Nós acabávamos de passar cinco semanas viajando pela Europa, sobretudo pelo norte da Itália e pela Alemanha. Nesse período, nem uma única vez ouvimos falar que alguém tivesse levado tiros, sido assaltado ou vítima de algum tipo de violência.
Mal chegados à Bahia, o quadro mudou radicalmente: primeiro constatamos que a nossa comunidade é a quarta em que há mais assassinatos no Brasil. Num ranking mundial, ela estaria definitivamente entre as dez cidades mais violentas do mundo. Mas isso não é tudo: das dez cidades brasileiras com taxas de homicídio mais altas, seis ficam na Bahia. Duas se situam na minha vizinhança imediata, duas outras só um pouco mais distante.
Há muito estamos acostumados com um aumento da violência no país durante e em torno das eleições. É comum as gangues aproveitarem o vácuo da transmissão de poder para acertarem as contas entre si. Os clãs, milícias, narcos – ou seja, todo o crime organizado – precisam se arranjar com os novos mandatários na política e nas forças de segurança, e vice-versa. Isso pode levar tempo.
Segurança pública não é prioridade
Mas desta vez, nunca vimos uma onda de violência tão forte assim. No domingo, a polícia alvejou "sem querer" um menino de dez anos nas proximidades de uma "boca de fumo", a menos de dois quilômetros da nossa casa. Desde então, residentes revoltados ocupam diariamente a rua multipista por meio dia, resultando em numerosos assaltos aos automóveis e estabelecimentos comerciais da área.
Ao mesmo tempo, voltaram a chegar más notícias do Pelourinho, o bairro antigo de Salvador, uma das principais atrações turísticas do Brasil: mais uma vez uma família de turistas estrangeiros sofreu um assalto violento. Nos últimos tempos isso se repete quase toda semana.
O que são telefones celulares e mochilas roubadas contra os 598 seres humanos assassinados no primeiro semestre na Grande Salvador? Comparando: em Berlim, com uma população comparável, houve em 2022 59 homicídios – o recorde de uma década.
Mas essa violência tem a mesma raiz: há muitos anos os governos não têm nenhum plano para combater a criminalidade absurdamente alta, nenhum político mostra interesse em se destacar com uma iniciativa assim.. Nem mesmo um presidente de extrema direita como Jair Bolsonaro perseguiu um projeto de segurança – a menos que se queira interpretar como "projeto" o seu armamento da sociedade civil.
Mas tampouco o recém-empossado governo Lula conferiu prioridade máxima à segurança, nem durante a campanha eleitoral, nem agora. Parece que também ele se conformou com a falta de segurança. Na Bahia, o governo federal acaba de doar novas viaturas policiais, e ministros discursaram sobre a má integração dos jovens como raiz da violência.
E no entanto é óbvio, e qualquer brasileira ou brasileiro assinaria embaixo: a segurança pública deficiente é o maior obstáculo para o país no sentido de uma sociedade civilizada e bem-sucedida.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.