Resgate histórico
20 de janeiro de 2011Reinhard Gehlen, foi general-de-brigada do Exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial e chefe da inteligência militar das forças militares no fronte leste. Após ser espião de Hitler, passou a prestar serviço para os Estados Unidos.
Gehlen trabalhou para os norte-americanos, ajudando na organização do serviço secreto alemão durante o pós-guerra. Mais tarde, esse órgão iria se tornar o atual Serviço Federal de Informações (BND, na sigla em alemão).
Com o início da Guerra Fria, Gehlen não hesitou em recrutar antigos funcionários do regime nazista, responsáveis pelo Holocausto, para espionar contra a União Soviética. Antigos membros da SS e da Gestapo ganharam nova identidade e iniciaram uma nova carreira no serviço secreto alemão.
Sinal de mudança
Em 1965, uma investigação interna detectou cerca de 200 antigos nazistas empregados no BND. Cerca de 70 deles foram considerados inapropriados para continuar em serviço e foram demitidos. Além dessas informações, nada mais foi tornado público. Mas isso deve mudar. Nos próximos quatro anos, quatro historiadores irão penetrar na história do BND, focalizando o período entre 1945-1968 – a era de Reinhard Gehlen. Os professores Wolfgang Krieger, Jost Dülffer, Rolf Dieter Müller e Klaus-Dietmar Henke já iniciaram seus contatos.
No início dos anos 1990, Henke chefiou o departamento de pesquisas dos arquivos da Stasi, polícia secreta da antiga Alemanha Oriental. "Foi um trabalho emocionante", afirmou o historiador. "Mas a nova aventura promete ser muito maior".
Isso porque ninguém fora do BND jamais teve acesso aos documentos do período imediatamente posterior à Segunda Guerra. "O fato de tal autoridade estar tomando este passo é um acontecimento importante", disse Henke. "E isso talvez sinalize uma mudança cultural".
Uma nova geração
Mais transparência é algo que o atual presidente do BND, Ernst Uhrlau, vem incentivando há muito tempo. Aos 64 anos, próximo de se aposentar, Urhlau disse que chegou a hora de um resgate histórico. Para ele, existe no BND uma nova compreensão do que deva representar um serviço de inteligência dentro de uma sociedade democrática – o que inclui ser objeto de exame minucioso. "E eu acredito que exista uma base de tolerância e também a disposição para lidar com críticas e erros, o que não era o caso da geração anterior", disse Uhrlau.
Os próximos passos no processo de resgate do passado nazista de antigos funcionários do BND serão tomados por um grupo interno de trabalho. Ernst Uhrlau, que está no BND desde 2005, disse todavia que o processo tem encontrado obstáculos. Ele mencionou sua tentativa de inserir o renomado historiador Gregor Schöllgen no projeto.
Os esforços falharam devido a desentendimentos entre Schöllgen e a Chancelaria Federal, que supervisiona as agências de inteligência do país, em torno da garantia de acesso ilimitado a arquivos confidenciais como também no tocante a possibilidades de publicação e apoio financeiro.
Agora, em uma segunda tentativa, espera-se que a Chancelaria faça uma concessão e garanta o acesso a dossiês confidenciais. Segundo Henke, o acesso a esses documentos secretos é condição imprescindível para o sucesso do projeto.
Projeto histórico
Só que, diferentemente da polícia secreta da extinta Alemanha Oriental, o serviço de inteligência BND é realidade hoje na Alemanha. Por isso, o assunto se tornará delicado quando chegar a hora de decidir sobre o que poderá ser publicado.
Embora Uhrlau garanta que os historiadores poderão trabalhar de forma completamente independente e que os arquivos serão publicados sem limites, ainda não há planos para uma abertura geral dos documentos do BND. A agência disse que a decisão será tomada em cada caso, de acordo com a legislação vigente, a proteção das fontes e a privacidade das pessoas.
Ernst Uhrlau afirmou que nem o BND nem a Chancelaria Federal podem se dar o luxo de falhar novamente em relação ao passado do serviço de inteligência. "Este é um projeto histórico", disse. "Muito coisa interessante deve ser esperada para os próximos dez anos e para depois".
Autora: Vanja Budde (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer