Selfie no museu

Com as "selfies", o tema da autorrepresentação ficou tão atual que até ganhou espaço num museu. A mostra "Rubens, du und ich" é resultado de um projeto interativo com o objetivo de atrair o público juvenil ao museu Wallraf, em Colônia. Jovens entre 14 e 24 anos reuniram-se em sessões fotográficas, e o museu expõe agora as melhores imagens, como esta divertida tirada por três amigas.

Hoje comum e de certa forma banalizado, o autorretrato é tema artístico desde o Barroco. Este quadro do flamengo Peter Paul Rubens – que inspirou o título da mostra em Colônia – retrata o pintor com um círculo de amigos de Mântua, na Itália. A pintura de 1605 levou dois anos para ser concluída, enquanto hoje, a produção, circulação e consumo dos autorretratos são quase instantâneos.

Mais de 400 anos depois da cena original, jovens deixam-se inspirar e posam em formação semelhante ao círculo de amigos de Rubens. Durante o projeto interativo realizado pelo museu Wallraf, eles não somente tiraram "selfies" como também reconstruíram cenas retratando o tema da amizade.

Muitas vezes as "selfies" dividem opiniões. Até mesmo entre casais. Julia Hendel (20) usa o celular como um diário. ''Acho muito bom olhar uma foto e lembrar-me de como estava me sentindo naquele dia." Já o namorado Alex Kalapun (19) fica irritado com os autorretratos nas redes. ''Me deixa nervoso ver tudo o que meus amigos fazem o tempo inteiro, mas não consigo abrir mão. É como um vício.''

Polêmica à parte, fotografar a si mesmo já virou hábito entre jovens do mundo todo, sobretudo garotas. A pesquisa independente Selfiecity analisou 3.200 autorretratos feitos em Berlim, São Paulo, Nova York, Moscou e Bangkok. Uma das principais conclusões: em média 65% das "selfies" são tiradas por mulheres.

As netas do parisiense Pierre Darbeda (63) também adoram fotografar a si mesmas. A pesquisa Selfiecity revelou que a média de idade dos que tiram "selfies" é de 23,7 anos. "Estou velho para isso, mas também não me incomoda que minhas netas se fotografem o tempo todo e acredito que essas imagens podem até virar arte, como vemos aqui", observa Pierre, referindo-se à mostra em Colônia.

As holandesas Gerrie Fouwels (63) e Ria Theunissen (72) orgulham-se da foto que acabam de tirar. Ela foi feita numa cabine fotográfica ao visitarem a exposição em Colônia. As melhores amigas tiraram seu primeiro retrato juntas há 50 anos, em 1964. Hoje, ambas são avós e adoram posar com seus netos para "selfies".

A estudante chinesa Liu Liu (22) acredita que as "tradições" do autorretrato na China e na Inglaterra, onde vive atualmente, têm diferenças. "As chinesas fazem 'selfies' com maior frequência. Uma das situações preferidas são encontros entre amigos nos karaokês. Já as inglesas são mais descontraídas e se fotografam constantemente em meio a festas e baladas", observa a estudante.

O ilustrador e artista Michael Wertz (28) elogia a iniciativa do museu Wallraf. Para ele, que já foi grafiteiro, assim como o grafite, os autorretratos são hoje parte da cultura jovem e, por isso, enfrentam certa resistência e preconceito. Mas as "selfies" podem vir a se tornar arte de qualidade, acredita.

A exposição "Rubens, du und ich" ("Rubens, eu e você") fica em cartaz no museu Wallraf de Colônia até o dia 17 de agosto. A mostra é interativa e os visitantes também podem participar. Basta entrar na cabine fotográfica e as fotos feitas no local circulam imediatamente nas telas do museu e na internet – exatamente como as "selfies".