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RS capta R$ 18 milhões em Frankfurt para Mata Atlântica

Simone de Mello, de Berlim21 de agosto de 2002

Governador assina convênio com Banco da Reconstrução. Entrevistado por Simone de Mello, Olívio Dutra fala sobre os temas da visita à Alemanha e as relações internacionais de um eventual futuro governo federal petista.

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Desdobramentos do Fórum Social Mundial, também na agenda da visita de DutraFoto: AP

Através do orçamento participativo e do combate à corrupção, o Rio Grande do Sul ganhou credibilidade especial junto às instituições internacionais, como o Banco Mundial e a ONU. Entre 1995 e 2001, os investimentos alemães no RS cresceram 16,4%, quase três vezes mais do que em todo o Brasil. A balança comercial bilateral é praticamente equilibrada. Em 2001, o RS exportou para a Alemanha 210 milhões e importou 263 milhões de dólares. Mesmo assim, a cooperação poderia ser mais intensa, na opinião do governador Olívio Dutra.

Estas e outras razões justificam a visita do petista à Alemanha. Na segunda-feira, Dutra assinou em Frankfurt um convênio para financiamento de projeto ambiental. No dia seguinte, esteve em Berlim, onde visitou primeiro a Fundação Rosa Luxemburgo, ligada ao Partido do Socialismo Democrático (PDS). Lá, o governador colheu elogios pela criação da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) e apresentou o projeto da Universidade Social, fruto dos debates do Fórum Social Mundial e que deverá oferecer seus primeiros cursos na terceira edição do encontro em Porto Alegre, no próximo verão.

Em reuniões com autoridades do Ministério da Defesa do Consumidor e Agricultura e empresários, os alemães mostraram interesse em ampliar as importações de carne, soja e arroz gaúchos. A produção de alimentos não transgênicos e o orçamento participativo foram, por sua vez, os principais temas de um debate na Embaixada do Brasil, com cerca de 30 empresários e representantes da política alemã.

Nesta quarta-feira, o governador está novamente em Frankfurt e encontra-se com executivos da Steag, que lidera o consórcio de construção da Usina Termelétrica Seival, em Candiota. Em Berlim, Olívio Dutra conversou com o DW-WORLD.

Qual o propósito da sua reunião com a Fundação Rosa Luxemburgo?

A Fundação Rosa Luxemburgo já mantém relações com a Universidade Estadual (Uergs) criada pelo nosso governo, que está funcionando em 21 regiões, com 11 cursos e mais de 1700 alunos. A proposta é de uma universidade social, com temas de interesse mundial e valores não balizados pelo mercado e pelo lucro, mas sim pela solidariedade.

A universidade social seria uma concentração da reflexão sobre temas como economia solidária, democracia participativa, processo de transformação social, desenvolvimento sustentável, direitos humanos, paz mundial, ecologia, ou seja, sistematização das experiências sociais e de produção técnica que respondam ao desafio da construção de um mundo pós-neoliberal. Em suma, questões estratégicas e de fundo para serem debatidas em ocasiões especiais, como no Fórum Social Mundial.

Como vão ser investidos os recursos do Banco de Reconstrução da Alemanha?

Assinamos um contrato de contribuição financeira entre o KfW (Kreditanstalt für Wiederaufbau) e o Estado do RS para um projeto de desenvolvimento ecologicamente sustentável, economicamente viável e socialmente justo. Os 6.135.502,57 euros (aproximadamente 18 milhões de reais) vão ser usados para a conservação da Mata Atlântica no território gaúcho. Os recursos serão utilizados para infra-estrutura, educação ambiental, fiscalização e manejo sustentável desta vasta área de quase 12 mil quilômetros quadrados à qual se refere o contrato.

Nossos parceiros na execução do projeto são as prefeituras, o batalhão ambiental da Brigada Militar e as ONGs. Estamos só aguardando a aprovação do convênio pelo Senado, para começarmos a aplicação do primeiro desembolso de 750 mil reais. A votação está por acontecer no final deste mês. A contrapartida do estado é a colocação de pessoal nas unidades de conservação beneficiadas, para executar a nossa política de proteção desta importante reserva biológica. Fundamental também é o manejo adequado que possibilite a geração de renda para as famílias de pequenos agricultores e para o turismo ecológico.

Um dos argumentos da campanha antipetista é a pretensa ameaça de isolamento político do Brasil no cenário internacional, caso o Lula seja eleito presidente. Há este risco?

Esse argumento não tem qualquer fundamento. A própria realização do Fórum Social Mundial em Porto Alegre é um desmentido prático desse isolacionismo. Muito pelo contrário: apoiamos o pluralismo de idéias porque queremos globalizar não o mercado e o lucro, mas sim a solidariedade, a democracia, a liberdade, o fim dos preconceitos e das guerras. Uma possível vitória do Lula, pela qual estamos trabalhando intensamente, vai ampliar ainda mais as relações do Brasil com o mundo, mas de forma soberana e não subalterna. A idéia é naturalmente manter melhores relações econômicas com os países do capitalismo hegemônico, mas romper com barreiras do preconceito e da subordinação.

Houve mudanças perceptíveis nas relações bilaterais desde que os social-democratas e verdes assumiram o poder na Alemanha?

Acho que mudou para melhor. Dá para sentir uma visão mais solidária nas relações que as instituições governamentais alemãs estabelecem no mundo. Nós prezamos muito isso. Temos que impedir que os organismos internacionais, como a própria ONU, não sejam controlados por meia dúzia de países economicamente mais fortes. Neste sentido, os partidos políticos de centro-esquerda são mais comprometidos com uma política de solidariedade. Isso é um bom sinal.

Em quais setores a Alemanha poderia estar mais presente no Rio Grande do Sul?

Precisamos de investimentos produtivos e temos interesse que certos setores industriais alemães se instalem no RS. Por exemplo, a produção de equipamentos para geração de energia eólica, uma fonte de energia limpa que pode resolver problemas de áreas distantes. Já temos um mapa da potencialidade eólica do RS, uma das maiores do país. Também nos interessa a tecnologia alemã para produzir energia de carvão com maior grau de limpeza. Transferir tecnologia adaptável à nossa realidade também é um papel importante.

Com a Alemanha, também temos relações antigas na área da agricultura, em particular a agricultura de economia familiar. A Alemanha tem estado presente numa das maiores feiras agroindustriais da América Latina e do mundo, a Expo-Inter, que acontece no RS. Além disso, poderíamos intensificar a cooperação nas áreas de educação e cultura, como intercâmbios escolares e universitários, ou em atividades culturais, como teatro, música e literatura.