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Scholz resiste, e Alemanha não enviará Taurus à Ucrânia

15 de março de 2024

Mísseis são pedido antigo de Kiev e tratados como essenciais na guerra contra a Rússia. Chanceler federal teme que envio possa arrastar país para o conflito. Oposição pressiona, mas Scholz ainda tem grande base de apoio.

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Olaf Scholz com os olhos fechados e as mãos unidas em frente ao rosto
Especula-se que Scholz queira se vender como "chanceler da paz" em uma possível campanha à reeleiçãoFoto: picture alliance/Flashpic

A oposição CDU/CSU no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) falhou mais uma vez nesta quinta-feira (14/03) na tentativa de fornecer mísseis de cruzeiro Taurus à Ucrânia. Dos 687 parlamentares que participaram da votação, 494 votaram contra, 188 a favor e cinco abstiveram-se. O chanceler federal, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, adotou uma linha clara contra a entrega. Ele teme que a arma só possa ser operada com o envolvimento de soldados alemães, e que isso poderia arrastar a Alemanha para a guerra contra a Rússia.

O míssil Taurus é considerado um dos mais modernos sistemas de armas utilizados pela Bundeswehr, as Forças Armadas Alemãs. Ele pode ser disparado do ar por caças, viaja quase a velocidade do som e pode atingir alvos até 500 quilômetros de distância. Por várias vezes, Moscou alertou contra a entrega de sistemas de armas como o Taurus à Ucrânia.

É fabricado pela empresa Taurus Systems, uma parceria entre a empresa alemã MBDA Deutschland (antiga LFK) e a sueca Saab Bofors Dynamics.

Embora os social-democratas de Scholz tenham se posicionado contra a entrega, alguns parlamentares de seus parceiros de coalizão, o Partido Verde e Partido Democrático Liberal (FDP), se declararam a favor da entrega.

Entre esses dissidentes está o parlamentar do Partido Verde, Anton Hofreiter, que tem sido particularmente franco sobre o assunto. Juntamente com o especialista em relações exteriores dos democratas-cristãos Norbert Röttgen, ele escreveu um artigo no jornal Frankfurter Allgemeine no qual acusam Scholz de "derrotismo catastrófico" e de fazer uma declaração falsa. A alegação de Scholz de que as entregas da Taurus tornam a Alemanha parte da guerra, argumentaram, é "factual e juridicamente falsa".

Enquanto isso, a Ucrânia está cada vez mais sob pressão na guerra contra a Rússia - o que também tem impacto na Alemanha, alertou o porta-voz de segurança da União Democrata-Cristã (CDU), Roderich Kiesewetter.

"Deve ficar claro: se Putin não for parado na Ucrânia, o risco de guerra aumentará maciçamente para todos nós", afirmou à DW.

Reino Unido propõe troca de mísseis

Os parceiros da Alemanha na Otan também têm tentado acalmar as preocupações de Scholz.

"A Ucrânia tem o direito à autodefesa consagrado na Carta das Nações Unidas", destacou o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, em fevereiro.

Ele saudou a entrega de mísseis de cruzeiro Storm Shadow e Scalp pelo Reino Unido e pela França, ambos com alcance muito menor do que o Taurus.

Taurus em percurso no céu
Mísseis Tauros são mais poderosos que os Storm Shadow do Reino UnidoFoto: Bundeswehr/dpa

Em uma proposta, o ministro das Relações Exteriores britânico, David Cameron, sugeriu na semana passada que a Alemanha fornecesse Taurus ao Reino Unido, que, por sua vez, enviaria mais de seus mísseis Storm Shadow para a Ucrânia. A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, dos Verdes, indicou apoio à ideia.

Scholz, no entanto, até agora rejeitou o plano. Analistas políticos especulam que sua relutância sugere planos de uma candidatura à reeleição em 2025 e o desejo de aprimorar sua imagem de "chanceler da paz".

"A prudência não é algo que possa ser qualificado como fraqueza, como alguns fazem, mas a prudência é o que os cidadãos têm direito", disse Scholz ao responder perguntas no Bundestag esta semana.

Rede de apoio a Scholz

Mas não são só críticas. Scholz recebeu o apoio de um ex-general da Bundeswehr. Em texto no periódico político Journal für Internationale Politik und Gesellschaft, o ex-general Helmut Ganser alertou que o alvo mais importante dos mísseis Taurus seria a estrategicamente importante ponte de Kerch, que liga o continente russo à Crimeia e rota que abastece toda a frente sul na guerra da Ucrânia.

"Não só em Moscou, mas [...] também internacionalmente, a destruição da ponte seria vista especificamente como uma conquista alemã", escreveu.

Ganser acredita que, embora a destruição da ponte não melhore significativamente a situação militar geral da Ucrânia, pode trazer "riscos incalculáveis" para a Alemanha. O ex-general, portanto, apoia Scholz em sua rejeição às entregas de Taurus, "porque isso arrastaria a Alemanha para a área cinzenta da participação na guerra".

Mesmo que a oposição CDU/CSU tivesse vencido a votação de quinta-feira no Bundestag, a vitória teria sido meramente simbólica, pois não é o Parlamento, mas o governo que tem a palavra final sobre as entregas de armas à Ucrânia.

No debate desta quinta-feira, Rolf Mützenich, líder do grupo parlamentar do SPD, defendeu Scholz, argumentando que este não era um bom momento para fazer apostas políticas.

O partido A Esquerda e o ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) rejeitaram todas as entregas de armas à Ucrânia e, portanto, neste quesito, estão do lado do chanceler.

Scholz também tem o apoio da maioria da população: 61% dos entrevistados em uma pesquisa recente do instituto Infratest-dimap se manifestaram contra as entregas da Taurus para a Ucrânia.