Revolução na pesquisa climática
22 de dezembro de 2003Como ocorreu a passagem da época glacial para a época holocena? Que oscilações sofreu o clima mundial nos 12 milênios passados, desde o fim do plistoceno? Durante muito tempo, as respostas para essas questões foram buscadas no hemisfério boreal, já que os efeitos das transformações climáticas deixaram aí seus vestígios mais marcantes: seja nas geleiras da Groenlândia ou em sedimentações da costa atlântica. Verbas enormes foram gastas até agora nas pesquisas polares. O Atlântico Norte é entretanto a mais bem estudada de todas as regiões marítimas do mundo.
A partir do final da década de 90, a atenção dos pesquisadores dirigiu-se então em direção geograficamente contrária: às regiões tropicais. Desde então, a América do Sul, o Pacífico e a África constituem o centro das atenções nas investigações científicas sobre as transformações climáticas globais.
Trópicos importantes
Pesquisadores de todo o mundo realizaram os mais diversos experimentos na região em torno do equador. E puderam fazer constatações que até agora só se acreditava possível nas geleiras polares, mas não nos trópicos.
"Mudou-se o ponto de observação", resume Martin Trauth, professor do Instituto de Geociências da Universidade de Potsdam. Trauth é um dos poucos cientistas alemães que se ocupam, há anos, de pesquisar a importância das regiões tropicais nas transformações climáticas mundiais. Juntamente com colegas dos EUA e da França, sua equipe elaborou uma cronologia climática da África oriental. A pesquisa de sedimentos das margens do Lago Naivasha, no Quênia, conduziu à constatação de que o clima local começou a modificar-se provavelmente já há 150 mil anos.
Outros estudos feito nas proximidades do equador, por exemplo o do britânico Gideon Henderson, mostram que a transformação climática dos trópicos ocorreu até 15 mil anos mais cedo que nas regiões do hemisfério norte. Ou seja: a origem das mudanças climáticas não está localizada no Atlântico central, como se supunha até agora.
Aos trópicos atribui-se hoje um papel muito mais importante do que há dez anos, confirma também David Lea, pesquisador da Universidade de Santa Barbara, na Califórnia. O motivo é simples. As pesquisas recentes demonstram que a região tropical não é uma área que reage às mudanças do clima boreal. Ela própria é a fonte das transformações do clima mundial.
Manuais reescritos
Também os recifes de coral do Pacífico, as geleiras tropicais da América do Sul ou as análises do subsolo do Mar da China dão testemunhos de importantes transformações no clima mundial. Os diversos estudos científicos apresentam resultados análogos. As regiões do norte não podem ser responsáveis pelas mudanças do clima.
Há cerca de 15 mil anos, por exemplo, a temperatura média da água no litoral da Indonésia aumentou em um grau centígrado – e isso, num espaço de apenas 200 anos. Ao mesmo tempo, subiu também a temperatura da água em torno à Groenlândia, no norte da Europa. Essa ligação foi descoberta pelos cientistas alemães da Universidade de Kiel.
"Temos aqui uma região que é chave para nos ajudar a entender o clima mundial e a partir da qual ele sofre influências básicas", esclarece Karl Stattegger, professor de Geologia e Paleontologia da Universidade de Kiel.
Cenários naturais
Os resultados dessas pesquisas recentes têm influência direta sobre os estudos das atuais transformações do clima mundial. Pois através dos novos conhecimentos os pesquisadores podem melhorar os modelos teóricos de clima, elaborados para o estudo de mudanças possíveis.
Para permitir melhores previsões do tempo, esses modelos têm de ser testados. E o melhor caminho para isso, afirma o geólogo Martin Trauth, é através "de cenários que a própria natureza já criou uma vez". Mesmo que isso já tenha ocorrido há dezenas de milhares de anos.