Ryanair irlandesa desafia Lufthansa com propaganda agressiva e preços baixos
25 de janeiro de 2002A companhia aérea irlandesa Ryanair tem objetivos ambiciosos: dentro de seis anos, ela quer passar a Lufthansa para trás, admitiu seu presidente Michael O'Leary em entrevista ao jornal econômico Handelsblatt (25). Enquanto a Lufthansa alemã é a segunda companhia da Europa, a Ryanair é uma nova estrela nos céus, que vem conquistando o mercado por oferecer vôos a preços irrisórios.
Como transportou 7 milhões de passageiros no último ano fiscal, para muitos já deixou de ser uma desconhecida. Quem não quer viajar, por exemplo, a Montpellier, no sul da França, por 20 euros? O preço é 90% mais em conta que o das companhias tradicionais. E mesmo assim ela parece fazer bons negócios, pois enquanto outras estão em crise e despedem milhares de funcionários, a Ryanair conta com um aumento de 25% do número de passageiros.
Encomenda bilionária é sinal de força
Na quinta-feira (24), a Boeing anunciou que a Ryanair encomendou 100 aviões 737, no valor de 9 bilhões de dólares, e assinou uma opção para mais 50. Atualmente ela possui apenas 36 aviões. Na próxima semana, pretende anunciar seis novos vôos, um deles ligando Londres e Berlim. A partir de 2003 oferecerá também vôos internos na Alemanha. "Nós queremos expandir bastante no mercado alemão e, no momento, estamos negociando com oito aeroportos", disse O'Leary, que a imprensa alemã chama de "irlandês maluco e rebelde dos ares", fazendo trocadilho com as palavras irre (louco) e Ire (irlandês).
Para conquistar clientela, a companhia irlandesa recorre a uma publicidade que os concorrentes consideram agressiva e desleal, tanto é que a Lufthansa recorreu aos tribunais com ganho de causa. Para os irlandeses, isso não importa: "falem mal, mas falem de mim" parece ser seu lema, pois qualquer manchete na imprensa é lucro. Numa propaganda, por exemplo, a Ryanair afirmava que os preços da Lufthansa eram abusivos e mostrava, numa tabela, que conseguia voar de Frankfurt a outras cidades européias por um preço até 90% inferior.
O truque dos aeroportos
O pequeno detalhe que derrubou a propaganda no tribunal foi justamente a questão do aeroporto, pois a Ryanair não chamou a atenção para a diferença entre o aeroporto de onde partia a Lufthansa (Frankfurt) e de onde partiam os seus vôos: de Hahn. Este aeroporto, antes pertencente a uma base norte-americana, situa-se a 90 quilômetros de Frankfurt e em outro estado. Mas na propaganda da linha aérea irlandesa, seus vôos constavam como saindo de "Frankfurt-Hahn".
Os juízes proibiram o anúncio como propaganda desleal, afinal a designação do aeroporto não passa de uma invenção enganosa, ao dar a impressão de que Hahn é um subúrbio de Frankfurt. A Ryanair também anotara entre seus destinos o aeroporto de Hamburg-Lübeck, que igualmente não existe, pois Lübeck, de onde realmente decola, é uma cidade independente, a vários quilômetros de Hamburgo.
Operando há dez anos, a Ryanair é uma das companhias aéreas mais lucrativas do mundo, graças à sua estratégia de baixos custos. A maioria dos passageiros faz sua reserva pela internet, o serviço de bordo é modesto e os aviões só pousam e decolam de aeroportos afastados das grandes cidades e que, por isso, cobram taxas inferiores. A estratégia teve tanto sucesso que está deixando nervosas as grandes companhias aéreas.
Lufthansa sob pressão
A Lufthansa já anunciou, através de seu departamento de marketing, que pode lançar da noite para o dia uma subsidiária de vôos mais em conta. Sua diretoria admite que as "companhias baratas" (Billigflieger) podem ampliar sua parcela no mercado de 5% para 10%. No que lhe diz respeito, a Ryanair está fazendo o possível para que se isso se torne realidade. E, se suspendeu a propaganda enganosa, não deixa de dar suas alfinetadas na concorrente alemã. Em seiu site na internet, realiza atualmente uma enquete. "Você acha que os preços da Lufthansa são excessivamente altos?" Quem participar, concorre a 100 passagens grátis.
Nesta sexta-feira, o banco de investimentos Merril Lynch avaliou a encomenda de 100 aviões da Boeing de parte da Ryanair como indício de sua liderança no mercado europeu das companhias que oferecem vôos a preços módicos. No entanto, a recomenda de compra (Buy) e a previsão de lucros permaneceram inalteradas. A expectativa dos analistas do Merril Lynch é de que as ações rendam lucros e dividendos de pelo menos 10%.