Fim melancólico de uma carreira brilhante
27 de agosto de 2014Quando abriu o Dia do Orgulho Gay em Berlim, pela última vez como prefeito da capital, Klaus Wowereit conclamou os participantes de todo o mundo a "assumirem a própria forma de vida orgulhosos e abertos, e a viver a própria vida em liberdade e autonomia".
Ver o também governador do estado de Berlim em meio ao escrachado ambiente da parada dos homossexuais não é novidade, também para os não berlinenses. Pois o poder de atração da metrópole sobre os jovens não se deve apenas a seus famosos clubes noturnos, aos tenebrosos resquícios da Guerra Fria, a sua inusitada mistura de Ocidente e Leste Europeu ou aos startups do bairro de Kreuzberg.
Uma parte dessa atratividade também é mérito de Klaus Wowereit. O berlinense de nascença representa alegria de viver e tolerância, mas também um certo atrevimento, que durante muito tempo seus concidadãos comentavam, sorrindo: "Ah, mais uma do 'Wowi'."
Símbolo de uma cultura
O político social-democrata resumiu a atmosfera humana em sua cidade numa sumária fórmula: "Pobre, porém sexy." E cunhou a já legendária frase: "Eu sou gay e está bem assim."
Foi em 10 de junho de 2001, no comício extraordinário do Partido Social-Democrata (SPD), que Wowereit foi eleito candidato ao posto de prefeito-governador. Com a afirmação, corajosa para a época, de sua homossexualidade, o jurista de formação deixou para trás todos os concorrentes e se afirmou como figura de vanguarda para outros políticos gays.
Seis dias mais tarde, a Câmara dos Deputados o escolhia como sucessor de Eberhard Diepgen, da União Democrata Cristã (CDU). Enquanto este sempre representara a antiga Berlim Ocidental, Wowereit era o símbolo de uma outra cultura, mais cosmopolita, hipster até.
O quase cinquentão festeiro, que já havia bebido publicamente champanha num sapato de mulher e participado de séries de TV, se tornou um governador popular, com altos índices de aceitação. Para os conservadores da capital e de fora, pelo contrário, ele era um alvo preferencial de ataques. Um dos motivos foi a ousadia, em 2002, de formar a primeira coalizão com o Partido do Socialismo Democrático (PDS), o sucessor do SED, facção única da comunista Alemanha Oriental.
Cansado do cargo?
Isso tudo já faz certo tempo. Em 13 anos à frente da política da cidade-estado, o "prefeito-governador das baladas" se transformou no "governador de um estado alemão há mais tempo no cargo". Por um tempo breve ele foi visto como a grande esperança dos social-democratas alemães e tratado como candidato à chancelaria federal.
Muitos alegam que o político, agora com 60 anos, está cansado de governar. "Seus berlinenses" o massacraram pelos numerosos atrasos e cancelamentos dos trens municipais, os quais paralisaram em parte o sistema de transporte urbano da metrópole, antes exemplar.
Para muitos, a gota d'água foi quando, em meio ao caos de neve e gelo em Berlim do inverno de 2010, Wowereit despachou a situação com o comentário de que, afinal de contas, "não se está no Haiti" – país que vivia ainda a catástrofe que sucedeu um terremoto.
Ele é também acusado das panes nas escandalosas obras para o novo aeroporto Berlim-Brandemburgo, cujo conselho administrativo ele preside. Até mesmo no plebiscito sobre o destino do antigo aeroporto Tempelhof, o atual Senado berlinense, formado por SPD e CDU, sofreu um duro golpe: o prefeito queria mandar construir prédios no gigantesco terreno, enquanto os cidadãos preferem mantê-lo como parque.
Fim inglório
Ao propor que se esperasse até 2015 para ele decidir se concorreria mais uma vez no ano seguinte ao governo de Berlim, o anteriormente indiscutido líder político esbarrou em resistência inesperada dentro de seu partido. Neste mês, pela primeira vez, Wowereit caiu para o último lugar na escala de favoritismo dos políticos berlinenses. Em suas aparições públicas, há muito ele aparenta, antes de tudo, estar desmotivado.
O jornal Berliner Zeitung criticou-o por, depois de ser um inovador em seus primeiros anos de governo, "nada mais ter restado disso, após uma década e meia". A renúncia é o fim inglório para uma carreira que começou brilhante. Afinal, até mesmo adversários políticos ferrenhos como Gregor Gysi, do A Esquerda, reconhecem que ele contribuiu decisivamente "para que Berlim se tornasse uma metrópole".
Mas toda moeda tem dois lados: como Klaus Wowereit também pretende deixar o cargo de presidente do conselho administrativo do futuro aeroporto da capital, futuramente ele deverá ter mais tempo para – juntamente com seu parceiro – aproveitar as festas e o seu hobby, o golfe.