De volta ao futuro?
1 de maio de 2008
Nos próximos seis anos, a Alemanha pretende colocar em funcionamento 24 usinas elétricas movidas a carvão mineral, parte das quais já está em construção, segundo informações da Federação das Empresas de Energia e Água (BDEW). Uma decisão na qual os ambientalistas encontram bons motivos para críticas.
Devido às suas altas taxas de emissão de dióxido de carbono, tais usinas são consideradas "assassinas do clima", além de "dinossauros tecnológicos". No balanço ambiental, mesmo as usinas a carvão mais modernas ficam em desvantagem quando comparadas com as movidas por fontes energéticas renováveis. Ainda assim, os fornecedores alemães planejam colocar em funcionamento, nos próximos cinco anos, apenas três usinas eólicas e duas solares.
Em face a essas perspectivas, é questionável se as ambiciosas metas climáticas de Berlim poderão ser alcançadas. Em abril de 2007, o ministro do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, anunciou que até 2020 o país deverá reduzir em 40% as suas emissões de gases-estufa (270 milhões de toneladas a menos). Essa é a meta que vale até hoje.
Dilema
As metas climáticas colocam as grandes operadoras alemãs de eletricidade, como Eon, RWE e EnBW, diante de um dilema: até 2022 a energia termonuclear deverá ter sido totalmente abolida e substituída por fontes renováveis. Porém, do ponto de vista econômico-administrativo, a construção e a operação de tais usinas é considerada pouco lucrativa.
O carvão oferece uma alternativa vantajosa, entre outros motivos, por ter reservas a longo prazo – cerca de 200 anos –, em oposição aos 50 anos que ainda deverão durar o petróleo e o gás natural do planeta.
Entretanto, cresce a resistência contra um retorno ao carvão. Devido a protestos dos cidadãos, a RWE suspendeu no final de 2007 a construção de uma unidade de 1.600 megawatts no Sarre. Também em Lubmin (Mar Báltico), Mainz, Krefeld e Hamburgo houve oposição aos planos de construção.
"Movimento anticarvão"
O especialista em questões climáticas Brick Medack, do grupo ambientalista WWF, já fala num "movimento anticarvão". "Não quero compará-lo ao movimento antinuclear da década de 80, mas existe uma nova consciência, avessa às usinas de carvão mineral. As pessoas se sentem incomodadas ao ver essas fábricas de poluição em suas vizinhanças. Além disso, as mudanças no clima global não combinam com carvão."
Stephan Kohler, diretor-gerente da Agência Alemã de Energia (Dena), já vê nos protestos uma ameaça ao abastecimento energético da Alemanha, uma opinião partilhada por lideranças políticas. A chanceler federal Angela Merkel e o ministro da Economia, Michael Glos, defendem as usinas de carvão: sem elas a segurança alemã estaria em perigo, afirmam.
Até mesmo o ministro Gabriel defende a construção das novas unidades e acusa seus opositores de pôr em jogo o futuro econômico do país. "Trata-se do núcleo de nossa sociedade industrial", declarou à revista Der Spiegel. Com sua resistência, as organizações ambientalistas estariam acarretando a prorrogação da vida útil das unidades termonucleares.
Lista de prioridades
Gabriel assegura que as novas usinas são compatíveis com a política pró-clima do governo alemão. "Podemos acrescentar dez usinas a carvão às que já se encontram em construção, sem ameaça às metas climáticas." Contudo, segundo os números do BDEW, já em 2014 a fronteira segura seria ultrapassada. E aí?
Diante do impasse envolvendo, de um lado, a proteção do clima e, do outro, a segurança energética, o diretor da Dena apresenta uma lista de prioridades. Bem no topo encontra-se o abandono da energia termonuclear, por ser simplesmente perigosa demais.
Renunciando a essa fonte, não há como deixar de passar pelo carvão mineral caso se queira evitar uma lacuna no abastecimento elétrico da Alemanha. Porém essa constatação precisa primeiro ser aceita pela população, ressalta Kohler.