Refugiados do Boko Haram são desafio para Nigéria
19 de dezembro de 2014Um breve momento de alegria no campo de refugiados de Shabu, na Nigéria: arroz, óleo, sabão e cobertores são distribuídos. As pessoas cantam e aplaudem. É a primeira vez desde que o campo foi erguido, em julho de 2014, que alguma ajuda do governo chega ao local. Por volta de 2 mil refugiados vivem ali, a sudeste da capital, Abuja. Eles e cada vez mais pessoas fogem da organização terrorista Boko Haram.
Amos Tanko vem da região de Gwoza, no nordeste da Nigéria, onde fica o bastião do Boko Haram. Para chegar a Shobu, ele teve de viajar quase mil quilômetros.
"Eles queimaram nossas casas, e mataram nossos irmãos, irmãs e pais. Não restou ninguém no nosso vilarejo", relata o refugiado. A maioria agora dorme sob a copa das árvores. "Não temos nem moradia, nem o que comer."
As estimativas de quantas pessoas deixaram suas casas na Nigéria, fugindo dos ataques terroristas do Boko Haram, divergem muito entre si. Recentemente, o presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, falou em 700 mil deslocados internos.
Com base em informações de outras organizações de ajuda humanitária, o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) estima que atualmente haja por volta de 1,5 milhão de deslocados internos. Outros 1,4 milhão teriam fugido para outros países, como República dos Camarões e Níger.
"Se não fizermos algo contra isso urgentemente, vamos presenciar uma catástrofe", diz Angele Dikongue Atangana, representante do Acnur na Nigéria. Doenças podem se espalhar, colocando sobretudo mulheres e crianças em risco, alerta.
"Além disso, é grande o risco de as crianças sejam recrutadas à força. Portanto, não basta atender somente às necessidades. Precisamos fazer muito mais contra todo esse desenvolvimento", afirma.
Famílias espalhadas pelo país
Os refugiados também buscam um lugar para se abrigar em outras partes do país. Na metrópole comercial Kano, por exemplo, eles são acolhidos por parentes, amigos e outras pessoas. "Vivemos aqui com um senhor idoso e sua família. As mulheres da casa são tão gentis e compartilham sua comida com nossas crianças", conta uma refugiada.
Outra refugiada espera em frente ao escritório da Hisbah, uma iniciativa islâmica que também funciona como organização humanitária. Ela fugiu de Mubi, no nordeste nigeriano. O Boko Haram vem bombardeando a região há alguns dias.
"Não sei onde está minha família, todos fugiram. Não sei onde está meu marido. Preciso de ajuda para ir ao médico com o meu filho", relata.
Como tantas outras organizações de ajuda humanitária em Kano, a Hisbah também está sobrecarregada. "Registramos três mil refugiados, mas agora já precisamos de comida para quatro mil", afirmou Zahara'u Umar, vice-diretora da organização. Segundo ela, toda ajuda que chega, acaba rapidamente.
Paz em vez de suprimentos
O comitê de refugiados da Nigéria espera que, além de abrigo, em breve o governo também possa prestar apoio para que os deslocados possam ganhar seu próprio sustento. Segundo Hadiza Sani Kangiwa, membro do comitê, o objetivo é que as pessoas reconquistem sua independência e não tenham que ficar nos campos de refugiados.
Mesmo assim, o governo não corresponde ao verdadeiro desejo dos refugiados. "Agradecemos pela ajuda, mas paz é do que precisamos", diz Ashege Daniel, que também vive no campo de refugiados de Shabu. "Quero viver na minha própria casa, sem depender da ajuda de outras pessoas."