Pagos por Kadafi
5 de abril de 2008
O Serviço Federal de Informações (BND) negou qualquer conivência com o escândalo dos policiais alemães envolvidos em treinamentos sigilosos na Líbia. "O BND não prestou assessoria, nem acompanhou treinamento algum", declarou um porta-voz do serviço secreto, em Berlim. O BND afirma não ter tido conhecimento das atividades de uma empresa particular de segurança.
Com isso, o serviço secreto alemão desmentiu um relato do diário Berliner Zeitung, segundo o qual o BND teria acompanhado o treinamento particular de forças de segurança líbias entre 2005 e 2007.
Acusações da imprensa mobilizam políticos
Apesar de as acusações terem sido terminantemente desmentidas, o assunto deverá ser discutido pelo Parlamento alemão em breve. Deputados de diversos partidos exigiram a criação de uma comissão parlamentar de controle dos serviços de inteligência.
"Só a menção do nome Líbia já deveria ser motivo de alarme geral", declarou o vice-líder da bancada democrata e social-cristã, Wolfgang Bosbach. O deputado liberal Max Stadler considera urgente a necessidade de esclarecer a questão. Um porta-voz do governo alemão assegurou que o caso será devidamente investigado.
Pagos pelo regime de Kadafi
Segundo relatos da imprensa, cerca de 30 policiais alemães, um soldado e um especialista ligado ao Grupo 9 da Guarda de Fronteira (GSG-9), unidade antiterrorista da Policia Federal Alemã, treinaram policiais para o regime de Muammar Kadafi.
Investigações da Promotoria Pública de Düsseldorf revelaram que policiais alemães aposentados e na ativa foram pagos pelo governo líbio para treinarem forças de segurança entre 2005 e 2007. Tudo teria ocorrido sem o conhecimento das autoridades alemãs. Um processo disciplinar já foi aberto contra oito policiais de Colônia, Bielefeld e Essen.
Embaixada em Trípole informada?
De acordo com a revista Der Spiegel, um dos treinadores da operação clandestina afirmou em seu depoimento que diplomatas alemães na Líbia teriam sido informados em detalhe sobre o ocorrido.
O Ministério do Exterior não confirmou o dado – veiculado pela revista Der Spiegel – de que a Embaixada alemã em Trípole teria tido conhecimento da operação clandestina.
Ministério da Defesa sob pressão
Segundo o diário berlinense Tagesspiegel, um dos envolvidos fazia parte da guarda pessoal do Ministério da Defesa. Só restaria saber se o policial em questão também teria sido guarda-costas do ministro da Defesa Peter Struck (SPD), de algum secretário de Estado ou de um comandante de alto escalão das Forças Armadas.
Considerando que os guarda-costas são submetidos a um rigoroso esquema de segurança, surge a suspeita de que o Ministério da Defesa já teria sido informado há tempos sobre as a participação alemã no treinamento de policiais na Líbia.