Resale: máquinas de segunda mão
17 de abril de 2003O calendário das feiras na Alemanha é bem estudado: a Resale abre dois dias após o encerramento da Feira da Indústria de Hanôver, para melhor atingir o público especializado. Os industriais e empresários que acharem demasiado caros os produtos que viram na grande feira de Hanôver, onde são apresentadas as últimas novidades tecnológicas aplicadas à produção, têm a opção de ir a Nurembergue, no sul do país.
Na Resale, este ano com 539 expositores de 26 países, pode-se encontrar máquinas de fabricantes de renome, que talvez não sejam de último modelo, mas custam muito menos, estão em perfeito estado e com as quais se pode produzir muito bem.
Há muito que o second-hand é praticado pela indústria. A Confederação Alemã do Comércio Exterior (BDEx), com sede em Berlim, estima em 15 bilhões de euros o volume anual do mercado de máquinas usadas somente na Alemanha. A Resale dedicou-se a esse mercado, conseguindo, em oito anos, transformar-se na maior feira de máquinas usadas do mundo. Este ano, seus expositores trouxeram 150 mil máquinas e instalações industriais. A feira também oferece produtos pela Internet: no endereço www.resale.de, o interessado encontrará 100 mil ofertas, entre elas até um Airbus A-319-112, por cerca de 47 milhões de dólares.
Tudo quanto é máquina
O leque de produtos vai desde fornos para padarias, passando por máquinas de empacotamento até aparelhos altamente sensíveis para uso hospitalar ou veículos pesados para a construção de ruas e estradas. Uma impressora offset da firma MAN, por exemplo, pode ser adquirida por 1,1 milhão de euros.
A variedade é certamente um dos segredos do sucesso da Resale. Embora as máquinas sejam dos mais variados ramos industriais, continua predominando o processamento de metais (39% dos expositores). O setor de plásticos e fibras sintéticas vem a seguir, com 20%. Também ocupam um lugar de destaque as máquinas para as indústrias de processamento de alimentos e empacotamento (12%), madeireira (10%) e da construção civil (9,5%).
Para a fabricação de têxteis, eliminação de lixo e reciclagem, agricultura, indústria química e farmacêutica também são oferecidos produtos, como também para as áreas de tecnologia de processos industriais, de acionamento e motores, transporte e distribuição e técnicas de medição. Aparelhos de telecomunicações e veículos utilitários também estão no programa.
Menos máquinas usadas alemãs
A Itália lidera a lista de expositores com 33 firmas, seguida da França, Suíça e Holanda. Apesar da forte onda de falências e insolvências na Alemanha, que deveria resultar na venda de equipamento usado, as empresas alemãs não estão fortemente representadas na feira. Segundo seu diretor, Rüdiger Hess, isso está relacionado à queda dos investimentos em função da fraca conjuntura.
"Muitas firmas não encontram máquinas usadas para comprar, porque se está investindo pouco ou quase nada em novo equipamento industrial. Como se investe pouco em máquinas novas, não sobram usadas para colocar à venda. Nesse sentido, quem tem contatos internacionais se dá melhor. Me contaram que algumas empresas alemãs estão comprando na Polônia, Romênia ou na Hungria. Trata-se de máquinas usadas boas, que em algum momento foram importadas por esses países da própria Alemanha, da Suíça ou da França, e que agora estão à venda", expõe Hess.
Fabricantes também entraram no negócio
Cerca de 60% dos expositores são comerciantes que fizeram do second-hand industrial seu negócio. Se no início da Resale os intermediários constituíam a grande maioria, hoje percebe-se um aumento constante no número de fabricantes que aceitam máquinas usadas como parte do pagamento de novas.
Este ano, eles somaram 22% dos participantes, expõe Hans-Jürgen Müller, da Confederação de Exportadores. Cerca de 10% dos membros da BDEx passaram a vender máquinas usadas, o que é encarado como parte da estratégia para incentivar a aquisição de novos equipamentos. "A máquina usada é a forma de conquistar o cliente e ligá-lo à marca. Se seus negócios derem certo, dentro de uns anos ele volta e compra uma máquina nova da marca que ele já conhece", diz Müller.
O fato de a demanda interna não ser muito grande no momento é compensado pelo enorme interesse do público estrangeiro. De países asiáticos como Índia, Paquistão e Bangladesh chegam várias consultas diariamente. A onda de privatizações na China fez com que aumentassem as delegações chinesas na Resale. No entanto, o Leste Europeu é a região de onde vem o maior número de visitantes estrangeiros, o que se explica pela proximidade geográfica e necessidade de reformar o parque industrial após décadas de regime comunista. Os ucranianos lideram este grupo, seguidos pelos russos.
Brasileiros mal conhecem a Resale
Os empresários da América Latina parecem não haver descoberto esta feira ainda. Poucos brasileiros que comparecem à Feira de Hanôver sabem que logo a seguir se realiza a de máquinas usadas. Em 2004, a feira volta ao lugar onde surgiu: a cidade de Karlsruhe, ao sul de Frankfurt, no Estado de Baden-Württemberg. A Resale 2004 acontece de 26 a 28 de abril.
Os organizadores da feira registram grande número de consultas vindas de outros países da América Latina sobre máquinas para processamento de plásticos e fibras sintéticas. Como neste ramo os ciclos de produção tornam-se cada vez mais curtos, as indústrias européias possuem um grande número de formas usadas, de grande valor. Em tempo de estagnação, nada como esvaziar seus depósitos, vendendo-as. Quem comprar fôrmas de segunda mão, poupa custos de desenvolvimento, design, protótipos e da construção de ferramentas especiais.
Em países com grande potencial de mão-de-obra, o uso de máquinas usadas evita o corte de empregos por medidas de racionalização. "Nesses países, faz sentido empregar máquinas que facilitam o trabalho", como a geração anterior das que hoje são usadas nos países industrializados, diz Hans-Jürgen Müller. A maioria dessas máquinas nem é fabricada mais, ou seja, só pode ser obtida de segunda mão. Esse é o caso de muitas das que são empregadas no setor de processamento de alimentos e empacotamento.
Entre os expositores deste ano, também esteve a FairMoulds.Net, uma plataforma de comércio pela internet de fôrmas usadas no processamento de plástico e fibras, borracha, metal e vidro. "Nela, vendedores e interessados se comunicam diretamente", diz Frédéric Lutz, da Lutz Communications, a empresa que a criou. Enquanto seu uso é gratuito para os compradores, os vendedores pagam uma taxa de 100 euros.