Restauração inteligente com raios laser
2 de janeiro de 2003O Instituto Fraunhofer de Técnica Laser está desenvolvendo um método para limpar trilhos de trem utilizando esse tipo de luz altamente concentrada. O laser simplesmente faz evaporar os restos de óleo, misturados com ferrugem e folhagem seca esmagada pelas rodas dos vagões. Segundo os cientistas do instituto, sediado em Aachen, o procedimento é especialmente suave e ecológico por prescindir de detergentes e outras substâncias químicas.
Esta técnica está em fase experimental. Contudo, a limpeza a laser – acrônimo de Light Amplification by the Stimulated Emission of Radiation – já vem sendo empregada com sucesso em outros campos, como o da restauração artística. Wiebke Montag trabalha nas figuras de pedra da venerável catedral de Colônia, expostas, desde a fundação, em 1248, a poeira, excrementos de pássaros e, mais recentemente, às emissões tóxicas de automóveis e fábricas.
A especialista explica que o sucesso da técnica se baseia no fato de a sujeira ser normalmente mais escura do que a superfície da pedra. Assim, a crosta de matéria estranha absorve a energia contida nos raios laser, aquece-se fortemente durante milissegundos e, ao se dilatar, solta-se da estátua de forma puramente mecânica. Nas áreas mais renitentes, Montag utiliza ainda água e pincel. As moléculas da água integram-se à camada de imundície: como reagem com intensidade especial à radiação, evaporam-se instantaneamente, causando pressão mecânica que igualmente força a crosta externa a se partir.
Sujeira com história
Além disso, a parte frontal do aparelho emite um jato constante de ar, para evitar que a poeira liberada se deposite sobre a lente. Isso obriga os restauradores a utilizar máscaras de proteção, já que a camada secular de poluição inclui todo tipo de elementos tóxicos, que são liberados pelo processo de limpeza e constituem um perigo potencial para a saúde.
Em algumas das estátuas que ornamentam o exterior da catedral de Colônia, os estratos de imundície são tão espessos que a pura restauração por laser seria laboriosa demais, sendo portanto necessário prepará-las previamente. Este é o caso das áreas onde poeira e umidade combinaram-se com a pedra calcária, formando uma camada de gesso de vários milímetros. Uma pasta química amolece este primeiro obstáculo, permitindo a lavagem superficial com água pura. Só depois dessa fase preliminar, o laser entra em ação.
Tão logo a parte negra é eliminada, o raio de luz é refletido pela pedra clara, perde seu efeito e mantém intocada a obra de arte. Mais um dos motivos, porque a técnica laser é muito mais "inteligente" do que o uso de escovas e vassouras. E, quem sabe, se os restauradores forem mais rápidos do que os escapamentos e os pombos, um dia a catedral retornará à sua brancura original.