Mulheres & dinheiro
13 de dezembro de 2010Para 93% dos alemães, o Natal está imediatamente associado ao ato de presentear. Boa parte da população parte nesta época do ano em busca de algo especial, exclusivo ou simplesmente adequado para os entes queridos. Em média, os cidadãos do país investem 245 euros em presentes, apontam os resultados de uma enquete realizada pela Sociedade de Pesquisa sobre Consumo. Outra conclusão da pesquisa é a de que ir às compras é uma atividade tipicamente feminina, sendo que as mulheres a exercem de forma absolutamente distinta dos homens.
Via de regra, elas gastam mais tempo comprando. Enquanto os homens apresentam a tendência de comprar objetivamente, atentando menos para os preços, as mulheres costumam comparar detalhadamente preços e qualidade. Segundo o professor de marketing de Mannheim, Willy Schneider, somos, no fundo, caçadores e coletoras. Schneider analisou juntamente com o também professor Alexander Henning o universo dos consumidores alemães. E de acordo com Petra Bock, consultora organizacional, os homens tendem a investir seu dinheiro mais em atividades ou objetos caros de lazer, como por exemplo carros e artigos de entretenimento. Já as mulheres são mais generosas com os outros, especialmente se são mães. No entanto, o vício do shopping pode atacar ambos os sexos da mesma forma.
Mulheres na Alemanha: salários menores
O hábito das mulheres de refletir mais sobre preços pode estar associado ao fato de que até hoje elas continuam dispondo de menos recursos financeiros que os homens. Na Alemanha, um dos países mais ricos da Europa, a desigualdade entre os gêneros é especialmente grande, com uma discrepância de 23,2% entre os salários de homens e mulheres. Isso se dá principalmente devido ao fato de que as mulheres acabam exercendo atividades de menor remuneração. Mas mesmo quando executam a mesma atividade que seus colegas, dispondo da mesma qualificação, as mulheres recebem 8% menos que eles. Na União Europeia, a média dessa diferença é de 5%.
O Museu das Mulheres, situado em Bonn, no oeste alemão, exibe no momento a mostra Moneta: Mulheres e Dinheiro na História e no Presente. Segundo Barbara Bab, historiadora e curadora responsável pela vertente histórica da exposição, "nossa intenção é mostrar exemplos de mulheres que nem sempre fizeram tudo certo, mas que lidaram com seus recursos financeiros de forma independente, tendo sido precursoras em suas épocas". Para Bab, o que importa ressaltar é uma "mudança de consciência social necessária", fazendo com que o tema dinheiro deixe, enfim, de ser tabu, sobretudo entre as mulheres.
Maternidade freia autonomia
Essa exposição não acontece agora, todavia, por acaso, mas sim em comemoração aos 100 anos transcorridos desde a inauguração do primeiro Banco das Mulheres em Berlim. Naquela época, as mulheres casadas eram financeiramente tuteladas por seus maridos. As fundadoras do Banco das Mulheres pretendiam, com a criação da instituição, no ano de 1910, conceder maior independência às mulheres, disponibilizando-lhes empréstimos e informando-as como melhor investir o dinheiro e como administrá-lo. Para isso, o banco não exigia o aval dos seus maridos. O ambicioso projeto acabou, contudo, fracassando cinco anos mais tarde. Embora as fundadoras do projeto tivessem as melhores das intenções, lhes faltou conhecimento especializado suficiente acerca do setor bancário.
Durante as Guerras Mundiais nada mudou neste sentido. Para a historiadora Barbara Bab, os nazistas marcaram a ideologia dos alemães com relação à família de forma tão determinante que a ênfase exacerbada do papel da mulher como mãe inviabilizou a evolução das próximas gerações de mulheres no país. Até o ano de 1958, por exemplo, as mulheres ainda precisavam da anuência do marido para abrir uma conta bancária. E até 1976 o esposo podia entregar um pedido de demissão do emprego da mulher sem mencionar as razões para tal. Só aí então é que foi se dissolvendo a imagem dominante da "honra da dona-de-casa", que obrigava as mulheres a se responsabilizarem pela lida da casa. Desde então, o número de mulheres economicamente ativas cresceu vertiginosamente. Hoje, elas contribuem cada vez mais para o orçamento doméstico.
