Resultado apertado surpreende Europa
19 de setembro de 2005Os resultados preliminares das eleições na Alemanha indicam uma leve vantagem para a oposição conservadora de Angela Merkel. Mas apenas um ponto percentual separa a aliança CDU/CSU da social-democracia de Gerhard Schröder (SPD), complicando a questão sobre quem governará o país nos próximos anos.
Por ter obtido o maior número de votos, Merkel reserva a si o direito de tornar-se a próxima chanceler federal. Mas não se sabe através de que combinações interpartidárias seu partido poderia obter a maioria parlamentar necessária. Enquanto isso, Schröder insiste que ele deveria seguir liderando, ampliando seus sete anos no poder.
Europa precisa de "Alemanha forte e dinâmica"
Embora ainda não haja uma reação oficial de Washington, o aperto nas urnas causou surpresa nas principais capitais européias, e líderes políticos de diversas nações voltaram os olhos para possíveis mudanças na maior economia do continente. O presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso, disse temer que a estagnação política na Alemanha dificulte a saída da União Européia da atual crise política e financeira.
"Espero que a Alemanha tenha logo um governo estável. O país é o motor da Europa. Sem a Alemanha será difícil para a UE se restabelecer. Com todo o respeito por dificuldades na política interna, apelo aos políticos alemães em nome da Comissão Européia para que encontrem uma solução rápida, pois precisamos de uma Alemanha forte e dinâmica na Europa", resumiu Barroso.
Na Itália, o partido do premiê Silvio Berlusconi preferiu não fazer comentários, mas o ministro das Relações Exteriores, Gianfranco Fini, disse que o resultado foi "surpreendente, mas não tão importante quanto parece". Para ele, isso significará "uma situação política incerta, com uma instabilidade que certamente não ajudará o país".
Para o líder da oposição italiana, Romano Prodi, o resultado foi "algo inesperado que deveria servir de lição até para nós". "A Alemanha está à beira de uma recuperação econômica, o que seria muito mais difícil na ausência de um governo claro", advertiu.
Na Espanha, tanto a esquerda quanto a direita reclamaram a vitória para seus parceiros ideológicos alemães. O Partido Popular, de oposição conservadora, congratulou Merkel por uma "vitória sua e da CDU", considerando esta "um triunfo para as idéias que compartilhamos".
Já para Trinidad Jiménez, porta-voz do Partido Socialista governante, "Schröder é quem tem mais chances de formar um governo". Ela admitiu que os eleitores alemães tenham "expressado sua infelicidade", mas "renovando sua confiança no chanceler federal".
França reafirma laços estreitos
Em Paris, a ministra francesa de Assuntos Europeus, Catherine Colonna, insistiu que França e Alemanha continuarão a ser a força motriz da Europa, não importa quem governe em Berlim ou em Paris. "As relações entre nossos países transcendem a composição de governos ou mudanças políticas e vão perdurar, pois temos uma relação forte e muito próxima."
A ministra francesa da Defesa, Michèlle Alliot-Marie, confirmou, acrescentando que não pode imaginar um motivo pelo qual Jacques Chirac e Angela Merkel não possam ter tão boas relações como as que o presidente tem com Schröder. Entretanto, ela lembra que os resultados do pleito alemão são um sinal de rejeição ao modelo social neoliberal na Europa.
Esquerda européia felicita Schröder
O primeiro-ministro tcheco, Jiri Paroubek, disse que as eleições foram um sucesso para o premiê alemão. "É um sucesso pessoal extraordinário para Schröder, que é um grande lutador com um carisma excepcional", disse o social-democrata. "Estou convencido de que teríamos vencido, se a campanha eleitoral durasse mais duas semanas."
Reações positivas vieram também do primeiro-ministro sueco, Goran Persson, que elogiou Schröder por insistir em continuar ocupando o posto de chanceler federal. "Seria o normal, dados os resultados", justificou. O premiê da Finlândia, Matti Vanhagen, apelou à Alemanha para que continue seu curso de reformas econômicas e sociais. "Seu sucesso será sentido na economia de toda a Europa", disse. "Os grandes países sempre têm o dever de agir como um motor."
Para Poul Nyrup Rasmussen, presidente do bloco socialista do Parlamento Europeu, "Merkel não obteve o aval do povo alemão para modernizar a economia do país sob um viés neoliberal".
"Uma situação difícil"
Reinhold Lopatka, secretário-geral do partido conservador da Áustria, o ÖVP (Partido Popular da Áustria), disse tratar-se de "uma situação difícil", pois "os conservadores alemães não possuem a maioria necessária para a mudança de governo".
Na Polônia, o ex-presidente e líder sindical Lech Walesa mostrou-se perplexo. "Estou surpreso e me pergunto o que os alemães farão agora. É sempre bom ter uma grande maioria e uma grande oposição para controlar o governo. Talvez uma grande coalizão funcione na Alemanha."
Turquia aliviada
Para o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que iniciará em 3 de outubro próximo as negociações para o ingresso da Turquia na União Européia, o resultado foi um alívio. Ele criticou a campanha negativa que CDU e CSU fizeram contra as ambições de seu país, na qual sugeriam que se oferecesse à Turquia apenas uma parceria privilegiada em vez de sua adesão integral ao bloco.