Sensação da política alemã, Partido Pirata mira agora o Bundestag
27 de março de 2012"Limpar a área para mudar!": o slogan da campanha eleitoral foi escolhido para lembrar os ataques dos piratas de séculos passados. E parece ter acertado em cheio nas expectativas do eleitorado do menor estado alemão, o Sarre. Os piratas receberam 7,4% dos votos na eleição regional, o que garantiu a eles quatro assentos na Assembleia Estadual.
No passado, o partido chamou a atenção com questões relacionadas ao mundo da internet. Os piratas defendiam uma maior liberdade de informação e mais proteção de dados na rede. "Essas são questões que até agora foram pouco tratadas pelos partidos tradicionais", disse à DW o cientista político Gero Neugebauer, da Universidade Livre de Berlim.
O partido não pretende, todavia, ser visto apenas como uma união de ativistas da internet, mas como uma organização político-partidária completa. "Na Alemanha há o desejo por um partido social-liberal, e as pessoas no Sarre entenderam que nós somos esse partido", argumentou Aleks Lessmann, porta-voz dos piratas em nível nacional.
Um programa partidário abrangente existe, no entanto, somente desde dezembro. As exigências: uma renda básica obrigatória para todos, a separação completa entre Estado e Igreja e a liberalização de todas as drogas. "Nós também defendemos o direito à educação gratuita e a proteção dos animais", disse Lessmann. Segundo ele, os membros do partido ainda estão tentando encontrar posições comuns no campo da política econômica e financeira. "Isso ainda está por vir", disse Lessmann.
Origem na Suécia
Na opinião de Neugebauer, essa abertura programática seria justamente o segredo do sucesso dos piratas. "Eles não dizem desde o início: 'Nós sabemos tudo. E caso vocês não entendam algo, é porque são burros'. Pelo contrário, eles dizem: vamos aprender juntos".
Os piratas já contam com 22 mil filiados em todo o país. Eles têm na maioria menos de 35 anos, se interessam por questões de política de internet e estão em busca de uma alternativa aos partidos tradicionais.
A principal candidata do partido no Sarre, Jasmin Mason, tem apenas 22 anos e se comunica com seus correligionários principalmente através das redes sociais Facebook e Twitter. "Vocês foram ótimos", foi o comentário dela no Twitter sobre a vitória eleitoral, direcionado aos apoiadores.
Os piratas têm origem na Suécia. Lá, o partido foi fundado em 2006 como um movimento de protesto para reformar leis sobre propriedade intelectual. O site Pirate Bay, através do qual os usuários podiam trocar músicas e vídeos, estava então na mira do Ministério Público sueco. O site foi processado pela indústria do entretenimento, que temia perdas financeiras em consequência de downloads ilegais. Para defender a "baía virtual" dos piratas, os ativistas suecos fundaram o partido.
Logo depois surigiram ramificações em vários países europeus, inclusive a Alemanha, onde os piratas ficaram conhecidos, há quatro anos, quando relatórios sobre a vigilância ilegal de telefonemas através da internet, elaborados pelo partido, foram divulgados pela Secretaria da Justiça da Baviera. Pouco tempo depois, os piratas estavam nas manchetes com uma petição online contra a censura na internet.
O sucesso não demorou a chegar: logo o partido ganhou os primeiros assentos nas câmaras e conselhos municipais. Nas eleições nacionais de 2009, alcançaram 2% dos votos. Em setembro passado, foram eleitos pela primeira vez para uma câmara de representantes em nível nacional: a Assembleia Legislativa de Berlim.
Rumo ao governo federal
Nas eleições estaduais do Sarre, o partido foi apoiado principalmente pelo público jovem – 23% dos eleitores que votaram pela primeira vez optaram pelo Partido Pirata. Mas apoiadores de partidos tradicionais também se deixaram persuadir. Segundo uma pesquisa da emissora de TV ZDF, a novata agremiação conseguiu angariar 15% de seus votos entre ex-eleitores da União Democrata Cristã (CDU). O mesmo percentual vale para ex-eleitores do Partido Social Democrata (SPD) e do partido A Esquerda. Os verdes cederam 6% de seus eleitores aos piratas.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, que também preside a CDU, disse que os piratas são uma força política importante, com a qual se deve lidar. "Em médio prazo, precisamos nos acostumar com o fato de que eles existem", declarou a secretária-geral do SPD, Andrea Nahles, acrescendo que ainda seria cedo para falar em coligação. Cem Özdemir, líder do Partido Verde alemão, sublinhou que os piratas devem, primeiramente, mostrar a que vêm.
A repercussão agrada aos membros do novo partido. "Os outros partidos têm agora que nos levar em conta", disse o porta-voz dos piratas. "Eu tenho certeza que vamos entrar no Bundestag em 2013", afirmou Lessmann.
Autora: Friederike Schulz (ca)
Revisão: Alexandre Schossler