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Resultado na Baviera é alerta para Merkel

Rob Mudge md
15 de outubro de 2018

Desempenho fraco no estado do sul da Alemanha é mais um golpe para membros da coalizão que governa o país. Sucesso nas eleições de Hessen, em duas semanas, é tido com vital para sobrevivência da atual gestão em Berlim.

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Chanceler federal alemã, Angela Merkel, olha para baixo com expressão de preocupação
Chanceler federal alemã, Angela Merkel: próximo desastre eleitoral pode custar à chefe de governo a liderança de seu partidoFoto: Reuters/F. Bensch

A União Social Cristã (CSU), partido-irmão na Baviera da União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, costuma ser associado à prosperidade vigente nesse estado do sul da Alemanha.

A taxa de desemprego da região, conhecida não só como terra de cerveja e da Oktoberfest, mas também por abrigar a sede de montadoras como BMW e Audi, é a mais baixa da Alemanha: 2,8%. O Produto Interno Bruto (PIB) do estado registrado em 2017 foi de 594 bilhões de euros, colocando a região à frente de 22 dos 28 Estados-membros da UE.

O PIB per capita, de 45.810 euros em 2017, também está muito acima da média alemã e europeia. O estado tem a menor taxa de criminalidade do país. Mas o que deveria ter sido um passeio pelo parque se transformou em um pesadelo, com reflexos não apenas para a CSU, mas para toda a paisagem política da Alemanha.

Horst Seehofer, líder da CSU e ministro do Interior da Alemanha, disse que "continuará a assumir responsabilidade". Mas isso não parece, por enquanto, incluir a renúncia como líder partidário. Líderes políticos da CSU estão pedindo ao governador do estado, Markus Söder, que assuma a liderança do partido. No entanto, considerando a má gestão da campanha eleitoral e baixas taxas de popularidade, é difícil ver como isso faria qualquer diferença.

Já Merkel afirmou que sua tarefa agora é recuperar a confiança do eleitorado no governo. "Minha lição é que eu, como chanceler, tenho que assegurar que a confiança seja resgatada nessa coalizão de governo. E que o resultado de nosso trabalho se torne visível. Trabalharei nisso com o máximo vigor", declarou.

Andrea Nahles, presidente do Partido Social-Democrata (SPD), admitiu que os 9,7% obtidos por sua legenda – queda de cerca de 10 pontos em relação às últimas eleições bávaras – foi um "mau resultado para o SPD" e também foi um "para todos os grandes partidos". Ela atribuiu o desastre, em parte, ao "mau desempenho da grande coalizão em Berlim", uma referência às brigas internas entre os partidos hoje no poder no governo federal, principalmente sobre as políticas de imigração, nos últimos seis meses.

Os grandes partidos vivem uma fuga de eleitores nas últimas eleições estaduais e especialmente nas eleições federais do ano passado. As legendas que dominam a política alemã há décadas e atualmente governam em nível nacional em uma coalizão composta por SPD, CDU e CSU, estão num momento de declínio.

Este tropeço pode significar início do fim de uma coalizão que nenhum dos partidos realmente quer e que, aos olhos de muitos eleitores, está se desintegrando ao invés de solucionar os principais desafios políticos do país, que vão da imigração à previdência.

As repercussões também podem ser dramáticas para Merkel. Outra eleição estadual está próxima. Em duas semanas, os eleitores vão às urnas no estado de Hessen, onde Volker Bouffier, da CDU, enfrenta uma dura batalha para continuar como governador. As últimas pesquisas mostram que os conservadores de Merkel podem ter dificuldades para quebrar a barreira dos 30%, uma meta já modesta se comparada aos 38,3% obtidos na última eleição em Hessen em 2013.

Se a queda livre do partido continuar no dia 28 de outubro, a chefe de governo alemã provavelmente enfrentará pedidos de dentro de seu partido para que não concorra novamente à reeleição como presidente da CDU na próxima convenção do partido, agendada para dezembro.

Mas, deixando de lado a queda livre dos grandes partidos, também há sinais de que a ascensão meteórica da legenda de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) pode estar chegando ao fim. Os populistas de direita obtiveram 10,2% dos votos e conseguiram entrar pela primeira vez na assembleia regional bávara. A AfD tem agora bancadas em 15 dos 16 estados da Alemanha. No entanto, considerando o desempenho na Baviera na eleição federal do ano passado, onde o partido conseguiu 12,4%, esse não é o avanço que os populistas de direita almejavam.

Os únicos verdadeiros vencedores dessas votações são os verdes. Amantes da UE, os ambientalistas conseguiram atrair eleitores insatisfeitos tanto da CSU quanto do SPD, quase dobrando sua cota de votos para 17,5%. O que impressiona é que eles conseguiram bons resultados não apenas nos grandes centros urbanos, como em Munique e Nurembergue, mas também em áreas rurais.

O perigo para o Partido Verde, que também ganhou popularidade em nível nacional, é que a legenda corre o risco de perder seu apelo de outsider e se tornar um grande partido, um volkspartei – como são chamados os partidos tradicionalmente maiores da Alemanha do pós-guerra, o CDU e o SPD –, caindo na armadilha da política tradicional.

Ninguém em Berlim quer agitar ainda mais a situação nesse período anterior às eleições estaduais em Hessen. No entanto, se a CDU e o SPD sofrerem outro golpe, o destino da chamada "grande coligação” pode ser posto em dúvida. Isso poderia levar a novas eleições, a um governo minoritário liderado pela CDU, ou a outra tentativa de formar uma coalizão entre CDU, CSU, liberais e verdes.

Nenhuma das opções é realmente palatável. Aliás, o que parece manter a coalizão unida, ainda que de forma tênue, é justamente a falta de boas alternativas.

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