Riqueza lingüística em tempos de caixas vazios
26 de setembro de 2004Políticos europeus louvam com prazer a diversidade existente sob a sigla da União da Européia. Também com prazer afirmam que a UE faz de tudo para que essa diversidade perpetue. Inclusive a variedade de línguas, obviamente, que é, de acordo com a denominação da própria UE, a "riqueza da Europa".
Identidade cultural
Sem dúvida: em nenhuma outra região do planeta, há tanto incentivo à prática de idiomas. Até mesmo a dos chamados minoritários, falados às vezes apenas por um número reduzido de pessoas. Estes incentivos vão da pesquisa lingüística até aos recursos destinados a associações culturais, voltadas para o aprendizado dos idiomas pelas próximas gerações.
Estas medidas são bem-vindas, mesmo nos casos em que tais idiomas adquirem cada vez mais o caráter de museu, como é o caso do sorbisch no Leste alemão. Pois a língua carrega muito da cultura de um povo, estando, por isso, estreitamente aliada à identidade cultural de um país.
Tarefas para um comissário
Com o ingresso recente de dez novos países na UE – com nove línguas oficiais e alguns idiomas falados por minorias – o tema passou a integrar, pela primeira vez de forma direta, a lista de tarefas de um comissário da UE: a do eslovaco Ján Figel, que será responsável, a partir de novembro próximo, por Educação, Cultura e Idiomas. Figel deverá fazer de tudo para que a Europa, ao contrário do que muitos temem, não acabe um dia falando apenas inglês.
Não, na verdade, é uma tendência oposta a isso que causa preocupação. Pois nos 15 países da "antiga" UE, menos da metade da população domina um idioma estrangeiro a ponto de ter segurança para estabelecer um diálogo. Certamente há outras tendências, que apontam para o contrário: por exemplo, o fato de que há um número cada vez maior de países, onde o ensino de uma língua estrangeira já começa nas escolas primárias. Também na Alemanha há alguns projetos-piloto neste sentido.
Limites do aprendizado
No entanto, não se deve manter ilusões: a idéia de que seria maravilhoso se todos os cidadãos da UE falassem pelo menos um idioma estrangeiro ainda não chegou à cabeça dos políticos dos países do bloco. Um exemplo de como o modelo "ensino de línguas sem meta de aprendizado" funciona bem, pode ser visto nas escolas do Reino Unido.
Ali, a filosofia que paira sobre as cabeças é a de que o mundo inteiro fala mesmo inglês. Ou seja: para que aprender outra língua? Mas também em países como Espanha, Portugal, Itália e França, o tão propagado "espírito europeu", no caso do aprendizado de idiomas estrangeiros, têm seus limites.
Bruxelas e Estrasburgo: paraísos da diversidade
Ao mesmo tempo, nas centrais da UE em Bruxelas e Estrasburgo, surge um paradisíaco habitat natural da diversidade lingüística. Diga-se de passagem, um habitat que, a cada ingresso de um novo país-membro no bloco, passa a custar mais caro ainda.
Com a ampliação da UE em direção ao Leste Europeu, o número de idiomas oficiais passou para 20 e as despesas com tradutores e intérpretes ultrapassaram a marca de um bilhão de euros por ano. Como aguarda-se a futura entrada de outros países, os custos também aumentarão ainda mais.
Justiça a qualquer preço?
Se a UE ainda vai poder por muito mais tempo continuar praticando sua "justiça lingüística", é de se duvidar. Em casos de emergência, há de se questionar, por exemplo, por que o maltês é considerado idioma oficial, se o catalão – falado por 13 vezes mais pessoas – não é.
Mesmo entre todos os belos discursos sobre a riqueza lingüística, não se deve esquecer de uma coisa: se os caixas se esvaziarem ainda mais, a UE terá que pensar de forma mais pragmática. As vozes que reclamam dois ou três idiomas para Bruxelas e Estrasburgo – inglês, francês e eventualmente alemão – já ecoam. E, no futuro, deverão ressoar ainda mais alto.