Rússia redireciona comércio e petróleo para Brics, diz Putin
22 de junho de 2022O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira (22/06) que Moscou está em um processo de redirecionamento do seu comércio e da exportação de petróleo para países dos Brics, que incluem também a China, a Índia, o Brasil e a África do Sul.
A fala foi feita na abertura do fórum empresarial dos Brics, organizado de forma virtual pela China, que ocupa a presidência rotativa do bloco. Nesta quinta-feira, ocorre a cúpula anual dos Brics.
O "redirecionamento" relatado por Putin ocorre na esteira de sanções de países do Ocidente que buscam isolar Moscou após a invasão da Ucrânia.
Para resistir às sanções, a Rússia está tentando forjar laços mais estreitos com a Ásia, procurando compensar os mercados que perdeu na disputa com a União Europeia e os Estados Unidos.
Carros chineses e supermercados indianos
Em um discurso em vídeo, Putin disse que a Rússia está avaliando aumentar a presença de carros chineses e a entrada de cadeias de supermercados indianos no mercado russo. "Por sua vez, a presença da Rússia nos países dos Brics está crescendo. Tem havido um aumento notável nas exportações de petróleo russo para a China e a Índia", afirmou.
Na Índia, as compras de petróleo russo de março a maio foram seis vezes maiores do que no mesmo período do ano anterior, enquanto as importações da China no mesmo período triplicaram, segundo dados da consultoria de pesquisa Rystad Energy.
Apenas no mês de maio, de acordo com dados do governo chinês, as importações de petróleo bruto da Rússia pela China foram 55% superiores do que há um ano, desbancando a Arábia Saudita como principal fornecedor da China.
Putin também disse que a Rússia desenvolve mecanismos alternativos para pagamentos internacionais em conjunto com seus parceiros Brics. A medida é outra tentativa de contornar as sanções do Ocidente, que incluíram a retirada das instituições financeiras russas do sistema de transferências internacionais Swift.
O líder do Kremlin disse ainda que satélites russos fornecem transmissões de televisão para 40 milhões de pessoas no Brasil, e que a Rússia era um fornecedor importante de fertilizante para o agronegócio mundial.
Os Brics reúnem mais de 40% da população mundial e cerca de um quarto do PIB (Produto Interno Bruto) global. A China, a Índia e a África do Sul se abstiveram de votar em uma resolução das Nações Unidas condenando a invasão russa da Ucrânia. O Brasil votou a favor da resolução, apesar do presidente Jair Bolsonaro ter visitado Putin poucos dias antes da invasão e ter dado declarações dúbias sobre o tema.
Xi faz alerta sobre alianças militares
Já o presidente da China, Xi Jinping, advertiu em se discurso contra a "expansão de alianças militares", como vem ocorrendo com a Otan, que recebeu pedidos da Suécia e da Finlândia para aderirem à aliança.
Xi disse que "a crise da Ucrânia é (...) um alerta" e se manifestou contra "a expansão das alianças militares e a busca da própria segurança às custas da segurança de outros países".
Em um telefonema na semana passada, Xi garantiu a Putin que a China apoiaria os interesses centrais de Moscou em "soberania e segurança", o que levou os Estados Unidos a afirmarem a Pequim que corria o risco de acabar "do lado errado da história".
Em maio, bombardeiros aéreos da China e da Rússia sobrevoaram o Mar do Japão enquanto o presidente americano, Joe Biden, estava em Tóquio – em uma demonstração de proximidade militar entre os dois países.
Nesta quarta, Xi também criticou as sanções contra a Rússia, dizendo que elas eram "um bumerangue e uma espada de dois gumes" que afetavam todos os países do globo.
Bolsonaro evita se posicionar sobre conflito
Bolsonaro também enviou um discurso em vídeo apresentado no evento dos Brics mas, ao contrário da Rússia e da China, evitou tomar posição sobre a guerra na Ucrânia ou sobre as tensões com os Estados Unidos e a União Europeia.
O presidente brasileiro afirmou que o contexto internacional provoca preocupação, mas disse que o Brasil seguiria buscando aumentar sua integração econômica com o mundo.
"O atual contexto internacional é motivo de preocupação, em razão dos riscos aos fluxos de comércio e investimentos e à estabilidade das cadeias de abastecimento de energia e alimentos. A resposta do Brasil a esses desafios não é se fechar ao resto do mundo. Pelo contrário, temos procurado aprofundar nossa integração econômica", disse Bolsonaro, sem se comprometer com um dos lados da disputa.
bl (AFP, Reuters)