Seis meses não bastam
26 de outubro de 2008O louvor internacional a seu talento de gerenciador de crises deu asas a Nicolas Sarkozy. Agora, o presidente francês foi mais um passo adiante e já pensa alto em manter-se à frente da União Européia, mesmo após o Ano Novo, quando se encerra o turno da França na presidência do bloco. Concretamente, o político conservador considera se tornar chefe do Eurogrupo.
Troca-troca sem sentido?
Aos poucos, Sarkozy tomou gosto pelo papel de presidente da UE. Afinal de contas, ele negociou com o chefe de Estado russo, Dimitri Medvedev, a retirada de tropas da Geórgia. Afinal, foi ele que organizou a cúpula anticrise, que deu a partida aos pacotes bilionários de emergência bancária há pouco implementados pela Alemanha e França.
Conclusão de Sarkozy: "Para esclarecer questões tão complicadas como Geórgia-Rússia ou a crise financeira e econômica, penso que não faz sentido trocar a presidência européia a cada seis meses".
De fato: em 31 de dezembro encerra-se o mandato francês à frente do Conselho Europeu. A vez cabe então à República Tcheca, cujo governo acaba de vencer, por margem estreita, uma moção de confiança. Em seguida, a Suécia assume a presidência rotativa. Ambos são países que não fazem parte da zona do euro.
Assunto de primeiro escalão
Mas para Sarkozy está absolutamente claro: a crise só poderá ser vencida se os países que formam a União Monetária Européia tiverem voz ativa. "Fiquei muito espantado quando, ao convocar na semana passada a sessão do Eurogrupo em Paris, constatei tratar-se da primeira desde a introdução do euro. Criamos a moeda única e o Banco Central Europeu, temos uma política monetária comum, mas não um governo econômico europeu que mereça tal nome."
Um "governo econômico europeu" é, há tempos, justamente o sonho de Sarkozy. Isto significa: em sua opinião, os países da zona do euro deveriam ter mais influência sobre a política financeira. E, na visão de mundo do chefe de Estado francês, aqui se trata claramente de assunto para o primeiro escalão.
"Quando uma crise toma as proporções que conhecemos, não basta um simples encontro de ministros das Finanças. Em se tratando de tanto dinheiro, são os chefes de Estado e governo que devem se reunir. Pois só eles têm a legitimação democrática para tomar decisões tão graves", afirmou o político populista.
Lei do que fala mais alto
Oficialmente, a Comissão Européia não quer tomar conhecimento das ambições dos franceses. Bruxelas aponta conscienciosamente para o fato de que o posto de presidente do Eurogrupo já está ocupado. Por Jean-Claude Juncker, que não é apenas ministro das Finanças de Luxemburgo, como também seu chefe de governo, preenchendo, portanto, ao menos um dos pré-requisitos postulados por Sarkozy.
Porém o francês avança mais uma condição básica para o cargo de ponta: "Precisamos de uma Europa que fale com voz alta".
E – neste ponto não há dúvida – Nicolas Sarkozy fala definitivamente mais alto do que Jean-Claude Juncker.