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Rússia dá início a exercícios militares em Belarus

10 de fevereiro de 2022

Otan diz se tratar do maior destacamento russo no país vizinho desde a Guerra Fria, com estimados 30 mil soldados. Para EUA, manobras conjuntas entre Moscou e Minsk elevam tensão em meio a temores de invasão da Ucrânia.

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Um comboio de veículos militares de defesa aérea é utilizado em um treinamento conjunto entre Rússia e Belarus na fronteira sul dos dois países, perto da Ucrânia. Os veículos carregam equipamentos bélicos arredondados, em formato de míssil, e fazem parte do sistema de defesa antiaéreo. Os caminhões têm quatro rodas de cada lado, são da cor verde e trafegam em uma estrada de barro, cercada de neve.
Veículos transportando sistema de defesa antiaéreo em BelarusFoto: Belarus Defense Ministruy/AA/picture alliance

Forças militares da Rússia e de Belarus deram início nesta quinta-feira (10/02) a uma série de exercícios militares realizados no território belarusso, em meio a tensões entre Moscou e o Ocidente envolvendo temores de uma invasão da Ucrânia.

Exercícios militares entre Rússia e Belarus não são incomuns, mas a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) descreveu o destacamento como o maior da Rússia em Belarus desde o fim da Guerra Fria, há mais de 30 anos.

Também segundo o pesquisador Artem Schreibman, do Centro Carnegie de Moscou - organização fundada em 1994 e que analisa as relações pós-Guerra Fria entre a Rússia e antigos membros da União Soviética, como é o caso de Belarus -, "nunca houve um número tão grande de militares russos em solo bielorrusso em todo o período pós-soviético".

Não se sabe ao certo quantos soldados foram destacados para os exercícios em Belarus, mas a Otan estima que sejam cerca de 30 mil militares - os quais se somam aos estimados 100 mil estacionados na fronteira da Rússia com a Ucrânia.

Conforme o Ministério da Defesa russo, os exercícios ocorrerão em pelo menos cinco áreas diferentes de treinamentos, principalmente no oeste e sudoeste de Belarus, próximos às fronteiras com Ucrânia e Polônia - que é membro da Otan.

Não está claro se armas nucleares serão utilizadas nos treinamentos. Conforme o Ministério da Defesa da Rússia, pouco antes de os exercícios começarem oficialmente nesta quinta, bombardeiros de médio alcance patrulharam sobre Belarus.

Wolfgang Richter, especialista militar do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), afirmou à DW não haver nada de incomum em voos de patrulha do tipo. "Os Estados Unidos também fazem isso. São sinais políticos", afirmou, acrescentando que tais ações normalmente não envolvem armas nucleares. 

Mísseis do tipo Iskander-M, que a Otan afirma que foram levados pelos russos para Belarus, também poderiam ser equipados com armas nucleares. Mas Richter aponta que na Rússia eles foram equipados com armas convencionais até agora.

Ucrânia e Otan também movimentam tropas

Em resposta aos exercícios militares em Belarus, a Ucrânia também começou uma série de treinamentos nesta quinta.

O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, informou que os exercícios na Ucrânia também devem durar até o dia 20 de fevereiro, mas não precisou o número de militares nem de armamentos que serão utilizados.

O Reino Unido ordenou que pelo menos mil soldados do país fiquem de prontidão para apoiar uma resposta humanitária na região, caso necessário, segundo declarações do gabinete do primeiro-ministro Boris Johnson. Ao mesmo tempo, o governo vai quase duplicar o número de militares britânicos na Estônia: de 900 para 1.750.

Na semana passada, o presidente americano, Joe Biden, aprovou o envio de forças adicionais para o Leste Europeu. Em torno de 2 mil soldados seriam destacados para Polônia e Alemanha, enquanto outros mil seriam deslocados da Alemanha para a Romênia.

Muitos analistas ocidentais não veem, no entanto, os destacamentos de tropas de membros da Otan para a Europa Oriental como uma defesa direta da Ucrânia.

"Em termos de números, é uma demonstração simbólica de que a Otan está unida e defenderá seus membros em caso de ataque", afirma Kurt Volker, do Centro para Análise de Políticas Europeias (CEPA, na sigla em inglês). A mensagem é: "Para a Ucrânia, fornecemos armas e treinamento, mas não enviaremos forças diretas", diz o analista.

Um tanque de guerra trafega sobre uma área de treinamento militar na região de Brest, em Belarus. O tanque está ao fundo da imagem, em frente uma floresta. Um terreno com barro e neve e uma estrada à direita compõem a foto.
Tanques vistos na região de Brest, em Belarus, na semana passada, em preparação para os exercícios militaresFoto: Viktor Tolochko/Sputnik/dpa/picture alliance

Reações dos EUA e da Europa

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que exercícios militares conjuntos de Rússia e Belarus contribuem para aumentar as tensões na região.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse em comunicado que o acúmulo de forças nas fronteiras é uma "pressão psicológica" exercida pelos países vizinhos.

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, afirmou nesta quarta-feira que todos os canais  diplomáticos devem ser buscados, mas que forças aliadas devam estar preparadas para agir caso a Rússia invada a Ucrânia. "A tarefa é garantir a segurança na Europa, e acredito que isso será alcançado", declarou Scholz, após conversas com a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen.

O ministro do Exterior da França, Jean-Yves Le Drian, disse à rádio France Inter que considera as manobras em Belarus "extremamente grandes" e "um gesto violento que nos preocupa".

Rússia e Belarus negam que as manobras militares fazem parte de uma movimentação com o objetivo de invadir a Ucrânia. Belarus anunciou que os soldados russos deixarão o país após os exercícios. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, também afirmou que as tropas retornarão a suas bases.

O ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, reforçou que os exercícios são realizados para a "segurança militar de ambos os países e para a luta contra o terrorismo".

As tensões envolvendo o acúmulo de soldados da Rússia perto da Ucrânia foram tema de uma série de conversas diplomáticas nos últimos dias.

gb/lf (AP, Reuters, AF, dpa, DW)

O repórter da DW Roman Goncharenko contribuiu para esta reportagem.