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Salvar as zonas úmidas – viveiro e "rins do mundo"

Holly Young
Publicado 3 de fevereiro de 2024Última atualização 3 de fevereiro de 2024

Importância de pântanos, alagadiços e manguezais para a natureza é cada vez mais reconhecida. No entanto, mesmo capturando muito mais carbono do que as florestas, zonas úmidas estão desaparecendo três vezes mais rápido.

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Manguezal em Abu Dhabi
Manguezais abrigam imensa biodiversidade e protegem litorais contra erosãoFoto: Karim Sahib/AFP

Embora cobrindo apenas uma fração da superfície do planeta, as zonas úmidas têm importância tão grande que merecem apelidos elogiosos: rins do mundo, esponjas da natureza, super-heroínas da biodiversidade. Para certos cientistas, são tão importantes para o bem-estar humano e a vida na Terra que deveriam dispor de direitos legais.

Ecossistemas terrestres que ficam encharcados, em caráter permanente ou sazonal, estão presentes em todos os continentes, exceto a Antártida. Existem em diversas formas: de charcos ricos em musgo e turfa a alagadiços pontilhados por juncos e pântanos dominados por árvores. Alguns se situam em várzeas de água doce e áreas do interior abaixo do nível do mar. Outros são litorâneos, como os manguezais tropicais, cujas árvores são capazes de viver na água salgada.

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Zonas úmidas são verdadeiros "supermercados biológicos, pois a combinação de água rasa com altos níveis de nutrientes e biomassa as transforma num verdadeiro banquete para uma enorme variedade de espécies vegetais e animais. Elas contam entre os ecossistemas mais produtivos: apesar de ocupar apenas 6% da superfície da Terra, abrigam um espantoso 40% da biodiversidade global.

Em 1971, numa convenção na cidade de Ramsar, no litoral do Irã, um grupo de ambientalistas definiu o 2 de fevereiro Dia Mundial das Zonas Úmidas.

Pântano de Harju, Estônia
Zonas úmidas são apelidadas "rins do mundo", por filtrar impurezas e agentes tóxicos da águaFoto: Pavel Golovkin/AP Photo/picture alliance

Armazenadoras poderosas de CO2 – ou emissoras

Durante longo tempo as zonas úmidas foram ignoradas, consideradas áreas não produtivas que cabia drenar para transformar em combustível e terra arável, ou aterrar com sedimentos a fim de criar terreno sólido para construção de prédios e estradas.

Agora elas são reconhecidas não só como focos de biodiversidade, mas como essenciais sumidouros carbônicos, absorvendo, a cada ano, milhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa. Nelas se encontra um terço de todo o CO2 capturado em vegetação viva, além daquele armazenado em seu solo, sedimentos e turfa ao longo de milênios. Sozinhas, as turfeiras retêm duas vezes mais dióxido de carbono do que todas as florestas do mundo.

As zonas úmidas também podem ser consideradas os rins do mundo: suas plantas, fungos e algas ajudam a filtrar e purificar a água de substâncias químicas, metais pesados e outros poluentes. Elas são também defesa natural contra inundações, ao agir como esponjas que absorvem chuvas pesadas, e protegem os litorais contra erosão durante as tempestades.

Consequentemente, quando são danificadas elas se transformam numa potente fonte carbônica, liberando CO2, metano e óxido nitroso – todos gases causadores do efeito estufa que eleva a temperatura global. Turfeiras drenadas e incendiadas perfazem 4% das emissões anuais de origem humana.

Mão segurando turfa, com campo ao fundo
Exploração de turfa é elemento de desequilíbrio climáticoFoto: Countrypixel/IMAGO

Um futuro para as zonas úmidas

As zonas úmidas são o ecossistema mais ameaçado do planeta: elas estão desaparecendo três vezes mais rápido do que as florestas. Nos últimos 50 anos perdeu-se um terço delas, sobretudo devido à drenagem para uso agrícola e construções. Mais da metade dos alagadiços da China, Estados Unidos, Índia e Japão foi destruída desde 1700.

Neste ínterim, contudo, reconheceu-se que restaurar e conservar esses ecossistemas é uma importante solução natural para limitar em 1,5ºC o incremento da temperatura global em relação à era pré-industrial, como estipulado no Acordo do Clima de Paris, de 2015.

Quase 70% dos países signatários agora inclui algum tipo de zona úmida em seus comprometimentos climáticos. Em 2022, um pacto global pioneiro para proteção da natureza incluiu providências para recuperar pelo menos 30% dos corpos aquáticos em terra e dos ecossistemas de água doce.

Diversos países estão se engajando para resgatar as zonas úmidas da extinção. A Argentina tem um ambicioso projeto de conservação para restaurar milhares de quilômetros das zonas úmidas de Iberá. Na Indonésia, as medidas para reidratar as turfeiras ajudaram a impedir a propagação de incêndios florestais.