Repressão a protestos intensifica críticas europeias à Turquia
12 de junho de 2013A repressão da polícia turca aos protestos contra o governo do país faz crescer as críticas no exterior ao primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. A União Europeia alertou nesta quarta-feira (12/06) para o "uso excessivo da força" contra os manifestantes, que protestam há cerca de duas semanas em várias cidades da Turquia, e pediu uma investigação rápida e punição dos responsáveis.
Em discurso no Parlamento Europeu, a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, afirmou que as práticas policiais vistas em Istambul são "motivo de grande preocupação" para a União Europeia. Milhares de pessoas voltaram a se reunir ao redor da praça Taksim, um dia depois que policiais invadiram o local e expulsaram milhares de ativistas.
"Temos visto muitos exemplos do uso excessivo da força pela polícia", disse a comissária europeia, sublinhando o caráter "maioritariamente pacífico" das manifestações.
Ashton pediu que eventuais abusos sejam investigados e os responsáveis, punidos. A diplomata britânica acusou, de forma concreta, a "grande ofensiva" na noite de terça-feira para desalojar milhares de manifestantes da praça Taksim e o "uso intensivo de canhões de água e gás lacrimogêneo".
Adesão à UE em jogo
Ashton disse estar surpreendida pela escassa cobertura dos protestos da praça Taksim pela mídia turca e afirmou que a liberdade de imprensa é "um motivo de preocupação na Turquia". A representante da EU sublinhou, entretanto, que a UE não deve virar as costas ao país neste momento, e sim reforçar o diálogo com ele.
O ministro do Exterior alemão, Guido Westerwelle, enviou um alerta a Ancara, referindo-se, de forma indireta, às planejadas negociações para uma possível adesão da Turquia à UE.
"O governo turco está enviando o sinal errado, com sua atual reação aos protestos, tanto em direção ao próprio país como à Europa", afirmou.
A chanceler italiana, Emma Bonino, foi mais explícita, advertindo que a Turquia está passando por "seu primeiro teste sério" em relação a uma possível adesão ao bloco. O ministro do Exterior francês, Laurent Fabius, exortou o governo turco a mostrar contenção e disposição ao diálogo.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelou para que todas as partes tenham tranquilidade tentem um diálogo pacífico. "Protestos devem ser pacíficos e o direito de reunião e liberdade de expressão deve ser respeitado, porque estes são os princípios fundamentais de um Estado democrático", disse seu porta-voz em Nova York.
Novos protestos, sem confrontos
Na tarde de quarta-feira, milhares de pessoas voltaram a se reunir próximas à praça Taksim. Caminhões com canhões de água eram vistos estacionados nas ruas de acesso ao local, segundo testemunhos, e policiais voltaram a tomar posição nos arredores, mas não houve confrontos. No vizinho parque Gezi, convertido num símbolo do movimento de protesto, os manifestantes continuam acampados.
Várias centenas de advogados marcharam na praça para protestar contra a detenção temporária, na véspera, de mais de 70 colegas que protestaram contra a violência da terça-feira. Milhares de advogados também tomaram as ruas da capital, Ancara.
No dia seguinte aos confrontos na praça Taksim, Erdogan reuniu artistas, estudantes, cientistas e personalidades públicas escolhidas para o que chamou de uma "conversa informal" sobre o movimento de protesto, noticiou a mídia turca. Entretanto, faltaram ao encontro alguns dos principais organizadores das manifestações, como os membros da Plataforma Taksim, que garantem não terem sido convidados.
O governador de Istambul, Huseyin Avni Mutlu, acusou os manifestantes de atacarem a polícia. Ele assegurou que as forças de segurança vão continuar no local enquanto for necessário. O político pediu aos cidadãos de Istambul que mantenham distância da praça Taksim até a ordem ser retomada.
Enquanto isso, as autoridades turcas estão punindo veículos críticos ao governo. A emissora turca Halk TV, que tem dado cobertura ampla aos protestos, diferentemente de outros veículos, foi condenada a pagar multa, junto com três outros canais. A acusação é que as estações estariam violando certos princípios de transmissão, ameaçando o desenvolvimento físico, mental e moral dos jovens.
MD/afp/lusa/dpa