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Matéria-prima do futuro

26 de junho de 2009

Os carros elétricos precisam de baterias confiáveis de alto desempenho. Isso só é possível com o lítio – e as maiores reservas mundiais do metal estão na Bolívia.

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Salar de Uyuni abriga lítio debaixo da camada de salFoto: AP

Quando o preço do barril de petróleo chegou a 140 dólares em 2008, soaram todos os alarmes. É sabido que os combustíveis fósseis, além de serem prejudiciais ao meio ambiente, se tornarão escassos no futuro. A isso soma-se o fato de a crise financeira e econômica, neste quase um ano que já perdura, convencer até os mais céticos de que os carros elétricos são o futuro.

Para funcionar de forma confiável e econômica, os motores híbridos (gasolina e eletricidade) e os elétricos requerem baterias potentes. Mas baterias elétricas precisam de lítio. Em sua forma pura, o lítio é um metal macio, de cor branco-prateada, que se oxida rapidamente no ar ou na água.

Por ser bastante reativo, o lítio é encontrado disperso em rochas – e nunca isolado na natureza. Em pequenas proporções, esconde-se em rochas vulcânicas e sais naturais, como no Salar de Uyuni e no Salar do Atacama, no Chile. Mas explorá-lo economicamente não é fácil.

Grupos econômicos do Japão, da Coreia do Sul e da Europa já fazem fila para extrair o lítio do Salar de Uyuni, na Bolívia, a 3.600 metros de altitude, onde se acredita estar a maior reserva de lítio do mundo.

A corrida pelo lítio

No entanto, o presidente boliviano, Evo Morales, quer evitar que os ganhos da extração do mineral vão parar somente nos bolsos de grupos estrangeiros. Por outro lado, o país é carente de capital, de recursos tecnológicos e dos conhecimentos necessários para explorar as reservas. Mesmo assim, a Bolívia espera obter o melhor preço possível pela matéria-prima do futuro.

Existem ofertas de cooperação de três grupos econômicos: Mitsubishi, Sumitomo e Bolloré. Mas, por enquanto, nenhum contrato foi fechado. No momento, a cooperação é apenas voluntária – mas está claro que as três empresas querem estabelecer parcerias com o governo o quanto antes. Também a gigante sul-coreana LG Chem está interessada.

A Mitsubishi é um dos maiores conglomerados do Japão, que está por trás de numerosas cooperações que não levam seu nome. Algumas delas fazem parte, por exemplo, da Space Communications Corporation, uma operadora japonesa de satélites de telecomunicações. O grupo Sumitono, também japonês, é formado por dezenas de empresas de ramos variados, dos setores químico e elétrico, a montadoras de automóveis e bancos.

Bolloré é um grupo francês que tem faturamento anual de aproximadamente 5,4 bilhões de euros e mais de 33 mil empregados em todo o mundo. Entre suas áreas de atuação, estão as indústrias petrolífera, de papel e logística. Bolorré e Électricité de France se juntaram para formar a empresa BatScap, com participações de 20% e 80% da nova companhia, respectivamente. A BatScap desenvolve baterias de lítio-polímero e planeja fabricar carros elétricos, o primeiro dos quais será o Bluecar.

Os carros elétricos precisam de baterias confiáveis de alta capacidade. Isso só é possível com o lítio – e as maiores reservas mundiais do minério estão na Bolívia.

Galerie Elektroautos Juni 2009 Freies Format
Carro elétrico da Mitsubishi é movido a bateria de lítioFoto: picture alliance / dpa

Alemanha quer o "melhor carro elétrico do mundo"

A Alemanha deverá investir até 30 milhões de euros na pesquisa de baterias modernas de íons de lítio. O Ministério da Pesquisa vai fornecer 10 milhões, enquanto que o dos Transportes vai aplicar de 10 a 15 milhões. "Queremos que os melhores carros elétricos venham da Alemanha", disse Annette Schavan, ministra de Educação e Pesquisa.

Os recursos financeiros foram destinados à Universidade de Ulm e ao Centro de Pesquisa de Sol e Hidrogênio. Na Alemanha, estima-se que a primeira geração de baterias de íon de lítio seja lançada no mercado em 2011. Calcula-se que, até 2015, um milhão de veículos elétricos estarão em circulação na Alemanha.


Governo espera propostas concretas

O governo boliviano assumiu um posicionamento firme para negociar: declarou que o Projeto Lítio é de competência presidencial e que espera propostas concretas das empresas interessadas. Os meios de comunicação locais apoiam o governo. Recentemente, a revista boliviana La Época publicou como manchete que a "Bolívia está na mira das multinacionais da indústria automotiva."

Ao que tudo indica, Evo Morales negociou modelos de cooperação bilateral para a exportação do mineral em suas recentes visitas à França e à Rússia.

"A Bolívia espera industrializar o lítio com a ajuda de parceiros até 2015", afirmou o diário Lá Razón, da capital La Paz. O ministro da Mineração da Bolívia, Freddy Beltrán, disse ao jornal que "o país quer manter uma fábrica para a produção do lítio sob direção própria".

A Comibol, a agência estatal que supervisiona os projetos de mineração, estima que as reservas de lítio cheguem a 350 milhões de toneladas, das quais 140 milhões podem ser extraídas. O volume de negócios pode chegar a 429 bilhões de dólares, com a tonelada do lítio comercializada a três mil dólares.


Planta piloto

No entanto, a exploração do lítio exige muitos conhecimentos, além de investimento e tempo. No Salar de Uyuni, o mineral se encontra debaixo uma capa dura de sal e, para extraí-lo, é preciso primeiro remover parte do solo, liquidificar o mineral e então transportá-lo em tubulações.

Para analisar as possibilidades de exportação, o governo boliviano aprovou um investimento de seis milhões de dólares numa planta piloto, que vai começar com a produção experimental de carbonato de lítio em 2010.

Nela, serão testados diferentes processos de produção, que atualmente estão sendo pesquisados na Bolívia e no Japão. A idéia do governo boliviano é deixar de ser mero exportador da matéria-prima e agregar valor ao produto, por exemplo, fabricando baterias para veículos, entre outros.

Até 2014, a Bolívia deve estar pronta para iniciar a exportação de carbonato de lítio e buscar um parceiro para industrializar o produto. Diante da possibilidade de não encontrar um sócio concreto, o governo ainda avalia somente exportar o lítio e reconhece que precisa de apoio. "Precisamos da tecnologia para fabricar baterias e temos anos-luz de atraso nesse sentido; por isso precisamos de um parceiro", disse Beltrán a jornais bolivianos.

Segundo Adalid Cabrea Lemuz, jornalista econômico da revista La Época, a Bolívia está no começo de uma época áurea. "Se, há três anos, a tonelada do lítio custava 300 dólares, hoje ela custa três mil. E a tendência é continuar aumentando. O lítio pode ser um elemento-chave para o desenvolvimento nacional", disse o jornalista à emissora de rádio e TV austríaca ORF. Agora, está tudo nas mãos do governo boliviano.


Autor: Pablo Kummetz

Revisão: Rodrigo Abdelmalack