Mercado imobiliário
30 de janeiro de 2009Na Europa e nos Estados Unidos, alguns proprietários encontraram na rifa uma maneira de vender seus imóveis e não perder dinheiro.
Devido à crise global, o mercado imobiliário está desvalorizado e os bancos apresentam obstáculos cada vez maiores aos empréstimos. Por mais absurdo que pareça, sortear uma casa numa espécie de loteria privada pode ser mais rentável que colocá-la à venda.
Sorte ou azar
A austríaca Traude Daniel, por exemplo, estava há seis meses tentando vender sua mansão em Klagenfurt, no sul do país, estimada em 830 mil euros. Como alternativa, ela sorteou o imóvel, vendendo 9.999 bilhetes de 99 euros. O vencedor da rifa ganhou uma casa de 400 m2 por menos de 100 euros, e a proprietária saiu com o lucro de quase160 mil euros em cima do valor de mercado.
Já o casal Conor e Kate Devine, da Irlanda do Norte, não teve tanta sorte, principalmente com a parte jurídica. Eles começaram a vender por 100 libras as rifas de sua casa perto de Belfast, com o objetivo de arrecadar 650 mil libras.
Mas em 12 de janeiro último, o casal anunciou em seu site que as vendas estavam suspensas. A firma responsável pelos pagamentos online revira seus termos e condições, afirmando "não estar preparada para oferecer seus serviços a competições nas quais o prêmio é uma propriedade". Porém o casal irlandês não desistiu e promete que a loteria prosseguirá assim que conseguirem novo financiamento.
O jeitinho alemão
Na Alemanha, a história é um pouco diferente. É complicado recorrer aos sorteios, pois a legislação é mais rígida e o Estado possui monopólio sobre os jogos de azar.
A fim de evitar problemas com a justiça alemã, o bancário Volker Stiny foi atrás de assessoria jurídica. "Demorou um tempo para encontrar um advogado que estivesse na posição de mostrar o melhor caminho entre as leis e regras", disse ele ao site alemão Spiegel Online.
Obstáculos superados, Stiny colocou o seu site no ar. O principal diferencial está no tipo de jogo oferecido. Em vez de comprar uma rifa, os interessados pagam 19 euros para se cadastrar em um quiz, que traz perguntas como: "Qual estilo de nado que leva o nome de um inseto?"
As questões são de múltipla escolha e tornam-se mais difíceis com o avanço nas rodadas. Os 100 vencedores desta etapa concorrem a carros, televisões de tela plana, uma moto e outros prêmios, assim como a casa de 156 m2 no sul da Baviera. Outra novidade do site é a doação de 20 mil euros para a fundação Kinder in Afrika (Crianças na África).
Para cobrir os custos de 150 mil euros com publicidade e internet, Stiny depende do cadastro de 48 mil usuários, até 1º de março. Até agora, mais de 28 mil pessoas cadastradas esperam o sorteio dos prêmios no dia 15 de março.
Se o objetivo for alcançado, o bancário terá 912 mil euros em caixa, certamente um montante lucrativo para uma mansão avaliada em 600 mil euros. Caso Stiny não consiga o número de usuários necessários, ele colocará online a versão da página em inglês. A tradução já está pronta.
Leis nebulosas
Até o momento, o único problema com a Justiça foi na própria Baviera. As autoridades determinaram que jogadores do estado não poderiam mais se cadastrar no site a partir da última quinta-feira (30/01). Segundo eles, o jogo de Stiny teria infringido leis que regulamentam jogos de azar no país.
O bancário entregou o problema a seus advogados e está avaliando uma solução técnica para eliminar novos jogadores da Baviera. Se Stiny desrespeitar a decisão da Justiça, terá de pagar multa.
O mestre e seus pupilos
Embora o lucro de Stiny ainda não esteja totalmente confirmado, muitos o procuram para pedir dicas. Ele diz receber de 20 a 30 telefonemas por dia, além de 4.500 e-mails. Até mesmo corretores de imóveis se encontram entre os interessados.
Mas Stiny deixa claro que um site deste tipo exige muito trabalho, tempo e dinheiro. E recomenda que os proprietários tenham de 10 a 20 mil euros disponíveis para dar início ao jogo, sem contar com publicidade.
Ele também adverte seus pupilos sobre a dor de cabeça que a legislação alemã pode trazer. Segundo ele, existem ciladas jurídicas que tornam a realização do projeto muito complicada. "Vocês têm de se preparar para um longo processo contra as autoridades e respirar fundo. Também vão precisar de bons nervos", alerta.