Romênia vai à urna sob sombra da Rússia e ultradireita forte
1 de dezembro de 2024Os romenos vão às urnas neste domingo (01/12) em eleições parlamentares em que se espera que a extrema direita obtenha ganhos e em meio a incerteza sobre se será mantido o resultado surpreendente do primeiro turno da eleição presidencial, realizado há uma semana no país.
O Tribunal Constitucional ordenou a recontagem da votação após a vitória inesperada do ultradireitista pró-russo Calin Georgescu em meio a acusações de ingerência de Moscou.
A vitória surpreendente inflou o apoio dos eleitores a partidos ultranacionalistas e de extrema direita, alguns com simpatias pró-russas evidentes, que poderiam abalar a orientação pró-ocidental da Romênia e minar o apoio à Ucrânia, segundo analistas políticos.
Político pouco conhecido, Georgescu, apoiado por uma sofisticada e controvérsia estratégia no TikTok que alcançou centenas de milhões de visualizações, alegou não ter gasto nenhum dinheiro em sua campanha, levantando suspeitas de financiamento ilegal e interferência russa.
Após uma campanha dominada pelas preocupações dos eleitores com os problemas orçamentários e o custo de vida, a eleição coloca os candidatos de ultradireita contra os principais partidos pró-europeus que cansaram seus eleitores com brigas internas e alegações de corrupção.
Os partidos de ultradireita também usam o fato de a Romênia defender a Ucrânia para alimentar o temor de que a guerra possa se espalhar pela fronteira, a menos que o país interrompa seu apoio, assim como aumentar o ressentimento em relação ao suposto tratamento preferencial para os refugiados da Ucrânia.
A incerteza política pode favorecer as forças ultranacionalistas e punir as siglas governistas Partido Social Democrata (PSD) e Partido Nacional Liberal (PNL), que dominaram a política romena nas últimas décadas.
Uma pesquisa prevê a vitória nessas eleições legislativas à ultranacionalista Aliança para a União dos Romenos (AUR), com 22,4%, seguida pelo PSD, com 21,4%, e pelo partido pró-europeu Salve a Romênia (USR), com 17,5%.
Dois partidos dissidentes de extrema direita também têm chances de entrar no Parlamento, potencialmente dando aos ultranacionalistas um terço dos assentos no legislativo.
Preocupações sobre ingerência russa
O sucesso inesperado de Georgescu no último domingo levantou preocupações sobre uma interferência russa na campanha, provocou uma recontagem de votos e levou um candidato derrotado a pedir a repetição do primeiro turno da votação ao Tribunal Constitucional do país.
Com a confusão, a eleição parlamentar ocorre com os eleitores incertos se o resultado do primeiro turno da votação presidencial será mantido.
Eles também não sabem se o segundo turno presidencial – marcado para 8 de dezembro entre Georgescu e a centrista Elena Lasconi – prosseguirá como agendado ou será realizado em uma data posterior, o que o tribunal deve decidir na segunda-feira.
Georgescu, 62 anos, tem criticado a Otan e a postura da Romênia em relação à Ucrânia e disse que Bucareste deveria se aproximar d a Rússia, e não desafiá-la. As pesquisas de opinião não previram seusucesso.
O presidente em fim de mandato da Romênia, Klaus Iohannis, defendeu a manutenção do curso euro-atlântico do país.
"Os romenos escolheram o caminho euro-atlântico e o escolheram bem, e estamos bem integrados à União Europeia e somos altamente respeitados dentro da Otan. Mas para que isso continue assim, temos que votar dessa forma", disse Iohannis após comparecer à votação.
Escolha entre "estabilidade e o caos"
O primeiro-ministro social-democrata, Marcel Ciolacu, que está deixando o cargo, também alertou que "os romenos precisam escolher entre a estabilidade e o caos, entre o desenvolvimento e os fundos europeus ou a falta de fundos para pensões e salários".
Os políticos de ultradireita lançaram mensagens nacionalistas e contra os partidos tradicionais, que eles culpam pela falta de desenvolvimento e oportunidades na Romênia, o segundo país mais pobre da UE.
George Simion, líder da AUR, disse: "Eu votei para que, pela primeira vez em 35 anos, possamos nos libertar das correntes, das algemas, daqueles que tentam nos manter prisioneiros da pobreza em um país rico".
O líder populista de ultradireita prometeu que, se chegar ao poder, suspenderá a ajuda militar à Ucrânia e, em uma retórica semelhante à de Viktor Orbán, ele que quer "paz" e uma "trégua" no conflito desencadeado pela invasão russa.
md (EFE, Reuters)