Rei pede ajuda a premiê
11 de dezembro de 2007Seis meses após as eleições parlamentares de 10 de junho, a Bélgica continua sem um governo. Nesta segunda-feira (10/12), o rei Alberto 2º pediu ao primeiro-ministro Guy Verhofstadt, derrotado no pleito, que encontre uma forma de o país sair rapidamente do impasse em que se encontra e que para isso faça todos os contatos necessários.
O rei encarregou Verhofstadt de formar um governo de transição que resolva as questões pendentes mais urgentes. Ele também deve iniciar as negociações que levem a uma reforma das instituições. Verhofstadt ocupa há seis meses interinamente o cargo de primeiro-ministro enquanto o novo governo não é formado.
O francófono Verhofstadt, que aceitou a missão, ressalvou que ela possui um caráter limitado e temporário. Ele disse que aceitou o pedido do rei porque o país vive uma das crises políticas mais graves das últimas décadas. É a primeira vez nos 177 anos de independência do país que um chefe de governo derrotado nas urnas é chamado para solucionar o impasse na formação do próximo governo.
Leterme continua candidato
O vencedor das eleições passadas, o político democrata-cristão e flamengo Yves Leterme fracassou em duas tentativas de formar um governo de coalizão. No início do dezembro, ele renunciou a formar um governo de democrata-cristãos e liberais porque os flamengos que fazem parte da aliança exigem maior autonomia para a região de Flandres, o que é rejeitado pelos seus parceiros francófonos.
Mas Leterme reforçou, em entrevista ao jornal La Libre, "que é e continuará sendo o candidato do seu partido para o cargo de primeiro-ministro". Depois de suas tentativas fracassadas, ele defende agora a inclusão dos socialistas num novo governo. Mas parte dos seus parceiros de coalizão – os liberais francófonos – rejeita essa proposta.
No último final de semana, Leterme causou polêmica ao acusar a emissora de televisão francófona RTBF de ser tendenciosa e a comparou, de forma indireta, à rádio Mille Collines, que defendeu a morte de tutsis durante a guerra civil em Ruanda, em 1994.
País dividido
A coalizão entre liberais e democrata-cristãos, inicialmente planejada por Leterme, tem uma clara maioria no Parlamento belga: 81 das 150 cadeiras. Mas, em Flandres (norte), tanto liberais quanto democrata-cristãos são flamengos. Na região de Valônia (sul), são francófonos.
Fundamental para o sucesso de um governo conjunto dos liberais e dos democrata-cristãos é um consenso sobre a reforma das instituições estatais. Mas principalmente o partido Nova Aliança Flamenga (NVA), aliado dos democrata-cristãos flamengos, exige mais autonomia para a região de Flandres, o que os francófonos rejeitam.
Verhofstadt também defende a importância da reforma do Estado e afirma que o primeiro passo para a formação do novo governo é saber como chegar à abertura de negociações necessárias para essa reforma. Segundo ele, o problema só será solucionado se todas as partes reconhecerem a gravidade da situação e assumirem sua responsabilidade.
Em torno de 60% da população belga é composta de flamengos, que habitam a região de Flandres, no norte do país. O segundo maior grupo, quase 40%, é o dos francófonos, que moram no sul. O norte é mais rico do que o sul, e muitos eleitores flamengos afirmam que seus impostos são usados para subsidiar o sistema de previdência social do sul. (as)