Exemplo escandinavo
"Uma evolução inegavelmente positiva", diz a professora universitária Friederike Maier, especialista da Comissão Europeia no assunto "mulheres e mercado de trabalho" e responsável, desde 1992, por pareceres sobre temas afins. Maier salienta uma especificidade alemã, observada por ela com regularidade: os orçamentos domésticos gerados por "um salário e meio", ou seja, o homem dispondo de um salário integral e a mulher apenas com um emprego de meio período, trabalhos ocasionais que lhe rendem no máximo 400 euros mensais e sem segurança social. Quando as mulheres alemãs têm filhos, elas interrompem suas atividades remuneradas por um período mais longo que todas as outras europeias, retornando então a posições de menor remuneração ou a empregos de meio período. Isso é uma "catástrofe para as contribuições à previdência", diz Maier, para quem a política alemã ainda é muito deficitária quando se trata de comprometimento e rigor no sentido de uma evolução em prol da igualdade entre os gêneros.
Na Bélgica, mas sobretudo na Noruega e na Suécia, a situação é muito diferente, com uma discrepância muito menor entre os salários dos homens e das mulheres. Nesses países, há mais mulheres com empregos de tempo integral e as taxas de natalidade são mais altas. "As nações escandinavas têm uma tradição na política de igualdade", salienta Maier. Na Noruega, por exemplo, há uma cota de 40% de mulheres entre as lideranças empresariais. A Suécia também é um exemplo a ser seguido neste sentido, lembra a especialista. Já na França, embora haja mais ofertas de apoio a famílias nas quais pais e mães possuem atividades de tempo integral, como creches e escolas para crianças pequenas, tampouco encontram-se muitas mulheres ocupando cargos de liderança. Ou seja, diante dessas condições, não é de se estranhar que as mulheres tendam a lidar com dinheiro de maneira mais conservadora, escolhendo formas mais seguras de investimento.
Medo de mulheres ricas
Além disso, na Alemanha, falar abertamente sobre salários é um hábito tido como indiscreto. As mulheres, em sua maioria com piores condições financeiras que os homens, são mais atingidas por isso. Muitas não se sentem competentes para tratar do assunto ou têm medo de parecerem demasiado ávidas quando se ocupam do tema, alerta Petra Bock. "Muitas mulheres não reivindicam melhores salários para não colocarem em risco o relacionamento com o interlocutor no trabalho", diz ela. Em vez disso, elas se concentram no exercício pleno de uma atividade que lhes dê prazer, explica Bock. "Em tempos nos quais cada um deve tratar de cuidar de sua própria aposentadoria, uma mentalidade dessas é perigosa", alerta a especialista.
Quando suspeitam de desigualdade de tratamento no ambiente de trabalho, as mulheres na Alemanha podem se dirigir a sindicatos, grupos lobistas ou associações profissionais, de acordo com a profissão que exercem. Para Petra Bock, as mulheres deveriam dar a mesma importância à questão salarial que os homens sempre deram. No entanto, o "sexo forte" ainda tem problemas com mulheres com boas condições financeiras e bons salários, confirmam tanto as consultoras financeiras quanto as pesquisas recentes. Isso faz com que os homens se apeguem com muito mais força à ideologia do "mantenedor" da cada, seguindo o modelo a partir do qual o homem ganha o dinheiro e a mulher cuida sobretudo da família e contribui, ainda de quebra, com um pouco de dinheiro para o orçamento através de um trabalho secundário.
Apesar de todos os problemas, as perspectivas para um bem-estar futuro das mulheres são boas caso elas, de fato, tomem as rédeas dos assuntos financeiros. A historiadora Barbara Bab cita com otimismo uma pesquisa da empresa de consultoria McKinsey, segundo a qual "as mulheres na Inglaterra, já a partir de 2025, deverão ser o sexo mais rico. Pois elas possuem melhor formação profissional, investem a longo prazo de maneira mais bem-sucedida e vivem mais". Argumentos que a historiadora Bab pode entender, embora "os 15 anos até lá" lhe pareçam um tempo "um pouco curto".
Autora: Insa Moog (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque