Sequestro de jovens expõe dificuldade da Nigéria de combater radicais
8 de maio de 2014O grupo terrorista islâmico Boko Haram vem espalhando medo e insegurança na Nigéria. Há muito seus atentados – que chegam a ser vários no intervalo de uma semana – não se restringem mais ao norte do país. Eles já atingiram a capital Abuja, onde por duas vezes o alvo foi o subúrbio de Nyanya.
Os moradores da área do mercado, próximo ao local do segundo ataque, se mostram temerosos e desorientados, reclamando da total falta de segurança no país e apelando por ajuda internacional para coibir a violência. "A Nigéria tem um governo e um presidente", comenta um dos passantes. "Ele tenta, sim, mas sozinho, não consegue."
Alguns nigerianos ainda defendem um diálogo com o Boko Haram, que luta pela instalação da sharia (a lei islâmica) em toda a Nigéria. Em 2013, chegou a ser criado um comitê de anistia para esse fim, mas seu sucesso foi nulo, em grande medida porque o diálogo sempre foi rejeitado pelos próprios terroristas.
Ainda assim, Hildegard Behrendt-Kigozi, diretora da alemã Fundação Konrad Adenauer em Abuja, mantém um otimismo cauteloso: ela acredita que se possa dialogar com partes do grupo, mas não está certa que isso seja possível, de uma maneira geral. Importante, para ela, é que as negociações transcorram rapidamente, "para que os atentados não sigam se intensificando e se espalhem por todo o país".
Mentores por trás dos atentados
O presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, por sua vez, está entre os que não veem futuro nas tentativas de negociar com o Boko Haram. No último domingo (04/05), durante uma rodada de debates com a imprensa, ele disse que o diálogo não é possível porque o grupo radical não tem um rosto e, portanto, nenhum interlocutor.
Para parte da população, porém, tal argumentação é, antes de tudo, uma evasiva. Suran Darba, natural do norte do país, lembra que o grupo fundamentalista tem uma origem, mas como o governo nada fez para impedir que se alastrasse, agora os que estão por trás das ações terroristas podem se mover livremente.
Para o nigeriano, a solução seria descobrir quem são os apoiadores dos terroristas. Sem dinheiro, afirma, eles não teriam mais como comprar armas ou automóveis, por exemplo.
Já há um bom tempo correm numerosas especulações sobre quem poderiam ser os mentores do Boko Haram: entre os suspeitos principais, também se mencionam políticos influentes do norte da Nigéria.
No momento, contudo, para muitos a questão mais urgente é o que acontecerá com as mais de 200 estudantes da cidade de Chibok, em poder do Boko Haram há mais de três semanas. Agora, o líder fundamentalista Abubakar Shekau ameaça vendê-las como escravas, o que torna uma ação urgente necessária – mas também perigosa.
Hildegard Behrendt-Kigozi teme que os fundamentalistas utilizem as meninas como escudo humano, o que torna extremamente arriscada qualquer operação militar. Também por esse motivo a diretora da Fundação Adenauer considera as negociações como o caminho mais seguro. Ela não descarta, inclusive, uma troca das meninas por presos do Boko Haram.
Forças Armadas em xeque
Em contrapartida, o autor Emmanuel Nnadozie Onwubiko, da organização de direitos humanos Human Rights Writers' Assocation of Nigeria, é a favor de que unidades especiais dos Estados Unidos auxiliem na libertação das jovens – um passo que já está sendo estudado. "Precisamos de parceiros internacionais na luta contra o terrorismo", afirma.
Mas, para a luta de longo prazo, isso não bastará: na visão de Onwubiko é preciso também militares nigerianos muito mais bem treinados. Prova disso é o recente ataque terrorista em Gamboru Ngala, próximo à fronteira com o Camarões, no qual cerca de 300 pessoas teriam perdido a vida.
"Eles chegam sob o manto da noite, atacam e desaparecem de novo. Eles estão armados e são muito bem treinados", descreve o ativista dos direitos humanos. Assim, para os soldados da Nigéria é praticamente impossível encará-los em combate. Os militares têm, sobretudo, experiência em técnicas bélicas tradicionais, mas não em enfrentar terroristas de alta mobilidade.
Entretanto é duvidoso que se consiga vencer os radicais islâmicos apenas com missões militares. Há quase três anos, vigora o estado de emergência em Borno, Yobe e Adamawa, estados do norte nigeriano. A medida foi decretada a fim de possibilitar grandes intervenções das Forças Armadas. Mas após as primeiras vitórias nada mais ocorreu: os grupos terroristas se retiraram para territórios afastados, onde continuam perpetrando seus atos criminosos, sem encontrar resistência.