Refugiado nigeriano ensina boxe a crianças carentes na Alemanha
22 de abril de 2012Jerry Elliot, de 35 anos, desce as escadas de sua academia de boxe, aberta há oito anos em Colônia, e diz orgulhoso: "É como a minha casa". Elliott, o mais novo de 12 filhos, nasceu em Oke Ora, na Nigéria. Seu pai era muito agressivo e batia nele frequentemente. "Ele ia além do normal", recorda. "Em certo ponto, eu me cansei e parti para Lagos, de lá eu queria fugir para a Europa".
Sem passaporte nem dinheiro, aos 16 anos Elliott, decidiu deixar a Nigéria. Ele não sabia exatamente para onde ir, mas não via outra opção. "Acho que teria morrido se tivesse continuado lá", diz.
Com a intenção de começar uma nova vida, ele primeiramente foi morar em Lagos, depois Cairo e Istambul – onde trabalhou em uma fábrica por pouquíssimo dinheiro. Mais tarde, na Grécia, foi preso com outros refugiados, mas um guarda o ajudou a escapar. Então, ele foi para Amsterdã e de lá entrou ilegalmente na Alemanha, onde obteve asilo político.
O segredo é um saco de pancadas
"Eu era uma criança valente. Eu experimentei de tudo", enfatiza. Ele diz que sua energia vem do saco de pancadas. "Eu comecei a lutar boxe com sete anos, nós pendurávamos sacos de areia no quintal. "Mas lutei sério mesmo só quando estive em Lagos".
Depois de chegar a Colônia, em 1996, ele descobriu o treinador Uli Wegner, que estava procurando desesperadamente por um boxeador para uma próxima luta. "Eu percebi numa fração de segundos que essa era a minha única chance de entrar no boxe profissional". E assim obteria sua primeira vitória. De 44 lutas, ele venceu 38, sendo 27 por nocaute.
Aos 29 anos, o fim do sonho: os médicos diagnosticaram um problema cardíaco e o proibiram de lutar.
Transmitindo experiência
Em 2004, Elliott iniciou o Multicultural Project Cologne (Projeto Multicultural de Colônia), ou MCP. "A ideia é motivar crianças a se exercitar mais, ajudá-las a sair das ruas e dar a elas a chance de treinar, independentemente de ter dinheiro ou não", explicou.
As aulas gratuitas de boxe são voltadas para crianças de famílias de baixa renda e frequentemente com histórico de imigração. Doações e taxas pagas por outros alunos que treinam na academia financiam o programa.
Elliott salienta que o projeto não beneficia apenas o corpo, mas também ajuda as crianças a controlar a agressividade. Elas aprendem como lidar com outras pessoas, disciplina e tolerância. "Nós temos muitas pessoas diferentes que treinam aqui: estrangeiros, alemães, negros, brancos – todos os tipos de crianças", diz Elliott.
O grande sucesso do MCP fez Elliott começar outro programa nas escolas: "Make a Change, Try Something New" (Faça a diferença, tente algo novo). Como nem sempre as crianças retornassem aos treinos na academia, ele levou o projeto para as escolas. Ali, ele ensina boxe a partir do uso de poesia, música, dança, vídeos e fotografia.
Ajudando os outros e a si mesmo
O grande número de crianças que participa do projeto prova sua popularidade. "O clima é ótimo aqui", comentou Linda, uma das poucas garotas da academia.
Elliott se orgulha do seu projeto e de sua longa jornada até aqui. Ele vê diversas razões para seu engajamento: "Quando eu era criança, eu não tinha a chance de fazer nada do que estas crianças fazem, disse. "Agora, eu posso ensinar crianças a lutar boxe. Eu "volto para casa" nesse sentido. É como acordar com uma nova vida todos os dias".
Elliott quer lançar sua autobiografia I´m from Oke Ora ("Eu sou de Oke Ora) até o final do ano. E o lutador sabe exatamente o que quer para o seu projeto. "Meu desejo é ter academias por toda a Alemanha, onde crianças possam treinar gratuitamente".
Autora: Johanna Siegel (kr)
Revisão: Roselaine Wandscheer