Rússia veta comunicado da ONU condenando ataque sírio à Turquia
4 de outubro de 2012Objeções da Rússia a um comunicado da Organização das Nações Unidas (ONU) condenando bombardeios da Síria à Turquia levaram o Conselho de Segurança a retomar as discussões sobre o assunto, informaram diplomatas nesta quinta-feira (04/10). Moscou propôs um texto mais brando, pedindo por "contenção" na fronteira sem mencionar violações à legislação internacional.
Nesta quarta-feira, a Turquia havia pedido ao Conselho de Segurança para tomar as medidas necessárias para deter o que chamou de "um ato de agressão da Síria contra a Turquia", referindo-se ao ataque à localidade turca de Akçakale, que deixou cinco mortos. Em resposta, a Turquia bombardeou alvos militares e aprovou operações militares na Síria.
Esperava-se que o rascunho do comunicado da ONU fosse aprovado num "processo silencioso", em que o texto é adotado caso nenhum país se oponha. Mas "os russos quebraram o silêncio", disse o embaixador britânico nas Nações Unidas, Mark Lyall Grant.
Comunicado polêmico
O texto original condena de maneira incisiva um ataque da Síria à Turquia e pede pelo fim das violações em território sírio. Os russos propuseram remover uma frase apontada por diplomatas como crucial: "Tais violações da legislação internacional constituem uma séria ameaça à paz e à segurança internacionais".
Enviados da ONU disseram que o trecho removido pela Rússia tinha como objetivo sinalizar que o Conselho de Segurança deveria se manter envolvido no conflito. Os EUA também propuseram alterações, mas para "fortalecer" o texto original, informou um diplomata.
Diplomatas da ONU reclamaram que as propostas da Rússia para um texto mais brando, se aceitas, enfraqueceriam o comunicado num nível inaceitável.
"Os membros do Conselho de Segurança pedem às partes que ajam com moderação e evitem confrontos militares que poderiam levar a um agravamento da situação na fronteira entre a Síria e a Turquia", dizia o comunicado proposto pela Rússia, informou a agência de notícias Reuters.
O ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, declarou nesta quinta-feira que a Síria havia reconhecido que o ataque fora um "acidente trágico" e disse ser vital que Damasco confirmasse isso oficialmente. Segundo Lavrov, o governo de Bashar al-Assad garantiu ao embaixador russo na capital síria que o incidente na fronteira não se repetiria.
Apoio à Turquia
A pedido da Turquia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) convocou uma reunião de emergência nesta quarta-feira. A aliança militar, da qual a Turquia é membro, pediu que a Síria acabasse "com a violação hedionda do direito internacional". Outros países também mostraram-se solidários com a Turquia.
"Condenamos fortemente os ataques sírios à Turquia", declarou a chanceler federal alemã, Angela Merkel. Segundo a chefe alemã de governo, a Alemanha está do lado da Turquia.
O ministro do Exterior alemão, Guido Westerwelle, disse que é preciso fazer tudo o que for possível para que o conflito interno sírio não se espalhe pela região. O político apelou à Rússia e à China para que não continuassem reduzindo a capacidade de ação da comunidade internacional através de vetos no Conselho de Segurança da ONU.
A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton, pediu à Síria que cessasse a violência e respeitasse a soberania e a integridade territorial do país vizinho.
O ministro do Exterior francês, Laurent Fabius, declarou esperar que o Conselho de Segurança condene claramente o governo sírio. Para seu colega britânico, William Hague, a reação militar da Turquia é compreensível. "Declaramos nossa profunda solidariedade para com a Turquia". O governo sírio precisa garantir que um incidente do tipo não se repita, disse.
Bulgária em alerta
À medida que o número de refugiados sírios na Turquia aumenta, a Bulgária teme a chegada de levas de refugiados, declarou o presidente búlgaro, Rosen Plevneliev, nesta quinta-feira. O país tem uma fronteira de 259 quilômetros com a Turquia.
"Uma enorme onda de refugiados já está se espalhando, não apenas rumo à Turquia, mas também para outros países vizinhos", disse Plevneliev.
Segundo dados oficiais, nas últimas 24 horas, a polícia de fronteira búlgara já deteve 33 imigrantes sírios tentando entrar ilegalmente no país através da Turquia. A Bulgária já abriga 280 refugiados, vindos principalmente da Síria, e está preparada para montar um acampamento para mil pessoas, informou a agência de refugiados estatal.
LPF/rtr/afp/dpa
Revisão: Carlos Albuquerque