Sarkozy
8 de janeiro de 2008Não raramente o presidente francês é chamado em seu país de "Super Sarko". Seja no contexto dos escândalos envolvendo a organização de ajuda humanitária Arca de Zoé no tráfico de crianças no Chade, no drama das enfermeiras búlgaras presas na Líbia ou nas controversas dentro da União Européia, Sarkozy está sempre querendo encontrar uma solução rápida.
No momento, porém, ele se vê frente a um novo desafio: recuperar a confiança da população, após resulatos de enquetes apontando um presidente bem menos popular que antes. Para voltar a contar com o apoio da maioria dos franceses, Sarkozy apresentou uma lista razoável de tarefas a serem executadas em 2008, da qual a palavra de ordem é "progresso".
Política da civilização
"Deveríamos fazer da França um país jovem e dinâmico, que leva a resultados", afirmou o presidente nesta terça-feira (08/01), frente a cerca de 600 jornalistas em Paris. Sarkozy fez questão de repetir ter sido eleito em nome de "uma mudança substancial, uma verdadeira ruptura". Segundo ele, é preciso implementar uma "política da civilização", que faça jus aos valores da sociedade francesa.
Entre os planos do presidente para 2008 está uma mudança na Constituição francesa, que estabeleça a igualdade entre homens e mulheres no preâmbulo da lei máxima do país, e, dessa forma, leve em conta "os desafios da sociedade multicultural, integração e bioética". Além disso, Sarkozy defende a eliminação definitiva da jornada de 35 horas semanais a partir de 2008, a fim de impulsionar a economia do país.
Moralizar o capitalismo
Em termos de política internacional, Sarkozy afirmou que pretende "moralizar" o capitalismo. Para isso seria, segundo ele, necessário repensar as tarefas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
O presidente defendeu ainda em seu discurso uma cooperação internacional mais intensa. "Não podemos resolver os problemas da humanidade e, enquanto isso, deixar de lado metade da humanidade", afirmou. Sarkozy se posicionou ainda em prol de um assento permanente para a Alemanha no Conselho de Segurança da ONU.
Vida privada
O propósito da entrevista coletiva para a imprensa foi certamente o de deslocar o foco das atenções de sua vida privada para o curso de política na presidência da França. Segundo uma enquete realizada pelo diário Libération, a popularidade de Sarkozy caiu dois pontos desde o início de dezembro último, chegando aos 54%.
Mais de 60% da população acredita que o conservador chefe de Estado tenha se exposto demasiadamente durante suas férias no Egito, em companhia da ex-modelo Carla Bruni. Uma pesquisa de opinião publicada pelo diário Le Parisien do último domingo levou a resultados ainda mais drásticos: de acordo com esta enquete, apenas 48% dos franceses ainda mantêm a confiança em Sarkozy, ou seja, 7% a menos que no último mês.
"Os tumultos da mídia em torno da vida privada do presidente arranham a imagem do cargo e incomodam evidentemente seu eleitorado tradicional", afirma o diretor do Instituto de Pesquisa de Opinião CSA, Stéphane Rozès. De fato, nas últimas semanas, a vida privada de Sarkozy esteve muito mais estampada nos jornais do país do que suas ações na presidência. O que fez com que ele fosse continuamente criticado pela oposição e por diversos analistas políticos.
Casamento marcado
Em outubro do último ano, sua separação da mulher Cecilia foi manchete no país, exatamente no momento em que a companhia ferroviária francesa SNCF iniciava uma greve. E quando a visita do presidente da Líbia, Muamar Kadafi, à França, causava furor, Sarkozy tornava pública sua relação amorosa com a ex-modelo e cantora Carla Bruni.
Na coletiva de imprensa em Paris desta terça-feira, Sarkozy confirmou que a relação com Bruni "é séria" e não descartou a hipótese de casamento, cuja data ainda vem sendo mantida em sigilo. Ou seja, mesmo que pareça querer o contrário, Sarkozy permanece colocando sua vida privada no centro do interesse público.
Paixão e competência?
A forma com que o presidente explicita sua vida privada só será aceita pelos franceses quando os efeitos de sua política puderem ser sentidos em melhorias no cotidiano da população, afirma Rozès.
Já o ministro da Educação, Xavier Darcos, acredita que a população francesa deveria se acostumar a um perfil moderno de chefe de Estado que não tem vergonha de expor suas peripécias amorosas. "Acredito que um presidente feliz, ou eu quase diria um presidente apaixonado, tem, sem dúvida, mais impulso e talvez mais energia para conduzir o cargo", disse Darcos à emissora de televisão LCI.
Palavras vazias
Mesmo com sorte no amor, Sarkozy enfrenta grandes desafios em relação à política econômica do país. Uma das principais preocupações da população é a perda gradual do poder aquisitivo em função de uma inflação crescente. O consumo interno, tradicionalmente um dos pilares da economia francesa, caiu inesperadamente em novembro último.
Para a oposição, o discurso de Sarkozy não passa de um amontoado de palavras vazias. "Seu longo pronunciamento só provou que os últimos oito meses não levaram a nada", criticou o líder do Partido Socialista, François Hollande.