O Irã e a bomba
9 de novembro de 2011A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) pela primeira vez afirmou de forma clara que o programa nuclear iraniano inclui atividades militares. Divulgado nesta terça-feira (08/11), o mais recente estudo da agência afirma que ela obteve informações "críveis" comprovando que o Irã trabalhou no desenvolvimento de uma bomba atômica e pode ainda estar conduzindo pesquisas secretas.
Nesta quarta-feira, o governo iraniano repetiu o argumento usado desde que a comunidade internacional passou a desconfiar que armas nucleares estariam sendo produzidas no país. "Como um Estado responsável, a República Islâmica do Irã nunca irá comprometer seus direitos legítimos e vai continuar a cumprir com seus compromissos segundo o acordo de não-proliferação nuclear", afirmou o embaixador iraniano na AIEA, Ali Asghar Soltanieh.
Segundo o documento divulgado pela agência, o país asiático conduziu uma série de atividades que são executadas para a produção da arma atômica, como testes com explosivos potentes e desenvolvimento do gatilho da bomba.
O material confidencial produzido pelo órgão e assinado pelo diretor Yukiya Amano diz ainda que algumas pesquisas feitas em solo iraniano teriam aplicações civil e militar, mas "outras são especificamente voltadas para armas nucleares".
Segundo o relatório, as informações coletadas indicam que, até o final de 2003, essas atividades ocorreram dentro de um programa estruturado, e que algumas delas ainda podem estar sendo conduzidas.
A divulgação do relatório espalhou rapidamente temor no mundo ocidental. Enquanto os Estados Unidos sugerem que novas sanções sejam aplicadas contra Teerã, em Israel chegou-se a falar num possível ataque militar contra as bases iranianas. O ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, afirmou posteriormente, no entanto, que seu país ainda não havia decidido iniciar uma ação militar.
Reações diversas
Ainda nesta terça-feira, Soltanieh classificou o relatório de "desequilibrado" e disse que ele teria motivações políticas. Soltanieh disse que o diretor da agência "está jogando um jogo muito perigoso."
O embaixador iraniano ressaltou que o "Irã vai continuar com suas atividades nucleares pacíficas. E que, assim como acusações feitas no passado se mostraram infundadas, essa também não irá trazer qualquer resultado".
A líder oposicionista israelense Zipi Livni cobrou uma postura mais dura da comunidade internacional após a divulgação do relatório. "Agora que a verdade apareceu diante dos olhos do mundo, Israel precisa mobilizar o mundo livre para parar o Irã."
O governo israelense, por sua vez, afirmou que não haveria uma "reação automática" e que as autoridades precisam primeiramente estudar o documento.
O discurso da Rússia foi mais cauteloso. "Temos sérias dúvidas em torno da justificativa dada para revelar o conteúdo do relatório para um público maior, precisamente porque agora começam a aparecer chances certas para renovação do diálogo entre mediadores internacionais e Teerã", justificou o Ministério russo do Exterior, criticando a divulgação do material pela AIEA.
O governo chinês disse que está analisando o relatório e exortou o governo a ser flexível e a colaborar com a agência. Já a agência de notícias oficial da China, Xinhua, disse num comentário que, no caso do programa nuclear iraniano, "é extremamente perigoso confiar em suspeitas, e as consequências destrutivas de qualquer ação armada irão persistir por um longo período."
Posição brasileira
As informações do relatório foram recebidas com cautela no Brasil. "Esperamos a divulgação e as explicações oficiais da AIEA sobre o relatório, e o que ele contém. Por enquanto é cedo para previsões", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Tovar Nunes à Agência Brasil.
O porta-voz reforçou que o governo brasileiro é a favor da diplomacia. “Nossa posição é sempre pela busca da negociação e do diálogo, além da defesa do desenvolvimento de um programa nuclear para fins pacíficos."
Em 2010, negociações conduzidas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levaram o Brasil e a Turquia a uma tentativa de intermediação do conflito que envolve o Irã. Um acordo que envolvia a troca de urânio enriquecido chegou a ser fechado, mas o pacto foi rejeitado pela comunidade internacional.
O histórico iraniano de esconder atividade nuclear sensível da AIEA, assim como as restrições de acesso de inspetores da agência às instalações nacionais e a recusa do governo em suspender o enriquecimento de urânio já renderam ao país quatro rodadas de sanções das Nações Unidas e punições impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
NP/rts/dpa/afp/abr
Revisão: Alexandre Schossler