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Secretário-geral da ONU recebe Prêmio Carlos Magno

30 de maio de 2019

Chamado de "utópico pragmático", o português António Guterres é homenageado por sua contribuição para a integração europeia. Em discurso, ele pede por uma Europa mais forte a fim de evitar uma "nova Guerra Fria".

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Guterres recebe o Prêmio Carlos Magno em Aachen, na Alemanha
Guterres recebe o Prêmio Carlos Magno em Aachen, na AlemanhaFoto: Reuters/T. Schmuelgen

O secretário-geral da ONU, António Guterres, recebeu nesta quinta-feira (30/05) o Prêmio Carlos Magno de 2019, que desde 1950 homenageia personalidades que contribuíram para a integração europeia e para a cooperação entre os países do continente.

A Associação Carlos Magno da cidade alemã de Aachen, que concede anualmente a premiação, considera que o trabalho de Guterres à frente da ONU honra valores europeus como a paz, liberdade e democracia, e se torna ainda mais significativo considerando os desafios aos direitos universais e aos princípios democráticos nos dias atuais.

Tais desafios apenas aumentaram desde que o português de 70 anos sucedeu Ban Ki-moon na chefia da ONU, no início de 2017.

"Me sinto muito honrado", disse Guterres ao receber o prêmio em Aachen. "Sempre serei leal aos mesmos valores que me inspiraram a tentar construir uma Europa unida e democrática, onde devem prevalecer os direitos humanos."

Em seu discurso, o português destacou a importância de uma União Europeia (UE) forte e unida. "Se queremos evitar uma nova Guerra Fria, se queremos uma verdadeira ordem multilateral, então precisamos ter os estados unidos da Europa como um forte pilar para isso", declarou.

Ele acrescentou que a UE é um organismo importante demais para fracassar. "O fracasso da Europa seria inevitavelmente o fracasso do multilateralismo e o fracaso de um mundo onde o Estado de Direito pode prevalecer."

Formado em Física e Engenharia Elétrica pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa, Guterres aderiu ao Partido Socialista (PS) do líder Mario Soares após a Revolução dos Cravos de 1974, e coordenou o escritório da Secretaria de Estado da Indústria até 1976, quando foi eleito para o Parlamento português.

Entre 1980 e 1981 ele atuou na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, onde se envolveu em políticas sobre a migração. Ao final dos anos 1980, assumiu a liderança da bancada parlamentar do PS e, em 1992, se tornou o líder da legenda. Em outubro de 1995, se tornaria primeiro-ministro de Portugal.

Seu período como chefe de governo foi marcado pelo equilíbrio e capacidade de promover o diálogo, ao formar um governo de minoria, através do qual conseguiu administrar o país mantendo boas relações com os demais grupos políticos.

Em seu governo, Portugal se tornou um dos onze Estados-membros da União Europeia a introduzir a moeda comum, o euro, no dia 1º de janeiro de 1999. Guterres, que costumava ser caracterizado na imprensa como um "utópico pragmático", é um dos idealizadores da chamada estratégia de Lisboa, que visa transformar a UE numa das principais zonas econômicas do mundo.

Mais tarde, ele se dedicaria a atuar no contexto internacional e se tornaria assessor sobre questões sociais no Brasil do então secretário-geral da ONU Kofi Annan, que o indicaria em 2005 para chefiar o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur). Sob Guterres, a agência conseguiu se expandir significativamente, chegando a um orçamento anual de 6,1 bilhões de euros, com 9 mil funcionários em 123 países até sua saída, em 2015.

Guterres manteve uma postura crítica aos países mais ricos durante o acirramento da crise global dos refugiados com a guerra civil na Síria, denunciando as péssimas condições dos migrantes sírios e a falta de ação por parte das nações mais desenvolvidas.

Guterres observa inundações nas ilhas de Tuvalu da parte traseira de um avião
Guterres observa inundações nas ilhas de Tuvalu da parte traseira de um avião Foto: UN Photo/Mark Garten

O tema da migração, assim como as mudanças climáticas, continuou no foco de Guterres em sua atuação como secretário-geral. Ele conseguiu estabelecer acordos sobre refugiados e migração que foram aceitos pela maioria dos estados-membros da ONU, em plena era de avanço do nacionalismo. As regulamentações propostas pelo secretário-geral visam melhorar a cooperação internacional nesses temas, ainda que não sejam legalmente obrigatórias.

Guterres denunciou o sofrimento da etnia rohingya sem, no entanto, possuir meios de agir contra a violência promovida pelo governo de Myanmar. Ele também conseguiu promover o diálogo entre as duas partes do conflito no Iêmen. Ambas as crises ainda permanecem não resolvidas, assim como muitos outros conflitos mundo afora.

Guterres continua a trabalhar pela implementação da Agenda 2030 da ONU para o desenvolvimento sustentável, que almeja criar uma parceria global para eliminar a pobreza e reduzir a desigualdade e, ao mesmo tempo, combater as mudanças climáticas.

Ele planeja ainda reformar o modo de trabalho da secretaria-geral da ONU para deixá-la com maior capacidade de agir.

No ano passado, o vencedor do Prêmio Carlos Magno foi o presidente francês, Emmanuel Macron. Em 2017, foi agraciado o historiador britânico Timothy Garton Ash e, no ano anterior, a distinção foi concedida ao papa Francisco.

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