"Holger, a luta continua!"
25 de março de 2013Quando a jovem norte-americana Gretchen Klotz chegou à Alemanha em 1964, os efeitos da Segunda Guerra Mundial ainda estavam muito presentes: nas cidades, com tantas casas destruídas, e nas universidades, onde se protestava contra professores e políticos de passado duvidoso.
"A insistente indagação sobre o passado nazista da geração dos pais foi uma particularidade do movimento de 68 na Alemanha. Ao mesmo tempo, nos EUA discutia-se a situação da população negra", comenta, aos 70 anos de idade, Gretchen Dutschke-Klotz o fenômeno mundial de revolta contra a classe política.
"Nós podemos mudar a sociedade"
Na Alemanha, o ano de 1968 está associado sobretudo a um nome: Rudi Dutschke. Como porta-voz da União Estudantil Socialista Alemã (SDS, do alemão), ele constantemente conclamava a manifestações. Foi por esse rapaz que Gretchen se apaixonou quando cursava a faculdade de Teologia, e com quem se casaria mais tarde. Junto a Rudi, ela enfrentou a agitação social da época.
"O clima no início era de muita euforia, pois cada vez mais gente aderia ao nosso movimento. Isso nos dava a sensação de realmente poder mudar algo", recorda Gretchen Dutschke-Klotz. Nós, estudantes, queríamos mudar nada menos do que os pilares básicos da sociedade. Alguns consideravam o sistema político da República Federal da Alemanha autoritário, além disso, protestavam contra a Guerra do Vietnã e contra a opressão no Terceiro Mundo. Para outros, a estrutura familiar burguesa, em si, já representava um sistema repressor, e através de ações com grande repercussão apareciam com frequência na imprensa. O mais avançado desses grupos era a Kommune 1, em Berlim: uma república onde tudo era partilhado, desde o apartamento até os parceiros.
Na mochila, comida para uma noite na cadeia
Por algum tempo, protestar era considerado um jogo atrevido, do qual as detenções faziam parte. "Eu me lembro de uma passeata, onde nos misturávamos aos passantes, distribuindo panfletos. Tínhamos comida na mochila porque já contávamos passar uma noite na cadeia", conta Gretchen Dutschke-Klotz com um leve sorriso na voz.
Em seguida, fica séria: "Com o tempo, passei a ter medo, e Rudi também sentiu que as coisas ficavam perigosas. Então picharam o nosso apartamento com palavras de ordem e os grandes jornais conservadores começaram a atacar Rudi, dizendo que era um 'inimigo de Estado'. E muita gente acreditava no que a imprensa escrevia".
O movimento de 1968 passou ao largo de grande parte da sociedade alemã. "Ele passou completamente despercebido pelos trabalhadores e sindicatos. Isso foi uma das grandes diferenças em relação à França", explica Gerd Langguth, professor de Ciências Políticas na Universidade de Bonn.
Em Berlim Ocidental, na época incrustada dentro da Alemanha comunista, o movimento estudantil de esquerda se deparou com uma forte postura anticomunista e uma grande resistência. Ali acontecia a maioria dos protestos estudantis. O clima era especialmente violento e acabou provocando as primeiras vítimas.
Oposição e brutalidade em Berlim Ocidental
Em 1967, o estudante Benno Ohnesorg morreu baleado por um policial durante uma manifestação contra a visita do xá da Pérsia. Em 1968, Rudi Dutschke sobreviveu a um atentado praticado por um operário de extrema-direita. A partir disso, milhares de estudantes foram às ruas, em confronto com os policiais, determinando durante longos anos o clima nas universidades do país.
"Havia uma polarização total: ou se era a favor ou contra o movimento de 68", conta Gerd Langguth sobre seu tempo de estudante, no início dos anos 1970. Na ocasião, ele presidia a Associação dos Estudantes Democrata-Cristãos, que era conservadora e contrária aos estudantes de esquerda. "Quando eu dava uma palestra, às vezes era agredido com violência. Não havia campo para debates amigáveis." E ressalta: "Rudi Dutschke também ultrapassou várias vezes a linha da violência, pelo menos verbalmente".
"Holger, a luta continua!" Em 1974, essa frase projetou Rudi Dutschke no círculo do terrorismo. Pois Dutschke a pronunciou diante da sepultura de Holger Meins, um membro da Facção do Exército Vermelho (Rote Armee Fraktion – RAF) que morrera na prisão em consequência de uma greve de fome. A RAF era um grupo extremista dissidente do movimento de 68, que aterrorizou a Alemanha Ocidental com atentados e sequestros contra lideranças políticas e do setor da economia até 1990.
"Alemães ficaram muito mais soltos"
Posteriormente, Dutschke afirmaria que a violência impedia o caminho para uma sociedade mais justa. "Rudi julgava que o instrumento certo não era o terror, mas o esclarecimento. Ele percebeu que a RAF, com seus atentados, iria destruir os objetivos do movimento de 1968", diz a viúva.
Rudi morreu em 1979, vítima de sequelas tardias do atentado. Até hoje, alguns dos participantes dos protestos da época discutem o que o movimento liderado por Dutschke conseguiu alcançar na Alemanha.
Gretchen Dutschke-Klotz acredita que os alemães tenham aprendido com 1968 que a democracia não existe para os detentores do poder, mas sim para as pessoas participarem. Quando ela se mudou pela segunda vez dos EUA para a Alemanha, em 2009, encontrou um país diferente do de 1964: "A sociedade alemã ficou muito mais relaxada".
Autoria: Regina Mennig (smc)
Revisão: Roselaine Wandscheer