Os agricultores sul-americanos estão colhendo uma safra recorde este ano. Não só conseguiram aumentar a produção de soja, milho e açúcar, como também se beneficiaram de preços mais altos para seus produtos.
Mas, para a população brasileira, isso não é motivo de comemoração: os preços do feijão e do arroz, do açúcar e do óleo vegetal, mas também da carne bovina, de aves e de porco subiram mais acentuadamente no meio do ano do que em qualquer outro momento nos últimos dez anos.
A razão dos preços altos é, por um lado, o aumento da demanda por alimentos, especialmente na China, o consumidor mais importante do mundo.
Do lado da oferta, a grave seca no Brasil está fazendo com que os preços subam porque a safra pode se tornar mais escassa. Além disso, os altos preços do petróleo estão tornando o biodiesel e o etanol novamente atraentes. Os agricultores vendem seu milho ou soja para empresas de energia, que convertem os grãos em biodiesel. As empresas produtoras de açúcar produzem etanol em vez de açúcar. O dilema do "tanque ou prato" está ganhando atualmente uma nova dimensão.
No Brasil, por exemplo, existe um paradoxo: ao lado dos EUA e da União Europeia, o país é o mais importante fornecedor de alimentos para o mercado mundial - mas sua própria população sofre cada vez mais para pagar pela comida.
Há uma forte probabilidade de que os preços dos alimentos no Brasil continuem a subir. Nos próximos meses, os produtores repassarão aos consumidores os aumentos de preços de combustíveis e insumos agrícolas. Em 2020, os agricultores ainda conseguiam produzir quase ao mesmo custo do ano anterior. Mas agora os preços dos pesticidas, fertilizantes e diesel subiram acentuadamente.
Os brasileiros já estão pagando significativamente mais por alimentos do que as pessoas em muitos países ao redor do mundo. Um olhar nos supermercados alemães mostra isso claramente. Com uma renda média muito maior na Alemanha - em torno de 50.000 dólares por ano, cerca de sete vezes a dos brasileiros - muitos alimentos na Alemanha são somente um pouco mais caros ou até mais baratos do que no Brasil.
Há várias razões para isso: a forte concorrência no varejo na Alemanha e a concorrência em parte mais fraca no Brasil entre varejistas e fabricantes locais é uma das razões.
Além disso, o real fraco torna os alimentos ainda mais caros: commodities agrícolas, como energia e matérias-primas industriais, são comercializadas em dólares. Também no interior do Brasil, os preços do açúcar, do feijão e do arroz estão se movendo em linha com os preços do mercado mundial - que, calculados em reais, têm subido a uma taxa acima da média. Os consumidores de São Paulo ao Piauí estão, portanto, pagando um prêmio de câmbio sobre os preços mais altos dos alimentos.
Para o governo, esta é uma mistura explosiva: o aumento dos preços dos alimentos e a resultante fome entre os pobres do Brasil está aumentando o descontentamento entre a população e afundando os índices de popularidade do presidente.
É grande a tentação de bloquear as exportações agrícolas ou tributá-las mais pesadamente, na esperança de que isso faça baixar os preços dos alimentos no Brasil. Mas isso nunca funcionou, como se viu no caso da Argentina.
A única solução é: o governo deve ajustar o valor e o alcance do Bolsa Família para compensar os pobres do Brasil pelo aumento dos preços dos alimentos.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. Clique aqui para ler suas colunas.