Schröder promete não abandonar o barco
11 de dezembro de 2002Surpreendentemente descontraído, o próprio Schröder garantiu à imprensa em Berlim, nesta quarta-feira (11), que não pretende renunciar: "O chanceler não vai abandonar o barco. Aqueles que alimentaram esta esperança vão se equivocar e os que estariam decepcionados vão se alegrar".
O chefe de governo e presidente do Partido Social Democrático (SPD), Schröder, havia repreendido correligionários, sobretudo o líder da legenda no Parlamento, Franz Müntefering, e alguns governadores social-democratas, que defendem uma introdução do imposto sobre fortunas. Numa reunião do diretório nacional, em Berlim, na segunda-feira (9), Schröder disse: "quem acredita que pode fazer melhor, que o faça". O jornal alemão de maior circulação estampou a seguir a manchete: "Chanceler ameaça com renúncia". Isto foi desmentido pela cúpula social-democrata como "um exagero sem fundamento e maldoso". O ministro da Economia, Wolfgang Clement, declarou-se até entusiasmado com o que chamou de determinação demonstrada por Schröder.
O candidato derrotado por Schröder em setembro, Edmund Stoiber, interpretou a admoestação do chefe de governo "não como cansaço do poder, mas como uma tentativa desesperada de impor disciplina no SPD com a sua reputação de vitorioso nas eleições". Schröder também havia dito que não foi o SPD, mas ele próprio o vencedor da eleição que renovou o mandato da coalizão de governo com os verdes. Stoiber diagnosticou "uma queda maciça de autoridade do chefe de governo". Ele acusou Schröder de não ter diretriz e de ficar pulando de um ponto para outro.
Popularidade em baixa
A popularidade de Schröder está 9,5% menor do que três meses atrás, quando foi reeleito a duras penas. E assim mesmo porque recuperou dois pontos percentuais em relação a duas semanas atrás, segundo uma pesquisa do Instituto Forsa encomendada pela revista Stern. O SPD tem agora o apoio de 29% dos eleitores, enquanto a dupla CDU-CSU, que foi derrotada pela coalizão de Schröder nas urnas, conta com 49% das intenções de voto. O Partido Verde mantém sua posição inalterada, com 11%.
Razões dos bombardeios verbais
Schröder enfrenta dificuldades em vários flancos: reforma fiscal, medidas para geração de empregos e na resistência a uma participação alemã numa intervenção militar dos EUA no Iraque. O chefe de governo é também contra a reintrodução do imposto sobre fortunas, que é defendido abertamente pelos governadores social-democratas da Baixa Saxônia, Sigmar Gabriel, e da Renânia do Norte-Vestfália, Peer Steinbrück.
Ambos governadores esperam arrecadar até 9 bilhões de euros, a partir de 2004, mas Gabriel estaria querendo mesmo sua reeleição, em dois de fevereiro, às custas de Schröder, acusou o ministro da Economia, Wolfgang Clement. A situação é complicada, pois, se o SPD for derrotado na eleição estadual da Baixa Saxônia, minguará ainda mais a minoria da coalizão de governo na câmara alta do Legislativo (Bundesrat) e a oposição poderá inviabilizar todas as reformas planejadas. Também haverá eleição em Hessen, mas o estado já é governado pela opositora CDU.
A população em geral parece frustrada com o alto índice de desemprego de 9,7% da população ativa, mesmo antes de serem implantadas as medidas recomendadas pela Comissão Hartz, criada especialmente para combater o problema número um alemão - o desemprego que atinge cerca de 4 milhões de pessoas.
Verdes lucram com possível guerra
Durante a campanha eleitoral, Schröder deu sua palavra de que a Alemanha não participaria de uma guerra dos EUA contra o Iraque. Depois de reeleito, prometeu liberar o espaço e as bases aéreas alemães para os americanos, no caso de uma intervenção militar para desarmar e destituir o regime de Saddam Hussein.
A promessa desencadeou uma discussão entre social-democratas e verdes. Estes só admitem a liberação do espaço aéreo alemão, mediante um mandato da ONU para uma operação militar americana no Iraque. Com esta contenda, os verdes lucram como reformadores, enquanto os social-democratas engalfinham-se entre si, alguns medem forças com o seu presidente Schröder e enfrentam críticas arrasadoras do empresariado, de aliados tradicionais como os sindicatos e, naturalmente, da oposição.
Por tudo isso e em vista da posição miserável do governo e do seu chefe nas pesquisas de opinião pública, bem como de olho nas próximas eleições estaduais, o ministro da Economia achou boa a repreensão feita por Schröder. De sua parte, Clement recomenda que os social-democratas discutam entre si, de preferência a portas fechadas, em vez de ficarem falando mal uns dos outros.