter, o Facebook e outras redes sociais deveriam fazer mais contra discurso de ódio? O quê, em termos práticos?

Em 2018, quando os ataques começaram, o Facebook não ajudou em nada. Apesar de eu ter explicado que muito conteúdo falso sobre mim estava sendo disseminado, eles disseram que não poderiam fazer nada.

Em 2020, o Twitter foi mais proativo, enquanto o Facebook e outras redes sociais ainda foram muito lentos na reação. Certamente acho que eles precisam fazer mais a respeito de discurso de ódio. Acho que eles não estão investindo recursos suficientes para combater discurso de ódio, seja com inteligência artificial ou com pessoas para moderar.

Como organizações de mídia em todo o mundo podem fortalecer o espírito jornalístico e criar solidariedade sob essas circunstâncias? Um maior comprometimento proativo com educação sobre mídia e informação ajuda o público a resistir ao tipo de manipulação da opinião pública que autocratas e déspotas tentam criar?

Fazer uma cobertura precisa e cuidadosa é sempre a melhor resposta. E cobrir ataques à liberdade de imprensa é parte dessa estratégia. E sim, também temos que deixar claro e educar as pessoas sobre a diferença entre fatos e opiniões.