Seleção alemã pedalou em 2019, mas não saiu do lugar
20 de novembro de 2019Apesar da classificação relativamente tranquila para a Euro 2020 e também da convincente vitória sobre a Irlanda do Norte no último jogo do ano, ainda não é possível chegar a conclusões definitivas sobre a capacidade da Alemanha de participar desse torneio com dignidade e à altura das suas melhores tradições.
O próprio técnico Joachim Löw, que dirige a equipe pela oitava vez numa competição internacional, não sabe direito a quantas o time anda por conta de sua frequente instabilidade. Ele mesmo confessou recentemente: "Não nos vemos como favoritos. Não adianta alimentar muitas expectativas”.
Sinal dos tempos. Talvez seja por causa disso que nas últimas três partidas em casa, boa parte da torcida alemã preferiu ficar confortavelmente instalada na sua sala de estar tomando uma cervejinha do que pagar até 80 Euros por um ingresso.
No amistoso contra a Argentina em Dortmund, por exemplo, apenas 45.000 torcedores apareceram no Signal Iduna Park. Nas últimas duas partidas pelas eliminatórias da Euro, contra Belarus e Irlanda do Norte, o público também não lotou as arenas. Em Mönchengladbach compareceram apenas 33.000 espectadores e em Frankfurt foram 42.000.
Löw está no comando da seleção há treze anos e nunca, durante todo esse período, tão poucos torcedores foram aos estádios para ver a equipe como em 2019 – em média apenas 37.000 por jogo. O desastre na Copa da Rússia e a horrorosa campanha na Liga das Nações em 2018 deixaram marcas indeléveis no coração da torcida que tem muitas reclamações a fazer e isto não apenas no campo esportivo.
Ter o prazer de ver a seleção jogando in loco ficou caro para o torcedor comum: "É muito dinheiro. São até 80 Euros por um ingresso mais 130 pela nova camisa, o custo do transporte, além dos comes e bebes, enfim, está tudo muito caro”, conta um fã que veio de Hamburgo para ver a seleção jogar em Mönchengladbach.
O torcedor já não aguenta mais as exageradas e artificiais campanhas de marketing em torno da seleção que dá a impressão de se tornar uma marca a ser comercializada: ”Die Mannschaft”. Acrescentem-se ainda os recentes escândalos de corrupção envolvendo dirigentes da Federação Alemã de Futebol (DFB), como por exemplo, o ex-presidente Reinhard Grindel que, diante das suspeitas levantadas, viu-se na contingência de renunciar ao cargo. É a receita pronta para o esvaziamento dos estádios.
Pode até ser que o torcedor não teria dado tanta importância aos fatores citados se a seleção ao menos apresentasse um futebol que o fizesse sonhar como fez em 2014. Acontece que o time oscila demais.
A rigor, dos dez jogos disputados em 2019, em apenas dois a equipe jogou relativamente bem. Foi contra a fraquíssima Estônia em junho na vitória por 8 a 0 e, nesta terça-feira, contra uma desmotivada Irlanda do Norte que levou uma sapatada por 6 a 1. De resto, houve apresentações apenas regulares, pautadas por assustadoras quedas de rendimento no decorrer de uma mesma partida.
Consequentemente, pela primeira vez nos últimos dez anos, a Alemanha não é cotada como uma das favoritas ao título numa competição internacional. França, Inglaterra, Bélgica, Espanha e Holanda, pelo que mostraram nas eliminatórias, estão bem mais adiantadas do que os alemães. Todas já têm uma equipe montada. Se o torneio começasse amanhã, estariam prontas para entrar em campo.
Não é o caso da seleção alemã. A rigor, Löw até agora não sabe como vai montar seu time titular. Faltam seis meses e apenas duas partidas amistosas para o técnico definir o elenco que levará para Seefeld no Tirol onde, no hotel mais luxuoso e bucólico dos Alpes austríacos, a seleção se concentrará durante duas semanas para a Eurocopa.
Joachim Löw não fez a renovação que poderia ter feito logo depois de ter conquistado a Copa das Confederações em 2017. Perdeu um ano precioso e pagou um alto preço por sua teimosia. Ficou pedalando sem sair do lugar e tentará, a partir de agora, recuperar o tempo perdido.
A verificar a partir de agora se a bela partida contra a Irlanda do Norte foi um primeiro passo nessa direção ou apenas mais uma pedalada que, no fim e ao cabo, não leva a lugar nenhum.
Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
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