Rosetta a caminho dos mistérios do sistema solar
2 de março de 2004Após dois adiamentos devido a mau tempo e problemas técnicos, o foguete Ariane-5 partiu na manhã desta terça-feira (2/3) do Centro Espacial Europeu em Kuru, Guiana Francesa.
A bordo vai a sonda espacial européia Rosetta. No Centro de Controle da Agêngia Espacial Européia (ESA), em Darmstadt, o lançamento do foguete e o recebimento de seus primeiros dados no espaço foram acompanhados e festejados por centenas de pessoas.
Originalmente, a missão de Rosetta deveria ter começado há um ano, mas teve de ser adiada por causa de um defeito no foguete Ariane-5. O objetivo inicial era pesquisar o cometa Wirtanen, mas por causa do atraso sua órbita não seria mais alcançada.
O novo destino é o cometa Chrurymov-Gerasimenko, ao qual a Rosetta deverá chegar em 2014, depois de realizar uma viagem de 5 bilhões quilômetros através do sistema solar. A missão será concluída em dezembro de 2015, mais de dez anos depois de iniciada a sua aventura.
Sonda, cometa e robô
Para percorrer tamanha distância, a sonda Rosetta funcionará à base de energia solar, captada pelos seus dois painéis solares de 14 metros de extensão com uma área total de 64 metros quadrados.
A sonda leva ao todo 11 instrumentos científicos para captar imagens e realizar medições do cometa Chrurymov-Gerasimenko. Ela ficará girando em volta do cometa, em órbita de 10 quilômetros.
O nome do cometa é uma homenagem aos dois cientistas soviéticos (Chrurymov e Gerasimenko) que o descobriram em 1969. Com um núcleo de apenas quatro quilômetros de diâmetro, ele dá uma volta em torno do sol a cada 6,6 anos terrestres e numa distância que varia entre 186 e 857 milhões de quilômetros do sol.
Ao chegar no cometa Chrurymov-Gerasimenko, a sonda Rosetta cumprirá a parte mais espetacular de sua missão, largando o módulo Philae, que será o primeiro veículo a pousar sobre a superfície de um cometa.
Philae é um robô de 100 quilos, construído por um consórcio europeu liderado pelo Instituto Alemão de Pesquisa Espacial (DLR). Ele possui um inovador sistema de aterrissagem anti-choque e ao pousar no cometa soltará duas âncoras que o prenderão à superfície.
Dotado de nove instrumentos científicos, Philae deverá analisar os materiais e a estrutura do cometa, sobretudo a composição das moléculas orgânicas, minerais e ferros. O robô foi construído para agüentar durante seis meses as duras condições meteorológicas da superfície do cometa Chrurymov-Gerasimenko.
Decifrando hieróglifos e mistérios do cometa
Os cometas são considerados os corpos celestes mais antigos do Universo. Em princípio, não passam de gigantescas bolas de neve, compostas de gelo e diversos gases congelados, misturados a partículas de poeiras.
A composição dos cometas manteve-se estável durante os últimos 4,5 bilhões de anos, de forma que os cientistas acreditam que sua análise pode oferecer dados preciosos sobre a formação do sistema solar.
Aliás, o nome da missão européia é uma homenagem à “pedra da roseta”, descoberta em 1799 no Egito e levada para o Museu Britânico de Londres. Foi comparando as inscrições na pedra de roseta, de 762 quilos, que os historiadores conseguiram decifrar os hieróglifos, a escrita dos antigos egípcios.
Da mesma forma, os cientistas que conceberam a missão Rosetta esperam poder decifrar os mistérios do sistema solar.
Custos da missão
A Agência Espacial Européia investiu 770 milhões de euros na missão. Além disso, os países envolvidos no projeto realizaram investimentos em pesquisas e experimentos, de forma que os custos globais se elevam a mais de um bilhão de euros. A Alemanha é o país que prestou a maior contribuição, no valor de 290 milhões de euros.
A viagem da Rosetta está sendo acompanhada também pela estação terrestre da agência européia em New Norcia, Austrália. Esta estação tem uma antena de 35 metros de diâmetro que pode captar sinais de veículos espaciais a uma distância de 900 milhões de quilômetros da Terra.