Saúde mental não sofreu tanto durante pandemia, diz estudo
16 de março de 2023A pandemia de covid-19 pode não ter sido tão prejudicial à saúde mental como se imaginava, indica um novo estudo publicado no British Medical Journal.
No geral, a pandemia causou alterações mínimas entre a população no que diz respeito à depressão, ansiedade e sintomas de doenças mentais, em comparação com períodos anteriores à covid-19. O estudo, liderado por pesquisadores da Universidade McGill, no Canadá, inclui dados de outros 137 pesquisas realizadas em vários países do mundo.
Brett Thombs, professor de psiquiatria na Universidade McGill e principal autor da pesquisa, diz estar preocupado com a falta de embasamento nas afirmações sobre um "tsunami na saúde mental" durante a pandemia.
"Não há comparações de como as pessoas estavam antes e durante a pandemia. Dizem que 30% da população teve problemas de saúde mental durante a pandemia, mas vemos este tipo de estatística toda hora", afirma Thombs à DW.
Thombs e uma equipe de pesquisadores analisaram todos os estudos que encontraram sobre saúde mental antes da pandemia, além de continuar monitorando os mesmos participantes. A pesquisa incluiu dados de mais de 30 países, a maior parte nações de renda média a alta. Não foi feita uma distinção entre aqueles que tiveram ou não covid-19.
"Não encontramos alterações, ou alterações muito mínimas na população em geral no que se refere à ansiedade, depressão e sintomas gerais de doenças mentais. Estamos muito confiantes de que não houve uma catástrofe na saúde mental", explica Thombs.
Estudo controverso
No entanto, alguns especialistas argumentam que esse novo estudo não considera o fato de alguns indivíduos tiveram os problemas de saúde mental agravados durante a pandemia.
"Por se tratar de dados de base populacional, o estudo não representa os problemas que muitos indivíduos enfrentaram durante a pandemia. Por exemplo, não houve diferenciação entre pessoas que tiveram covid, ou covid longa, daquelas que não tiveram", disse Ziyad Al-Aly, epidemiologista clínico da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
De acordo com Al-Aly, há estudos que mostram que pessoas que tiveram covid várias vezes, ou covid longa, desenvolveram problemas de saúde mental significativamente piores do que aquelas que não foram infectadas pelo coronavírus.
Agregar os dados gerais, destaca Al-Aly, indica que mudanças significativas na saúde mental desses indivíduos, entre outras coisas, foram negligenciadas.
Mulheres foram um pouco mais prejudicadas
O estudo indica que os índices de ansiedade, depressão e sintomas gerais de saúde mental durante a pandemia foram mais altos em mulheres. Porém, em "quantidades mínimas a pequenas".
"Como encontramos pequenas alterações no nível populacional, podemos realmente estar certos de que as mulheres vivenciaram certa piora na saúde mental em comparação aos homens. Isso é preocupante," alerta Thombs.
Os sintomas de depressão também pioraram minimamente em pessoas mais velhas, estudantes universitários, pais e entre aqueles que se identificaram como parte de minorias.
Mas com os dados sendo agregados, como são percebidas mudanças "mínimas" na depressão de um indivíduo? De acordo com Thombs, é uma mistura.
"Avaliamos as alterações nos sintomas com base em questionários regulares, então provavelmente algumas pessoas notem e sintam mudanças, mas outras não. Também podemos ter registrado pequenas diferenças das quais um indivíduo talvez nem tenha consciência," disse Thombs.
Saúde mental é uma questão individual
Os pesquisadores concluíram o estudo reconhecendo que "alguns grupos populacionais apresentam questões de saúde mental que diferem da população em geral ou de outros grupos". Eles também pediram que os governos garantam mais apoio à saúde mental para atender às necessidades da população.
O epidemiologista clínico Al-Aly tem uma perspectiva menos positiva e foi cauteloso ao interpretar os dados "porque isso pode fazer com que algumas pessoas ignorem aqueles que tiveram problemas reais durante a pandemia."