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Roman Herzog, o defensor das reformas

Anja Fähnle ca
10 de janeiro de 2017

Antigo presidente da Alemanha tornou-se conhecido pelo "discurso da sacudida", no qual defendeu profundas reformas no país e disposição de políticos e população para fazer e aceitar mudanças.

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Roman Herzog
Roman Herzog, que foi presidente alemão entre 1994 e 1999, faleceu aos 82 anosFoto: Getty Images/A. Rentz

Ex-presidente alemão Roman Herzog morre aos 82 anos

"Nunca quis ser um presidente para se tocar, mas um presidente para se conversar e para compreender", declarou Roman Herzog em seu discurso de despedida no cargo de chefe de Estado alemão em 1° de julho de 1999. Herzog, cuja morte, aos 82 anos, foi comunicada terça-feira (10/01) pelo escritório presidencial em Berlim, queria compreender os alemães – e, ao mesmo tempo, instá-los à renovação de seu país.

E foi isso que ele deixou claro em sua lendária fala no dia 26 de abril de 1996 em Berlim, que ficou conhecida como Ruck-Rede, ou "discurso da sacudida": "A Alemanha precisa de uma sacudida. Devemos dizer adeus à nossa amada situação adquirida", declarou Herzog, acrescentando que todos teriam que fazer sacrifícios. "A perda do dinamismo econômico, a paralisação da sociedade, uma incrível depressão mental": com essas palavras-chave, o chefe de Estado resumia a crise em que o país então se encontrava. Ele apelou à força e determinação dos alemães para sair dessa situação por conta própria.

Início difícil

Na sua eleição à presidência alemã, em 23 de maio de 1994, o candidato dos partidos conservadores CDU/CSU (União Democrata Cristã/União Social Cristã), conseguiu a maioria necessária contra o adversário social-democrata Johannes Rau apenas na terceira votação. Foi um início difícil para Herzog, também porque ele era a segunda escolha para a CDU/CSU. Inicialmente, o ex-chanceler federal Helmut Kohl pretendia enviar outro candidato para a disputa, o então secretário de Justiça da Saxônia Steffen Heitmann. Esse, no entanto, logo se desqualificou por causa de duvidosas afirmações sobre o passado alemão e, devido à pressão pública, retirou a candidatura.

Ao se tornar presidente alemão após o terceiro escrutínio, Herzog se dirigiu deliberadamente para aqueles que, por bons motivos, não puderam lhe dar o voto: "Vou me esforçar para executar o cargo de forma que, no final, quem não tenha votado em mim se arrependa", afirmou o ex-chefe de Estado, colhendo aplausos e risos.

Ehemalige Bundespräsidenten
Herzog (dir.) com ex-colegas de pasta em 2010 (da esq. para dir.): Horst Köhler, Richard von Weizsäcker e Walter ScheelFoto: picture-alliance/dpa

Realista e sóbrio

A escolha desinibida de palavras e a ironia se tornaram sua marca registrada. "O glamour nunca lhe subiu à cabeça, ele sempre manteve os pés no chão", assim o ex-chanceler federal Helmut Schmidt descreveu Herzog durante um discurso em sua homenagem, proferido em 2003. Schmidt afirmou, porém, que Herzog era ousado e independente em seu pensamento. "Ele é capaz de avaliar de maneira muito sóbria a si mesmo e aos outros", apontou Schmidt.

Originário da Baviera, Herzog nasceu em 1934 em Landshut e, em 1970, filiou-se à CDU, quando já era professor de ciências políticas e teoria do Direito e do Estado. Em 1973, ele entrou para a política; dez anos mais tarde, para o Tribunal Constitucional Federal, em Karlsruhe. Quatro anos depois, assumiu a presidência da principal corte do país. Embora tenha permanecido ligado á sua terra natal, a Baviera, durante toda a sua vida, "ao mesmo tempo, ele se tornou um cosmopolita", disse Helmut Schmidt.

"Eu peço perdão"

No exterior, o presidente Roman Herzog desfrutava de grande reputação. Nesse cenário, ele pôde contribuir muito para melhorar as relações internacionais do pais. "Eu sempre dei muita importância a isso, que foi algo bem-sucedido em grande parte", disse Herzog à DW em maio de 1999. Ele dedicou especial importância aos países do Leste Europeu.

Por ocasião do 50° aniversário do Levante do Gueto de Varsóvia, em 1° de agosto de 1994, ele se curvou, como afirmou em seu discurso, diante daqueles que combateram o regime de ocupação nazista, principalmente as vítimas polonesas de guerra: "Eu peço perdão pelo que foi feito a eles pelos alemães". Ele falava, assim, aos sentimentos de muitos poloneses e recebeu uma resposta positiva tanto na Polônia como na Alemanha.

A lembrança da ditadura nazista permaneceu uma de suas principais preocupações. No início de janeiro de 1996, ele transformou o dia 27 de janeiro – com a aprovação de todos os partidos – num data em memória das vítimas do nazismo. Naquela data, em 1945, foi libertado o campo de concentração de Auschwitz, "por isso a minha advertência para lembrar e transmitir essa lembrança", declarou Herzog em 19 de janeiro de 1996 perante o Bundestag (Parlamento alemão).

Em seu discurso de despedida da presidência, em meados de 1996, ele disse, em tom irônico, que deliberadamente não deixava um legado político. Em primeiro lugar, argumentou, já teria expressado o que lhe era importante, perante o Bundestag em 24 de maio de 1999, por ocasião do 50° aniversário da República Federal da Alemanha. Herzog continuou, dizendo: "em segundo lugar, estou me despedindo de um cargo, não da vida".