Resultados da luta contra a pobreza devem ser celebrados?
7 de julho de 2017Miséria, fome, crises migratórias: na cúpula do G20, que se realiza em Hamburgo, não há como deixar de ouvir os alertas sobre um possível colapso do mundo. No entanto, estatísticas recentes apontam que há esperança na luta contra a pobreza extrema, doenças e conflitos.
"As condições de vida estão cada vez melhores. Em todo o mundo a pobreza recuou maciçamente", afirma o pesquisador alemão Max Roser, que atua na Universidade de Oxford e integra o número crescente de economistas, políticos e jornalistas dispostos a contrapor uma visão positiva às notícias apocalípticas.
No site Our World in Data (Nosso mundo em dados), Roser apresenta, em gráficos interativos, resultados positivos de projetos sociais de organizações humanitárias, das Nações Unidas e de governos na luta global contra a pobreza e a fome.
Brasil como inspiração
A inspiração para o projeto surgiu depois que Roser passou alguns meses no Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade, no Rio de Janeiro, em 2011, em viagem de pesquisa. Os programas sociais do governo brasileiro da época, que retiraram da pobreza mais de 20 milhões de cidadãos, o fizeram decidir-se a reunir as tendências positivas num livro.
O economista mostra que, desde 1990, o número de subnutridos no mundo caiu em 216 milhões. No Sudeste da Ásia, eles passaram de 30,6% da população total para 9,6%. Na África Ocidental, a redução foi de 24,2% para 9%; e na América Latina e Caribe, de 14,7% para 5,5%.
Em sua coluna Früher war alles schlechter (Antes, tudo era pior), na revista alemã Der Spiegel, o jornalista Guido Mingels também afirma que "o trabalho das últimas décadas está rendendo".
"Embora haja cada vez mais seres humanos no planeta, ao mesmo tempo há cada vez mais alimento per capita." O livro de Mingels que leva o mesmo título da coluna é best-seller na Alemanha.
Ainda muito trabalho a fazer
As boas notícias, no entanto, não ocultam o fato de que ainda há muito a fazer em prol de um mundo mais justo. Segundo o Programa Alimentar Mundial da ONU, 795 milhões de pessoas ainda são pobres demais para se alimentar devidamente.
Na África, 154 milhões não têm formação escolar, e na Ásia, essa cifra chega a 472 milhões. Também a malária, doença frequentemente fatal, não está erradicada, e em 2015 matou 400 mil no continente africano.
Para organizações humanitárias como a Deutsche Welthungerhilfe, esse sofrimento está em primeiro plano e, como comenta em seu relatório anual sobre a fome no mundo, "não há motivo para suspender o alarme".
Embora a fome nos países em desenvolvimento tenha retrocedido 29%, desde o ano 2000, "as melhorias precisam ser aceleradas urgentemente, a fim de alcançar até 2030 a meta de 'fome zero'", salienta a ONG alemã.
Nem desesperar, nem minimizar
Apesar da dinâmica positiva registrada por certos autores, as manchetes negativas dominam. "Considero um escândalo ético e político a comunidade mundial até hoje não ser capaz de empreender um esforço para dar fim à pior miséria no mundo", escreve o filósofo alemão Julian Nida-Rümelin num artigo de opinião para o portal Heute.de. A seu ver, não faltam recursos para tal.
Por sua vez, Roser e Mingels tentam afastar o medo do apocalipse e encorajar o engajamento. "Quem só quiser se fixar no número dos 795 milhões de famintos, pode e vai se desesperar", admite Mingels.
O fato de que hoje menos seres humanos passam fome do que há 20 anos também não autoriza a minimizar os problemas existentes, diz o colunista. "Só significa que muita coisa está ficando melhor."