Futebol alemão
4 de outubro de 2007Uma série de fatores tornam a Segunda Divisão da Bundesliga muito especial. Se a média de espectadores por jogo na última temporada da série A foi de 18 mil, nas primeiras rodadas da atual temporada da Segunda Divisão a média foi de cerca de mil a mais. "É a Segunda Divisão mais forte de todos os tempos", ressaltou Bruno Labbadia, ex-jogador da seleção alemã e novo técnico do Greuther Fürth. Até agora, ninguém o contestou.
Não faz muito tempo, a Segunda Divisão era motivo de piadas, em que os jogadores eram ridicularizados como pernas-de-pau desleais. Willi Landgraf, recordista em jogos pela categoria, tinha o apelido Kampfschwein (porco de combate).
Estes tempos, no entanto, pertencem ao passado. "Estamos jogando em estádios da Copa do Mundo e contra grandes clubes", lembrou Claus-Dieter Wollitz, técnico do Osnabrück, que ascendeu da Liga Regional.
Tradição x cult
A atual temporada da Segunda Divisão da Bundesliga é marcada pela participação de clubes de forte tradição no futebol alemão, como o Colônia, Borussia Mönchengladbach, 1860 Munique e o FC Kaiserslautern, todos ex-campeões nacionais e que atuam em estádios de dar inveja a quem joga na Liga dos Campeões.
O St. Pauli, Mainz e Freiburg são clubes "alternativos", já com caráter cult. As cores da Segunda Divisão são defendidas por jogadores das seleções dos mais diversos países, dois dos quais são atacantes alemães: Patrick Helmes, do Colônia, e Oliver Neuville, do Mönchengladbach.
Os técnicos também contribuem para o alto nível de entretenimento, mesmo longe de uma clássica partida. Um deles é o do Colônia, Christoph Daum. Figura de escândalos envolvendo cocaína no passado, casou-se há algumas semanas no centro do grande círculo do gramado de seu clube.
Também o pequeno Koblenz se dá o luxo de provocar manchetes: o técnico Uwe Rapolder, comparado pela revista especializada Rund a um "contrabandista tcheco de carros dos final dos anos 1970", recebeu como assistente Mario Basler, um gênio do meio-campo com fama de preguiçoso para correr, beberrão e com mania de brigão.
Ineditismo na Segunda Divisão
A ascensão de dois clubes de subúrbio, entretanto, é digna de contos-de-fadas. A história de um deles pode ser contada assim: certa vez, o milionário Heinz Hankamer apaixonou-se pelo SV Wehen, que então atuava numa liga inferior nos arredores da cidade de Wiesbaden.
Em 1982, Hankamer elegeu-se presidente e começou a atrair jogadores com seu dinheiro e com vagas em sua empresa. A partir da atual temporada, Wiesbaden tem um clube de futebol profissional, o que poucos notaram talvez porque o clube ainda não tem estádio.
O segundo clube pertence ao bilionário Dietmar Hopp. Como ele não obtivesse o sucesso esperado atuando pelo TSG Hoffenheim, fundou a gigante SAP e começou a investir na contratação de jogadores jovens.
Num fato inédito na história da Segunda Divisão alemã, foram adquiridos, por 20 milhões de euros, o sueco Nilsson e o nigeriano Edu, além do senegalês Demba Ba e do brasileiro Carlos Eduardo, todos integrantes das seleções juniores de seus países. "Ronaldinho não tem chance, pois já passou dos 25", ironiza o técnico Ralf Rangnick.
Mini-Chelsea na Turíngia?
"Será tudo um conto de fadas?", perguntou-se também Rainer Zipfel, presidente do Jena, no Leste alemão. O orçamento do clube, que não chega a nove milhões de euros, deverá receber injeções de rublos. É o que promete o Alpha Invest Group Corporation, um conglomerado russo com sede nas Ilhas Virgens, que pretende investir no clube 20 a 25 milhões de euros nos próximos cinco anos.
Para demonstrar que não estão brincando, num encontro com a direção do clube os representantes da empresa constataram que os problemas da equipe eram o goleiro e o ataque. De imediato, dispuseram 500 mil euros para a contratação de dois jogadores da Geórgia. Uma pequena Chelsea na Turíngia?
O desmembramento da equipe profissional em empresa, na qual os russos teriam 49% de participação, foi vetado pela Liga Alemã de Futebol (DFL).